Aliã Wamiri: Luta pelos direitos indígenas

Hoje temos mais de 270 etnias no Brasil, falamos mais de 300 línguas

Aliã Wamiri é indígena da etnia Guajajara, de 35 anos, que mora com um grupo de 20 integrantes da aldeia urbana Ukair, em Teresina. Formada em artes visuais pela UFPI, Aliã é ativista, feminista, representante e pesquisadora sobre povos indígenas e residência contemporânea. Em entrevista ao Jornal Meio Norte, ela revela que o mês de abril é considerado um manifesto de luta por todos os direitos que já foram conquistados e agora estão sendo negados aos povos indígenas. Diante dessa situação, eles pedem o apoio de toda sociedade não indígena para unir forças e conseguir lutar para amenizar a situação atual do Brasil.

Aliã conta que existe, em nível nacional, o movimento Abril Indígena (todo dia é dia de indígenas), um período de resistência diante dos retrocessos de direitos, por esse motivo os indígenas se encontram em um momento de luta diante das questões sociais que afligem sua população. Durante todo o mês, todos estão organizando manifestos presentes visitando escolas, universidades e espaços públicos para falarem sobre a cultura.

Resgate de experiências e vivências

Em recente visita à aldeia Marajá, local onde a transcendência é parte da observação da fauna, flora e cenas do cotidiano, motivos aos quais levaram Aliã Womiri para um resgate de experiências e vivências, a indígena conta que seu coração bateu forte ao olhar nos olhos dos Tenthehar/Guajajaras (na qual Aliã faz parte) e pode ver os reflexos dessas questões e tomadas de decisões retrógradas que afligem os indígenas, e se espalham por todo o país.

Por isso a escolha que fez foi resistir de forma identitária-física, simbólica e espiritual. Essa ligação ajuda a viver e a mantém no estado permanente de luta. Hoje carrega essa vivência para fortalecer o Abril Indígena, manifesto que pretende ampliar contextos das sociedades indígenas e transmitir o legado ancestral e contemporâneo que marcam a resistência do Brasil indígena.



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“"A gente conseguiu muitas conquistas e agora estamos vivenciando a perda de muita coisa, de oportunidades, PECs sendo criadas para não valorizar o indígena, mas sim para valorizar uma bancada de interesses próprios”"
Aliã Wamiri

Jornal Meio Norte: O que é ser indígena hoje no Brasil?

Aliã Wamiri: Ser indígena atualmente - já que a gente não usa mais a palavra índio, porque índio não nos representa - vivendo tanto na área urbana quanto em aldeias, é resistir na contemporaneidade indo por vários viesis como os caminhos ancestrais, mantendo a tradição e tendo a troca do contexto urbano, mas vivenciando também a ancestralidade que ainda existe dentro da gente, na cosmologia, na espiritualidade, no cotidiano. Todos nós temos um pouco de indígena, nossos costumes, nossas tradições, nossos hábitos alimentares, palavras que são de origem indígena e não temos como nos desligar disso.

JMN: Como funcionam as residências contemporâneas?

AW: A cultura não é algo estática, ela muda e vai acontecendo. O indígena saiu do seu território, que é a aldeia para a cidade, para ter os mesmos direitos dos não indígenas, para ter direito a entrar na universidade pública, ter saúde e cultura, então resistir na contemporaneidade é conseguir ter os mesmos direitos que o não indígena, mas sem deixar a nossa essência, a nossa tradição, as nossas escolhas, a nossa própria cultura ancestral e isso reverbera no nosso dia a dia, na comida que escolho para eu comer e isso vou repassando para meus filhos e sobrinhos, no nosso espaço de trabalho, de estudo e de pesquisa e queremos diminuir esse distanciamento entre indígenas e não indígenas.

JMN: De que forma a população indígena se sente diante da tomada de decisões por autoridades que não a representam?

AW: São pessoas que não nos representam e que não querem nos ouvir, querem tomar decisões sem nos respeitar, sem saber o que a gente escolhe, o que é nossa cultura, o que a gente precisa, pois hoje temos mais de 270 etnias descobertas no Brasil, falamos mais de 300 línguas e essas etnias, podemos afirmar, são famílias brasileiras que vivem de forma coletiva, que tem sonoridade, então essas são histórias silenciadas, mas estamos aqui para enfrentar isso e a gente precisa que esse país der um grito de luta para que possamos ter nossos direitos respeitados. Somos mais de 500 anos de violação e estamos resistindo esse tempo todo e não podemos deixar enfraquecer e deixar de lutar.

JMN: Como os indígenas têm se mobilizado para garantir que seus espaços e direitos sejam respeitados?

AW: Indo até a aldeia Marajá eu vi nos olhos dos nossos parentes os direitos negados afligindo a população que vive dentro e fora da aldeia. A gente conseguiu muitas conquistas e agora estamos vivenciando a perda de muita coisa, de oportunidades, PECs sendo criadas para não valorizar o indígena, mas sim para valorizar uma bancada de interesses próprios. Então essas questões sociais que atingem a população indígena e também a população não indígena, por isso estamos resistindo a esse atual antigoverno nos mobilizando durante o abril indígena - abrindo parêntese para dizer que todo dia é dia de indígenas - mas esse movimento nacional é um manifesto presente que precisamos fazer para ir a espaços lutar por direitos através da nossa voz, ter um momento para as pessoas nos escutarem, por isso estamos indo nas escolas, universidades e outros locais para lutar, correr atrás dos nossos direitos, já que não temos mais a Funai, que se tornou uma pequena pasta, mas não vamos nos silenciar e esperamos que a população não indigna nos escute para que possamos ter mais força nessa luta.

JMN: O Dia do Índio é comemorado todos os anos em 19 de abril e foi instituído no Brasil durante o governo de Getúlio Vargas. Atualmente, há o que comemorar?

AW: Em 2019 eu posso afirmar que estamos em manifesto e percebo que já existe uma mudança de desconstrução nas escolas que tem deixado de somente colocar uma música infantil e produzir cocar de papel paras as crianças, mas tem chamado indígenas para dentro do ambiente escolar para falar sobre a vivencia e resistência dele na contemporaneidade. Não temos o que comemorar neste ano, pois estamos nos manifestando e agradecendo a cada indígena que está se manifestando para poder lutar pelos direitos que estão sendo perdidos, assim como precisamos de políticas sociais, culturais diferenciada, então estamos nessa luta com o abril indígena como manifesto de luta. Então está sendo um ano de resistência, mesmo ferindo a nossa existência, a gente está resistindo.

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