Restauração de igreja em Ouro Preto revela riqueza da arquitetura

O templo da antiga capital do Estado, um dos maiores em tamanho e suntuosidade, passa por obras de restauração pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan)

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Restauração | Divulgação Iphan
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Arquivo Iphan

Um tesouro artístico do século XVIII está sendo redescoberto, dia a dia, na Igreja Matriz de Nossa Senhora da Conceição de Antônio Dias, uma das mais antigas de Minas Gerais, na cidade de Ouro Preto. O templo da antiga capital do Estado, um dos maiores em tamanho e suntuosidade, passa por obras de restauração pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) que têm revelado uma riqueza artística há anos escondida por camadas de repinturas, cera e sujidades.

Diversas pinturas e elementos florais começaram a se encobertos no final do século XIX e início do século XX quando grande parte dos componentes decorativos da Igreja foram encobertos por uma camada de repintura. O objetivo era unificar o conjunto aos moldes do período neoclássico, por meio da aplicação de uma camada de tinta branca sobre os elementos dourados ou policromados. Agora, com os trabalhos realizados na obra de restauro, as superfícies brancas dão lugar a elementos dourados, revestimentos que reproduzem o acabamento de pedras de mármore (os chamados marmorizados), elementos florais e rocalhas, e mesmo pinturas lisas, próprias da época da construção do templo.

No decorrer das obras, entretanto, os resultados vêm se mostrando surpreendentes, principalmente devido ao resgate das policromias e douramentos de altíssima qualidade, muitos deles originais datados do século XVIII. Os achados mostram-se mais harmoniosos e coerentes com o próprio estilo e qualidade da talha barroca, evidenciando a riqueza e a variedade estilística do acervo artístico da igreja, mostrando novamente os elementos figurativos que estevam fragmentados ou quase apagados.A remoção de douramentos de concha aplicados no final do século XIX (douramento este equivalente à aplicação de uma tinta dourada, de qualidade técnica inferior) vem evidenciando, também, superfícies revestidas com folhas de ouro brunidas setecentistas, como ilustram os componentes do coroamento do retábulo-mor.

As obras da foram divididas em etapas e viabilizadas por repasses do Governo Federal através do Iphan. A etapa inicial visou, em linhas gerais, a restauração arquitetônica do templo a fim de garantir sua integridade física e longevidade dos materiais e sistemas construtivos, bem como o uso adequado e mantenedor dos valores artísticos, culturais e simbólicos contidos nas estruturas arquitetônicas do monumento. Todo este conjunto de intervenções contou com previsão de investimentos de aproximadamente R$ 8 milhões e foi concluído em agosto de 2017.

A nova etapa de obras teve início em janeiro de 2019 e foca suas ações na totalidade dos bens artísticos integrados que eram conhecidos e investigados até então. Os trabalhos em execução estão em estágio avançado do cronograma físico e incluem serviços de conservação e restauração, além de limpeza e higienização mecânica e química das superfícies, desmontes parciais, remoção de repinturas e camadas de cera, consolidação dos suportes e elementos de estruturação, nivelamento e reintegração das policromias e douramentos, imunização preventiva contra a ação de xilófagos e aplicação de vernizes e outros tratamentos de finalização.

Um testemunho da formação de Ouro Preto

A Igreja Matriz de Nossa Senhora da Conceição de Antônio Dias ascendeu à condição eclesiástica de Santuário de Nossa Senhora da Conceição em 2005 e é um dos mais importantes exemplares da arquitetura religiosa brasileira, tanto no contexto arquitetônico no panorama das matrizes mineiras setecentistas, quanto na excepcionalidade da qualidade artística do seu acervo de bens integrados. Sua história estabelece relações diretas com a própria constituição urbanística da cidade de Ouro Preto, espelhando também a euforia econômica promovida do ciclo do ouro no início do século XVIII, na região central do atual estado de Minas Gerais.

Foi erguida pelo grupo do bandeirante Antônio Dias, no então arraial homônimo, como uma pequena capela devotada à Nossa Senhora da Conceição. Por volta de 1705 a ermida foi ampliada, reflexo do desenvolvimento local e da subsequente demanda pela constituição de uma paróquia própria. A Freguesia de Antônio Dias, juntam com a de Nossa Senhora do Pilar, passou a compor a recém fundada Vila Rica, unificando, sob a mesma jurisdição política e administrativa, dois dos principais arraiais de Ouro Preto. Em 1727 a nova Matriz de Antônio Dias, como ficou conhecida, começou a ser reconfigurada e ampliada por Manoel Francisco Lisboa, pai de Antônio Francisco Lisboa, o Aleijadinho.

Nos anos seguintes a igreja passou por diversas obras, intervenções e melhoramentos internos até a segunda metade do século XVIII. A Matriz de Nossa Senhora da Conceição, tombada isoladamente pelo Iphan em 1939, foi sede de vários eventos históricos importantes, como a posse do governador Gomes Freire de Andrade, em 1735. Também abriga os restos mortais de Antônio Francisco Lisboa, o Aleijadinho, patrono das Artes no Brasil, que foi enterrado em frente ao altar de Nossa Senhora da Boa Morte; e de seu pai, Manoel Francisco Lisboa, enterrado na capela-mor. Na antiga sacristia está instalado o Museu Aleijadinho, onde podem ser admiradas várias obras do mestre, como a imagem de São Francisco de Paula e um Cristo crucificado. 

 



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