Filha de Mário Lago se diz “enojada” com premiação de Bonner no Faustão

Enquanto isso, no Facebook, a filha de Mário Lago, Graça Lago, fazia um desabafo recheado de críticas ao jornalismo da emissora.

|
FACEBOOK WHATSAPP TWITTER TELEGRAM MESSENGER

No último domingo (21), William Bonner foi agraciado com o Troféu Mário Lago 2014, durante o programa "Domingão do Faustão", e recebeu o prêmio das mãos da atriz Fernanda Montenegro,  vencedora do ano passado.

Ao receber o troféu, Bonner assistiu a um VT --no qual mostra o início de sua carreira, pela Rádio USP, e o tempo em que trabalhou pela TV Bandeirantes--, foi aplaudido por jornalistas da Globo e ouviu uma homenagem feita por amigos que conhecem o outro lado do âncora.

Enquanto isso, no Facebook, a filha de Mário Lago, Graça Lago, fazia um desabafo recheado de críticas ao jornalismo da emissora.  "Meu pai, Mário Lago, merece respeito. Enojada e revoltada com a farsa que foi o Prêmio Mário Lago 2014. Com a audiência do JN despencando, o premiado foi o editor geral do panfleto global. E tome elogios ao jornalismo da Globo, à "ética, lisura e imparcialidade" do JN, à maneira "firme, mas respeitosa" como Bonner conduziu as entrevistas com os presidenciáveis, ao serviço prestado pelo JN à moralização do país... E tome pau nas redes sociais "instrumentalizadas pelos partidos" para atacar a globo e seu jornalismo. Nojo. Lá no infinito papai e mamãe devem ter ficado muito revoltados. E atenção, Rede Globo, não sou instrumentalizada por ninguém ou por nada. Sei pensar, refletir, fazer escolhas, opinar, me posicionar", escreveu Graça em seu perfil.

Ironicamente, em seu discurso durante o Faustão, Bonner reclamou da intolerância política e ideológica em redes sociais. "O jornalismo da Globo amadureceu muito com a própria democracia brasileira. Desde a campanha eleitoral de 2002, que nós realizamos essas entrevistas. É curioso, porque desde 2002 todos os candidatos foram tratados, assim, de uma forma rigorosa. O que eu posso observar aqui é que, com as redes sociais, também embutem outro problema em si: os partidos políticos instrumentalizaram com robôs que estão ali para insultar outros partidos e insultar a imprensa, que faz apenas o seu trabalho. A intolerância política e ideológica que nós experimentamos neste ano foi muito ruim e ela esteve muito presente em redes sociais."

Nesta quarta (24), Graça explicou porque criticou a premiação. Ela acredita que ao darem o troféu a William Bonner, editor-chefe do "Jornal Nacional", a Globo transformou o prêmio em um ator político "Ele não é um artista", disse.

Morto aos 90 anos, em 2002, o ator e poeta Mário Lago defendia idéias comunistas e era militante político, o que levou sete vezes à prisão. Ele foi casado com Zeli, filha do militante comunista Henrique Cordeiro, e teve cinco filhos. Em 1989 filiou-se ao Partido dos Trabalhadores e em 1998 participou como âncora dos programas eleitorais Lula à presidência da República.

Graça explica que achava o Troféu Mário Lago, criado em 2002, ano que o ator morreu, uma homenagem bacana. "Nada grandioso, nem um pouco espetacular, apenas um prêmio corriqueiro de uma emissora de TV (onde ele trabalhou muitos anos) e destinado a homenagear artistas, principalmente atores... Nunca nos consultaram sobre isso, mas confesso que fiquei profundamente emocionada quando, passados sete meses da morte de papai, foi anunciado o prêmio, com um belo clipping sobre a trajetória dele e dedicado à grande atriz e pessoa de Laura Cardoso."

De 2002 até 2013, todos os premiados foram artistas. Depois de Laura Cardoso vieram: Paulo José, Glória Menezes, Tarcísio Meira, Tony Ramos, Lima Duarte, Glória Pires, Gilberto Gil, Antônio Fagundes, Hebe Camargo, Regina Duarte, Roberto Carlos e Fernanda Montenegro.

William  Bonner, âncora e editor-chefe do "Jornal Nacional" foi o primeiro jornalista a levar o troféu. "Mas, desta vez, foi tudo diferente, foi tudo armado e instrumentalizado (como quer o Bonner) para fazer da premiação um ato político, de defesa das orientações facciosas da Globo e de seu principal (embora decadente) telejornal. Foi uma pretensa maneira de usar o prêmio para abafar as críticas que a partidarização do JN e de seu editor/apresentador vêm recebendo," escreveu Graça referindo-se à cobertura do telejornal durante o período eleitoral.

Ao criticar, ela deixa claro que tem 50 de militância política e 46 de jornalismo. "Em tudo o prêmio fugiu aos seus propósitos originais. A começar, o Bonner não é um artista, a não ser na arte de manipular e omitir os fatos", cutuca, ao mencionar as entrevistas feitas com os presidenciáveis no "Jornal Nacional".

"Ouvir o Bonner criticar as redes sociais revirou o meu estômago. Ouvir o Bonner chamar os que o criticam, e à Globo, de robôs instrumentalizados é inqualificável. É um atentado à democracia. Tudo demonstra que o prêmio, criado talvez até por força de uma admiração por meu pai, foi usado este ano politicamente, para proteger com a respeitabilidade e memória de Mário Lago o que não tem respeito, nem nunca terá. Se a intenção foi política, politicamente me manifestei."

Ao final, Graça Lago lembra que seu pai, homem de esquerda, sempre teve o respeito e a admiração de Roberto Marinho. "No final dos anos 60, o Exército informou à Globo que queria papai como apresentador das Olimpíadas do Exército. Seria uma maneira de humilhá-lo, de jogar no lixo a sua biografia. Roberto Marinho recusou o pedido, justificando da seguinte forma: 'se o Mário recusar, terei que demiti-lo; se o Mário aceitar, perderei o respeito por ele'. Meio século depois, a Globo tentou jogar no lixo a biografia do meu pai."




Participe de nossa comunidade no WhatsApp, clicando nesse link

Entre em nosso canal do Telegram, clique neste link

Baixe nosso app no Android, clique neste link

Baixe nosso app no Iphone, clique neste link


Tópicos
SEÇÕES