“Escrevo para compreender a morte“, diz Drauzio Varella

O livro reúne relatos saborosos e, por vezes, tristes sobre comportamento, questões médicas, cotidiano de presídios ou da juventude do autor

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"Para exercer a profissão", diz o oncologista e colunista da Folha de S.Paulo, Drauzio Varella, "você tem que estar atento ao outro: como se veste, como se comporta, o que diz, como reage. Quanto mais informações tiver sobre a pessoa, melhor será o resultado". Drauzio fala de como deve ser um médico, mas os atributos encaixam-se com perfeição à ideia que ele faz do perfil de um escritor. "As duas atividades guardam uma relação muito próxima. Por isso existe essa necessidade de escrever. Não é por acaso que grandes escritores foram médicos." O predileto de Drauzio é Tchekhov (1860-1904). Do mestre russo ele nunca esqueceu um conselho dado ao também escritor Gorki (1868-1936): "A arte é para ser apreendida num relance" e deve ser direta e objetiva. Mais uma prova desse exercício chega amanhã às livrarias com "A Teoria das Janelas Quebradas", que traz crônicas publicadas na Ilustrada da Folha nos últimos dez anos. O livro reúne relatos saborosos e, por vezes, tristes sobre comportamento, questões médicas, cotidiano de presídios ou da juventude do autor, hoje com 67 anos. "Às vezes a ideia surge de uma frase, de um tipo físico, do jeito de alguém falar. Coisas que guardamos com o passar do tempo." Drauzio nunca havia pensado em publicar até ter pisado pela primeira no presídio do Carandiru, em 1989, como voluntário de um trabalho de prevenção à Aids. Dez anos depois, as histórias da cadeia e de presos como Sem-Chance e Majestade ganharam as páginas de "Estação Carandiru". Vitória na roleta Sucesso espontâneo, o livro fez de Drauzio "um escritor da noite para o dia". "Sabe aquele cara que nunca jogou na vida e que na primeira vez na roleta já aposta no número certo? Comigo foi assim." Em 2000, a obra ganhou três Prêmios Jabutis, incluindo o de melhor livro do ano. A experiência do trabalho na cadeia foi tão gratificante que hoje Drauzio é voluntário na Penitenciária Feminina de Santana. Já os livros seguintes provaram que o sucesso não era apenas sorte de principiante. Em obras como "Por um Fio" (2004) e "O Médico Doente" (2007) percebe-se a mesma sensibilidade para lidar com o que Drauzio define como a maior contradição enfrentada pelo homem: a morte. Mais que um conceito, o fim da vida é um dilema real e constante para o oncologista, que trabalhou por 20 anos no Hospital do Câncer. Formado em medicina pela USP em 1967, desde o início sentiu-se atraído pelos casos mais graves. "Hoje percebo que me encaminhei sempre para as situações-limite. Por isso resolvi tratar de pacientes com câncer. Acho que por isso também fui trabalhar na cadeia. Lá tem muito deste limite também, da restrição da liberdade e das consequências da restrição." A experiência profissional, contudo, não fez da morte um tema menos duro. "Nunca nos acostumamos. Isso é torturante, mas é inerente à profissão. Acho que escrever ajuda a refletir sobre isso, a nos conhecermos e a lidarmos melhor com essas situações."



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