Igor Ganga: arte para a psicologia ou a psicologia para a arte?

Psicólogo e mestrando em antropologia encontra na arte a forma de expressar as próprias inquietudes

Igor Filipe de Sousa Oliveira, o Igor Ganga, é natural de Teresina e tem 32 anos de idade. Psicólogo, ele hoje faz o mestrado em antropologia. Ao mesmo tempo, encontra na arte uma forma de se conectar com seu próprio "eu", revelando emoções e inquietudes que abraçam a própria existência.

Iniciando na arte dita "profissional", Igor conta que é artista desde criança, mas é até o dia 25 de novembro que está no ar a primeira exposição solo dele. Em "Linhas do Sagrado", com exposição no Museu de Paleontologia da Universidade Federal do Piauí (UFPI), ele busca explorar a essência da religiosidade humana.

Como artista visual, já participou da Exposição Coletiva no Festival Piaga de 2022, ilustrou capa de revista, assinou as capas das canções “Licença às Rodas”, “Roda do Mundo” e “Milagre das Telhas”, do professor, articulador cultural e músico Vagner Ribeiro, e colaborou com figurino artístico da cantora e compositora Monise Borges e sua banda, pintando os figurinos elaborados por Sara de Paula.

Sobre seu nome artístico, “Ganga”, veio de um chamado das religiosidades afro-brasileiras. Em um sonho, ele recebeu uma mensagem de uma Preta-Velha, que o pegou pela mão e lhe disse que tinha que gangar. Tinha que ser um Ganga, que é um feiticeiro que enxerga longe.


Arte para a psicologia ou psicologia para a arte?

Para NOSSA GENTE, Igor Ganga mostra a potência de unir áreas afins com um propósito. Afinal, arte para a psicologia ou psicologia para a arte? O artista plástico e psicólogo encontra uma esquina entre as áreas que escolheu para atuar profissionalmente. 



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“"Minha maior inspiração para a exposição foi a forma como nós lidamos com o sagrado em si. Eu parto do ponto de meus estudos e afetos""
Igor Ganga

JMN: Quais seus planos futuros?

 IG: Eu pretendo lançar livros, pois também sou poeta. Tenho algumas histórias de poesias guardadas. Eu também sou músico e quero fazer shows. Quem sabe fazer uma confluência de todas as artes que tocam minha vida. Quero dar minha contribuição para o mundo, minha cidade Teresina, e o Piauí que tanto amo.

JMN: De que forma você analisa a arte feita no Piauí hoje em dia?

 IG: Riquíssima. Desde quando você vê as pinturas rupestres, o Piauí é arte a todo tempo. É a arte que não é só de consagrados, mas também das pessoas do dia-a-dia. Minha avó, mulher negra do interior de Picos, que costura. Minha bisavó que fazia bonecas de pano. Isso está na nossa história e pré-história.


JMN: De que forma a arte e a psicologia se encontram na sua vida?

 IG: A minha história com a arte e a psicologia é controversa. Eu me dediquei de uma para a outra. Na faculdade de psicologia me assumi como artista. Mas tive uma crise para parar para pensar no que eu faria para pensar. Naquele momento, as coisas eram separadas. Hoje percebo que são uma confluência que se mistura e se toca. Minha pintura tem vivência de pesquisas, estudos, atendimentos e escutas, até como analista.


JMN: Seu trabalho como ilustrador também foi para revista e capas de álbuns. Como você observa a ilustração digital no mundo de hoje?

 IG: Sim, isso é muito especial. Não foi algo planejado, mas a vida trouxe essa possibilidade através do contato de pessoas queridas. Recentemente eu ilustrei a capa do EP do cantor Vagner Ribeiro, e foi muito especial porque ele é um cantor onde a música gira em torno do sagrado. Esse território nordestino. Pude adentrar na história do Padre Ibiapina, precursor do Baião. Pude falar de milagres. Foi um momento especial para ilustrar, no caso a musicalidade. 

Também tive a oportunidade de ilustrar as roupas da Monise Borges e a banda dela.



JMN: Essa é sua primeira exposição individual. É um momento desafiador?

 IG: Não é fácil. Acho que toda exposição, como todo show ou monólogo, é uma exposição de si. Sou uma pessoa introspectiva e mais tímida. Tive dificuldades de me revelar e me colocar no palco, me expor. Ali tem coisas muito íntimas. Embora o público não capte tudo isso.


JMN: O que “Linhas do Sagrado” reflete na sua carreira artística?

 IG: Um ebó, um presente, uma oferta, uma oferenda neste início de caminho. É uma forma de iniciar e pedir licença a quem veio antes e está sobre nós. “Linhas do Sagrado” representa o passo inicial para as outras coisas que virão, para outros trabalhos. É a junção do que sou até aqui.


JMN: Você está com a exposição “Linhas do Sagrado”. Qual sua maior inspiração para este trabalho?

 IG: Minha maior inspiração para a exposição foi a forma como nós lidamos com o sagrado em si. Eu parto do ponto de meus estudos e afetos, que são as religiosidades afro brasileiras, com destaque para umbanda, que estudo no mestrado. A umbanda me ajuda a me reconectar enquanto pessoa negra e artista. Minha maior inspiração são histórias sagradas e pessoas que recebem o sagrado.


Jornal Meio Norte: Você é psicólogo. Mas quando veio o estalo para as artes plásticas?

Igor Ganga: A arte entrou na minha muito antes da minha formação acadêmica, ainda criança. Eu pegava papel e lápis para imaginar realidades e possibilidades. Eu gostava de desenhar sereias. Era algo intuitivo. A forma da criança ser e estar no mundo é artístico porque ela está sempre imaginando e inventando. O estalo para ter a identidade artística veio ao longo do curso de Psicologia, experimentando técnicas, texturas e possibilidades.


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