Adriana Galvão une arte, social e sustentabilidade

Nascida em São Paulo, Adriana conta como foi sua chegada ao Piauí e os projetos que desenvolve sempre alinhando arte, design, agroecologia, energia renovável

Professora Assistente do Curso de Artes Visuais da Universidade Federal do Piauí. Mestre em História do Brasil, Arte e Cultura. Graduada em Educação Artística com habilitação em Artes Plásticas, Adriana Galvão desenvolve atividades de ensino, pesquisa e extensão entrelaçando diversos campos do saber. Em 2017 torna-se sócia-fundadora e desenvolvedora de produtos da startup EcodrytecTecnologia Solar em Desidratação de Alimentos, empresa em processo de incubação na UFPI.

Em compasso com a sustentabilidade

Adriana é co-criadora da marca Sabores do Piauí Alimentos Desidratados por energia solar. Atualmente desenvolve projetos que interligam arte, design, agroecologia, energia renovável, desidratação de alimentos e culinária, buscando caminhar em compasso com a sustentabilidade, alimentação saudável; arte e o meio ambiente. Busca atravessamentos de cunho artístico-social-sustentável-universalista, a fim de trazer mais qualidade para si, aos que a cercam, para o planeta. Apaixonada por animais – e já inconformada com a desigualdade no mundo dos humanos - sempre soube que queria fazer arte.



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“"É preciso mudança, é preciso estudar, saber de onde vêm nossos alimentos, de que são feitos, como são produzidos. É preciso ler rótulos! É preciso que a sociedade desperte, pois há muitas mudanças visíveis”"
Adriana Galvão

JMN: Em que momento é apresentada e inicia esse trabalho de desidratar alimentos por energia solar híbrida que se transformam em ervas e especiarias?

AG: Durante o processo inicial da empresa, fomos nos capacitar. Nesse sentido, participar de mentorias, cursos e projetos do Sebrae foi determinante para que pudéssemos alargar nossa visão mercadológica e criar a nossa marca, como uma estratégia de divulgação da tecnologia Ecodrytec. A Sabores do Piauí foi um sucesso, e se diferenciou de marcas similares no mercado por sua proposta inovadora: utilizar insumos agroecológicos e orgânicos, oferecer produtos íntegros, aliar sustentabilidade, baixo impacto ambiental e alimentação saudável concomitantemente. Todo meu conhecimento em Arte foi desafiado e inserido na startup: design, embalagens, cores, criação da logo, desenvolvimento de mobiliário, até na forma das folhas e cortes diversos dos alimentos, primo pela estética e beleza de cada detalhe. Ao mesmo tempo em que Alexandre se debruça diariamente no aprimoramento da tecnologia – hoje já estamos na 3ª geração da máquina em processo de automação e implementação de outras energias renováveis como o biodigestor.

JMN: Quais os diferenciais da atividade que realiza no Nueppa?

AG: Nosso processamento envolve um grande ecossistema, desde a busca por produtos certificados e com conhecimento de origem, como alho e cebola orgânica, que temos que trazer do Ceará e de São Paulo, até rastrear a produção, qualidade e quantidade de plantio e colheita dos insumos produzidos localmente, como é o caso do açafrão, fornecido pela comunidade Serra do Gavião. Incrementamos e movimentamos as comunidades com um diálogo justo e construímos paulatinamente uma mandala sustentável e solidária. Trabalhamos diretamente com 5 hortas de base agroecológica, onde iniciamos essa parceria através do projeto Feira UFPI, que traz quinzenalmente para a cidade produtos de qualidade e sem defensivos agrícolas, além de muita arte e cultura. Para além do objetivo da marca, que é levar comida de verdade para a mesa dos brasileiros, o objetivo da tecnologia em desidratação de alimentos por energia renovável é colaborar com o setor agrícola na base, no campo, sem agredir o planeta.

JMN: De que forma o trabalho que desenvolve contribui na inserção de novos alimentos e na cultura das hortas locais?

AG: A autonomia é possível quando partilhamos o respeito e construímos juntos, em harmonia com o ambiente, a cidade, a sociedade e o campo. E, nosso sonho irá se efetivar a partir deste ano, pois fomos um dos finalistas do projeto PNUD – Programa de Desenvolvimento das Nações Unidas, que objetivou identificar metodologias de inovação alinhadas às cadeias de produção locais, promovendo o desenvolvimento sustentável da região. Com o aporte financeiro que recebemos, iremos implementar desidratadores solares e biodigestores em 4 comunidades de base agroecológicas e 2 sistemas agroflorestais de Teresina e região, a fim de proporcionar o incremento de renda através da produção de desidratados e, sobretudo, proporcionar uma alternativa para acabar com a perda gerada no campo.

JMN: Qual a importância de aliar energia renovável ao conceito de alimentação saudável e sustentabilidade?

AG: Divulgamos e difundimos nossa tecnologia como uma solução para o combate ao desperdício e perdas, que ultrapassa a marca dos 30% da produção mundial de alimentos. Com o produto desidratado é possível combater a fome, pois aquilo que seria jogado no lixo pode ser preservado e ter durabilidade de até 2 anos. É inadmissível que em pleno século 21 haja tanta desigualdade nesse mundo selvagem, competitivo, capitalista do consumo. É preciso mudança, é preciso estudar, saber de onde vêm nossos alimentos, de que são feitos, como são produzidos. É preciso ler rótulo! É preciso que a sociedade desperte, pois há muitas mudanças visíveis.


JMN: Como foi o processo de adaptação?

AG: Sempre nos perguntam sobre o calor, como nos adaptamos e lidamos muito bem com ele, já foram 11 b-r-o-brós vividos! E foi justamente o Sol de Teresina que foi determinante para a criação do projeto de desidratação solar. Alexandre trouxe a tecnologia – que foi desenvolvida por um amigo do INPE, o pesquisador Gilberto Sandonato (que hoje é nosso sócio) da época em que fazia doutorado - e adaptou para nosso clima tropical. Ele iniciou a pesquisa junto com o saudoso Fábio Nóbrega, nosso “shock do blue” em um projeto do CNPQ que propunha verificar o desperdício do coentro em algumas hortas comunitárias da cidade. Com o primeiro protótipo do desidratador, todos os testes tiveram 100% de taxa de sucesso. Após esse momento, foi onde me aproximei, me encantei e uma nova paixão surgiu em minha vida. Em 2017, decidimos criar nossa startup a Ecodrytec que é incubada na INEAGRO/PREXC/UFPI, nossas máquinas estão instaladas no NUEPPA, onde utilizamos o laboratório para processamento dos alimentos. 


JMN: Como foi sua chegada e qual sua relação com o Piauí? Em que momento começa a atuar no Núcleo de Pesquisas de Processamento de Alimentos (Nueppa) da Universidade Federal do Piauí?

AG: O ano era 2008 e conhecia Alexandre há pouco tempo. Namorávamos e um dia ele chegou com um convite. Através de um programa para jovens doutores do CNPQ, havia a possibilidade de fazer pós-doc no Rio ou Piauí. Avaliamos e optamos por Teresina, onde não conhecíamos absolutamente nada. Lembro que nas primeiras pesquisas pela internet vi os rios que cortavam a cidade, a abundância verde, a capital ainda com traços de interior, e disse: vou nadar no rio Poti! Munidos com nosso amor e muitos sonhos, embarcamos numa grande aventura e durante 7 dias cortamos o Brasil de sudeste a nordeste, com nossa mudança dentro de um pequeno carro. Os contrastes vividos nos impressionaram, é muito cômodo viver no sudeste com todas as características cosmopolitas de São Paulo, por exemplo, o que nos distancia da realidade, da pobreza da maior parte do país, sobretudo do interior do Brasil. Documentei a viagem toda e não sabíamos muito bem o que nos esperava. Chegamos a Teresina sob chuva em 10 de janeiro de 2009, e com muito entusiasmo fomos conhecendo cada canto da cidade, acolhidos pelos colegas da UFPI e nos apaixonando pela nova morada. 


Jornal Meio Norte: Por que que decidiu seguir pelo caminho das artes, pesquisa e docência?

Adriana Galvão: Em Campinas tomei contato pela primeira vez com Cerâmica, onde fiz aulas particulares e também onde arrumei meu primeiro “emprego”, como cinegrafista de um projeto cultural da Prefeitura Municipal de Campinas, MIS e UNICEF. Nessa altura, um novo mundo se apresentou e eu vivia no cenário cultural efervescente dos anos 90, entre vernissages, exposições de arte e bandas underground. Sempre inquieta – e na busca pela carreira perfeita imposta pela sociedade e cheia de dilemas próprios da insegurança da adolescência - fui cursar Economia e trabalhar em um Banco com importação e exportação. Foi um desastre. Logo no primeiro ano decidi largar tudo e finalmente cursar Artes Plásticas. No entanto, as duas experiências acadêmicas iniciais foram importantes não só pelo aprendizado, mas pela militância no movimento estudantil e vivências diversas próprias do mundo universitário. Esses alicerces foram determinantes para minha formação e, de algum modo, conferiram uma certa maturidade acadêmica para a próxima aventura. Em 1996 ingressei na Faculdade de Belas Artes de São Paulo e minha vida ganhou uma nova dimensão. Foi onde vivi intensamente produção, linguagem, história da arte e técnica artística. Com um corpo docente formado por profissionais altamente qualificado. 


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