Thelma Assis: ‘Quero ser esse incentivo que mulheres pretas precisam’

Médica diz que não vai abandonar a profissão, fala sobre lutas contra o racismo e adianta planos de levar o empoderamento e representatividade a novas gerações

| Thelma — Foto: Isabella Pinheiro/Gshow
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Logo nas primeiras semanas dentro da casa do BBB, ela foi taxada de planta por alguns participantes. Mas em doses certeiras Thelma mostrou toda a sua força dentro do reality. Com a precisão cirúrgica que só os médicos têm, ela levantou bandeiras, não teve medo de dar sua opinião e chegou à final do reality show como a favorita do público. A campeã conquistou R$ 1,5 milhão e se tornou referência para toda uma nova geração com muito brilho, maestria e carisma que só o samba é capaz de promover.

“Não sou atriz e muito menos cantora, mas levar a minha mensagem de superação é gratificante”, comemora a médica anestesiologista da periferia de Limão, em São Paulo. De palavra firme, ela fala de seus novos planos pessoais e profissionais, ao mesmo tempo em que se mostra preocupada com o mundo em quarentena por conta da pandemia do coronavírus. Confira entrevista! Informações do Gshow.

Thelma — Foto: Isabella Pinheiro/Gshow 

O jogo perfeito

De falta de emoção no BBB, Thelma não pode se queixar. Afinal, foram quatro paredões, duas lideranças e um monstro cercado de polêmicas. A experiência mais completa de sua vida, como ela mesmo define, exigiu diferentes estratégias no decorrer do jogo.

“Primeiro observei as atitudes, depois me aproximei com quem me identificava e passei a formar opiniões baseadas em condutas dentro da casa. É um jogo que te deixa inseguro porque você é julgado pelo outro e também julga o tempo todo. Ser injusta me preocupava e eu ficava angustiada porque precisava refletir demais e dar tempo para ver se eu estava no caminho certo ou errado”, explica ela.

Milionária

E o prêmio de R$1,5 milhão já tem destino. “Vou investir de uma forma para que ele se multiplique e renda bons frutos. Não quero sair gastando agora. Planejo comprar um apartamento, mas será com calma e muita certeza. Quero realizar todos os meus sonhos no tempo certo”, antecipa.

Adoção e família

Thelma — Foto: Isabella Pinheiro/Gshow 

Embora tenha sido adotada aos três dias de vida por sua mãe, Dona Yara, Thelminha revela como descobriu que não era filha biológica. “Aos 15 anos, recebi um telefonema anônimo no orelhão da rua. Na hora, fiquei desconectada e ‘bugada’ por um tempo”, relembra ela, que já desconfiava da situação ao ver que na certidão de nascimento estava escrito que o nascimento tinha acontecido em casa.

“Minha mãe sempre falava que eu tinha nascido do coração dela. Ela nunca mentiu, omitiu. E acreditava que eu só teria maturidade para entender tudo aos 18 anos. Para mim, nada mudou quando conversamos. Sempre acreditei que mãe é quem dá amor e quem cria! Nunca tive vontade de conhecer a minha família biológica ou de buscar questionamento sobre o passado. Virei essa página e não é uma situação que me dói. Estou bem resolvida com essa história”.

Casada com o fotógrafo Denis Cord há quatro anos, ela sonha com a maternidade e faz planos para adotar e congelar os óvulos. “Já estou com 35 anos e chegando no limite, mas faço planos para ter meus bebês daqui a dois anos no máximo e vou entrar na fila da adoção também”, garante Thelma.

Paixão pelo samba

Antes de construir sua própria família, Thelma quer realizar o sonho de desfilar no Carnaval do Rio. “O samba surgiu como hobby e é a minha maior terapia. Quando chego na ninha escola, a Mocidade Alegre, em São Paulo, sinto uma energia tão contagiante que esqueço de todos os problemas. Eu adoraria e estou aberta a convites para desfilar na Sapucaí. E se tudo der certo, em 2021 eu volto ao Rio para sambar”.

Amizades e decepções

Dona de opiniões fortes, Thelma lembra de quando se sentiu julgada por outros brothers e de como encara essa situação. “Algumas falas me magoaram e outras são questões de princípios. Victor Hugo, Guilherme e Daniel me subestimaram e me rotularam. Não quero amizade porque não tolero esse tipo de julgamento. Ninguém tem o direito de mandar a outra pessoa desistir por acreditar que ela não tem chances”.

Por outro lado, qualquer tipo de ressentimento com Flay, Thelma garante que ficou na casa. “Era um jogo e só desejo sucesso para ela na carreira. Fui amiga de Marcela e Gyzelly, que admiro como mulheres. Não enxerguei algumas atitudes delas na casa e me doeu saber de algumas conversas delas quando sai. Neste momento, só desejo muita sorte e que elas sejam felizes”, resume ela, que faz questão de elogiar Babu, Rafa e Manu. “Pessoas com quem me identifiquei demais em vários sentidos”.

Thelma — Foto: Isabella Pinheiro/Gshow 

União feminina

Para Thelma, as atitudes de alguns participantes foi algo que a incomodou desde o início do confinamento. “De cara vi um machismo enraizado no grupo dos homens e não fiz questão de me aproximar. É difícil de acreditar que uma pessoa tenha coragem de falar coisas horríveis em um lugar onde tudo é filmado. Fico imaginando o que são capazes de fazer aqui fora”, argumenta.

“Foi uma luta muito bonita das mulheres se unirem. Mas algumas se perderam no meio dessa luta. Levantaram a bandeira e não sustentaram até o fim, ainda tem muito que ser aprendido e refletido”.

A inscrição no BBB

Com rotina de plantões intensos em quatro hospitais, Thelma se inscreveu no reality show com o objetivo de ganhar o prêmio e garantir uma qualidade de vida. “Fui por causa do prêmio! Amo a minha profissão e é uma conquista que nunca ninguém vai me tirar. Mas eu estava entrando em um ciclo profissional que não me deixava refletir para onde estava indo. Literalmente vivendo para trabalhar e não trabalhando para viver”.

Com um rotina completamente sem controle, o programa surgiu como uma oportunidade de dar uma freada na vida.

“Queria fazer uma revolução completa e repensar algumas questões. Precisava ressignificar meus planos, projetos pessoais e profissionais. Hoje me vejo começando do zero”.

E encarar a vida real novamente não foi tão simples para a campeã: “O que mais me assustou ao sair do confinamento foi ver o cenário provocado pela pandemia. Tudo me deixou extremamente preocupada. Eu imaginava que estávamos vivendo um momento delicado, mas não nessa dimensão”.

Médica influencer

A anestesiologista Thelma se solidariza com os profissionais de saúde que estão na linha de frente do combate à doença. “Sei bem como é o dia a dia de um hospital. Se precisarem de mim para ajudar em uma força-tarefa, eu vou estar lá pelos pacientes e colegas”, afirma ela.

“Eu sempre trabalhei em centro cirúrgico com cirurgias eletivas, que neste momento estão suspensas. No meu grupo de trabalho, são 12 anestesistas e que devem ter tido o trabalho reduzido. Ou seja, o meu mercado de trabalho deve estar afetado também. Alguns profissionais devem estar sendo treinados para tratamentos específicos”, resume ela, que foi a única mulher negra da turma durante a faculdade.

“A medicina é a minha vida e nunca vou deixar de trabalhar com a profissão que eu escolhi. Aos poucos, vou retomar ao meu trabalho. Foi uma surpresa feliz ver que mais de 5,5 milhões de pessoas me seguem nas redes sociais. Não descarto a possibilidade de trabalhar com o público, de levar o empoderamento e representatividade. Não sou atriz e muito menos cantora, mas levar a minha mensagem de superação é gratificante”, afirma Thelma, que passou a ser agenciada pela empresa de entretenimento da cantora Preta Gil.

Racismo e representatividade

Para Thelma, o combate ao racismo é uma luta diária. “Difícil falar sobre uma pessoa que julga a outra pela cor da pele em pleno 2020... A melhor arma contra o racismo é exatamente o que eu fiz no programa. Levantar a bandeira, mostrar a nossa força e ocupar o nosso lugar de fala na sociedade. Para os racistas, vale lembrar que já conquistamos o nosso direito judicialmente”, ressalta ela.

Ao saber da torcida de famosos e anônimos, Thelma usa as palavras honra e responsabilidade para definir seus sentimentos. “Felicidade imensa de ser reconhecida por tantas pessoas que eu admiro e por outras que não conheço. Saber que existem jovens que olham para mim e que se inspiram em mim me motiva para fazer mais. Dá um frio na barriga porque não era a minha realidade há três meses. Quero ser o incentivo que mulheres pretas precisam para superar e vencer”, afirma a paulistana.

“Na minha época não era comum ver mulheres pretas como ícones de sucesso, força e beleza. Na minha adolescência, eu alisava os meus cabelos até queimar o couro cabeludo e fui vítima de um padrão. Hoje sinto a maior liberdade de ter o meu black power ou tranças. A causa da transição capilar é muito maior do que um cuidado com os cabelos. É sobre quem eu sou e a minha origem, de consegui me enxergar sem qualquer tipo de vergonha”.



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