Cinthia Lages: inspiração para produzir conhecimento

Jornalista multifacetada faz história na comunicação piauiense e pretende fazer mais

 Cinthia Maria Lages Neves é o nome completo de uma das mais conhecidas jornalistas do Piauí. Formada em Comunicação Social pela Universidade Federal do Ceará (UFC), a jornalista é especialista em marketing político e está concluindo um mestrado em Portugal. Para ela, que é famosa pelas grandes reportagens que produziu ao longo da carreira, o jornalismo precisa buscar o inédito.

Em uma carreira construída com base em muito trabalho, Cinthia Lages conta os louros de uma trajetória de sucesso. No ar diariamente com o programa Notícias da Boa, que migrou da Boa FM para um formato inédito no Brasil para a TV Jornal, onde TV, rádio e internet se confundem, Cinthia é a companhia de muita gente logo nas primeiras horas da manhã.

Nascida em Teresina, foi a infância em Barras que a despertou para a área da comunicação. Daí foi uma coisa levando a outra. Embora tenha quase sido nutricionista, foi no jornalismo que Cinthia se encontrou.

Cinthia acredita que o jornalismo deve trazer algo novo, sempre. É sobre ser criativo. Além disso, o jornalismo precisa cumprir a missão social de transformar a informação na produção de conhecimento. Sob esta ótica, sempre é possível inovar em uma nova reportagem.

Para NOSSA GENTE, Cinthia Lages é uma inspiração de jornalismo coerente, interessante e, acima de tudo, propositivo para o desenvolvimento da sociedade. Em tempos de fake news e desinformação, defender a mídia livre das amarras da economia política é papel de cada profissional.

Jornal Meio Norte: Qual foi seu primeiro "estalo" para o jornalismo?

Cinthia Lages: Meu avô era prefeito de Barras. No dia da eleição, os netos todos iam lá para ajudar. Eu não gostava. E isso me despertou para um olhar mais crítico para as coisas. Foi o primeiro momento. Depois, no ensino médio, eu era muito boa de redação, chamava a atenção dos professores. Mas, sinceramente, nunca achei que seria jornalista de TV. Não estava no meu radar. Então eu fiz vestibular para nutrição e comunicação. Eu passei na UFC em comunicação e em nutrição na estadual do Ceará. Eu me matriculei nos dois, mas fiquei só no jornalismo mesmo.



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“Quando você decide que você vai seguir sua carreira com base nos conceitos que você tem, quando você sabe quem você é, isso te dá uma força para superar. E as mulheres têm que fazer isso todos os dias."
Cinthia Lages

JMN:Quais os planos de Cinthia Lages para o futuro?

 CL: Eu queria escrever mais e fazer documentários. Quero fazer um podcast. Tem muito o que quero fazer ainda. Estou com duas ideias. O podcast é um modelo para o futuro. E a internet é um espaço crítico muito bom.

JMN: Já pensou em voltar com ele?

CL: Já! A questão é achar as pessoas.

JMN: Você teve vários programas de televisão antes do Notícias da Boa, hoje no ar na TV Jornal. De qual você mais sente saudade?

CL: O Cutucadas do Twitter. Porque era um programa que eu acho que, hoje, seria "o" programa. A gente fazia coisas que ninguém imaginava. Era divertido e super informativo. A gente fez um protesto porque os vereadores ganharam o auxílio paletó. Então fomos fazer o programa de terno e gravata, fazendo muitas críticas. Então um vereador da bancada evangélica pediu minha cabeça. Mas até hoje estou contando a história.

JMN: Além do livro-reportagem "2020 Histórias do Ano que Vivemos em Perigo", você também escreveu uma biografia do português Afonso Carvalho. Pretende escrever mais livros?

CL: Está aí uma coisa que eu gostei muito. É muito sofrimento escrever um livro. Pior mesmo só uma dissertação. Eu sou muito autocrítica. Eu fazia capítulos inteiros e refazia. No caso do Seu Afonso, quando fui apresentada a ele em Porto, a gente conversando, ele me trouxe uma apostila de rascunhos da vida dele. Olha, eu fui tirado de dentro de um avião e o avião caiu. Trabalhei colando pastilhas no Maracanã. Achei a história linda e saí de lá já com os papéis para fazer. Eu fiz tudo aqui no Piauí e foi impresso lá. Era o sonho da vida dele. Ele queria comemorar o aniversário de 85 anos com o livro de memórias.

 

JMN: Para você, o que significa ser uma mulher no jornalismo piauiense?

CL: Quando você decide que você vai seguir sua carreira com base nos conceitos que você tem, quando você sabe quem você é, isso te dá uma força para superar. E as mulheres têm que fazer isso todos os dias. Existe uma necessidade de querer nos descredibilizar. Quando estamos em uma profissão e que acendemos, a gente é corrupta. Quando temos um problema na vida, é porque somos mal amadas. O tempo vai passando e você fica velha. São todos clichês. No meio disso ainda tem os xingamentos.  É aquela coisa de não baixar a cabeça.

JMN: A reportagem de televisão caminha para algo mais dinâmico. As edições ganham recursos mais sofisticados, câmeras com drones, resolução em 4k. Para além da tecnologia, o que mudou no jornalismo piauiense quando você iniciou para hoje?

CL: A Rede Meio Norte é a virada de chave dessa mudança. Historicamente, tudo que tem de novo da televisão piauiense veio da Rede Meio Norte. Programas com âncoras populares, que falam o piauiês, que inserem a população. A democracia que existe, essa pluralidade, é um grande processo de mudança. Aquela quebra de paradigmas de o que seria um "rosto para a tv", por exemplo. Eu vejo o Globo News, o Estúdio I, e é algo que já é feito no Jogo do Poder. Tem a brincadeira, tem o meme. Há quanto tempo a Meio Norte já faz isso? Há quanto tempo a gente faz algo mais despretensioso e menos certinho? Estamos fugindo do modelo global, aquela coisa americana. A Meio Norte não tem cabeça de rede, que trouxe liberdade. Surgiram gêneros e pessoas diferentes.

 

JMN: Você já assinou projetos importantes em parceria com o Grupo Meio Norte de Comunicação. Das caravanas ao Bicentenário da Independência, quais os maiores desafios de produzir uma longa reportagem?

CL: Acho que você deve estar disposto a ouvir e mudar aquilo que você pensava. Você sai para uma pauta e aquilo muda. A gente precisa ser aberto ao que a reportagem oferece. É preciso deixar isso acontecer. Fazer reportagens com quem está ali esperando para ser entrevistado. Em Teresina, as pessoas são mais mal humoradas. Mas no interior do Piauí as pessoas são sempre receptivas. É ir construindo aquilo à medida que você encontra personagens que fazem parte importante na história. Precisamos sair dos clichês. O grande desafio de uma reportagem é ser mais criativo e apresentar mais um pouco daquilo. É surpreendente. O jornalismo é a vida das pessoas, a história das pessoas. Então todo dia tem muita história. Para mim, uma boa reportagem é criativa, traz algo novo, boas imagens e uma boa edição. O repórter é uma pequena parte. Eu valorizo muito mais a edição do que meu próprio texto e presença.

 

JMN: Você já fez praticamente todas as plataformas da área: rádio, revista, jornal, televisão, portal, redes sociais. Em um balanço da pandemia, também escreveu um livro-reportagem. Se pudesse escolher um formato, qual seria?

CL: Eu acho que eu não conseguiria escolher um. Eu gosto muito de internet porque ela conjuga todos os meios de comunicação. E ela tem agilidade. É uma solução rápida para muitos problemas. A reportagem de televisão tem um processo do texto até a edição. A televisão precisa incorporar a rapidez da internet, ou ela se torna obsoleta. Eu gosto do formato da TV Jornal, porque é tudo ao mesmo tempo. A gente está lá e as coisas acontecem no decorrer do problema. O jornalismo precisa ser pulsante. Não gosto de agenda setting. Isso é parte da história, mas a gente tem que saber a hora de ser mais dinâmico e menos prerrogativa do jornalista de ter o poder de dizer o que entra e o que não entra. O jornalismo, como fazemos na TV Jornal, é mais democrático. A audiência muda a pauta com a participação. A participação direta do público é o diferencial. O lugar de fala do telespectador na televisão é um. Mas ele pode participar do processo de elaboração da notícia.

 

JMN: O que mais te fascina na área da comunicação?

CL: A missão de informar. É a capacidade que a informação tem de produzir conhecimento. A maior alegria de um repórter é receber mensagem de alguém que diz: olha, eu não acompanhava política, mas agora eu entendo, se referindo ao quadro "Politicando". A capacidade de transformar a medida que leva a informação.

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