Lílian Catenacci: por mais mulheres na ciência

Pesquisadora com atuação em Bom Jesus ganhou prêmio nacional de incentivo a mulheres na ciência

Lucrécio Arrais

Do Nossa Gente

Lílian Catenacci é paulista. Nascida na zona Norte de São Paulo, foi criada no Parque Estadual da Serra da Cantareira. Entre o aprendizado em viver na mata e o respeito aos animais, ela parou na medicina veterinária, quando formou-se pela Universidade Estadual Paulista, em Botucatu. Hoje a pesquisadora atua como professora na Universidade Federal do Piauí (UFPI) e, recentemente, obteve um prêmio nacional em pesquisa.

Aos 39 anos, Lílian foi a primeira pesquisadora da UFPI a receber o prêmio “Para Mulheres na Ciência” (For Women in Science). Ela levou para casa a categoria “Ciências da Vida”, em uma honraria organizada por uma marca internacional de estética em parceria com a Unesco e a Academia Brasileira de Ciência (ABC).

O foco do trabalho da pesquisadora é acompanhar de perto a saúde de animais selvagens e domésticos. A ideia é entender a dinâmica das doenças em humanos e prevenir surtos e epidemias. Além disso, promover uma conexão com a saúde do meio ambiente, dos animais e dos humanos.

Após anos em uma ONG da Bahia, vivendo por dois anos em uma reserva ecológica trabalhando com macacos, ela também cursou mestrado em Zoologia pela Universidade Federal de Santa Cruz, na Bahia. Depois, doutorado em virologia pelo Instituto Evandro Chagas, no Pará, com estágio nos Estados Unidos no Saint Louis Zoo, no Institute for Conservation Medicine.

A trajetória de Lílian, então, chega ao Piauí, onde vive desde 2010, em Bom Jesus. Na Universidade, o trabalho é focado em questões locais. Para NOSSA GENTE, a pesquisadora mostra a necessidade da ciência na vida das pessoas.

Jornal Meio Norte: Por que você escolheu a medicina veterinária?

Lília Catenacci: Eu sempre tive contato com a natureza e os bichos. Meu pai era fanático por bichos. Tenho influência de ter vivido em uma área de mata por 15 anos, além de ver meu pai com todo o cuidado com os animais. Eu também tive uma prima que fazia veterinária na Unesp, onde formei, o que também influenciou.



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“Eu sempre tive contato com a natureza e os bichos. Meu pai era fanático por bichos. Tenho influência de ter vivido em uma área de mata por 15 anos"
Lílian Catenacci

JMN: E o doutorado?

LC: Eu passei no concurso como mestre, então depois do estágio probatório eu saí para fazer o doutorado no Pará. Fiz sanduíche, com 4 anos e meio. Fiquei em um zoológico americano, Saint Louis Zoo, no Institute for Conservation Medicine, onde permaneci como colaboradora. Aí voltei para Bom Jesus querendo implementar um laboratório para o diagnóstico de arboviroses em animais. De humanos existe, mas animal silvestre não existe. Então eles podem passar doenças para nós, mas nós também podemos passar para eles.


JMN: E o prêmio?

LC: Uma honra! Meu aluno de mestrado, que foi meu aluno desde a iniciação científica, Osmaikon Lisboa Lobato, indicou para que eu fizesse a inscrição. Eu sempre incentivei que eles buscassem financiamento, então ele me deu a dica. Eu concorri, super descrente, porque o prêmio é do Brasil todo, com mais de 45 universidades. Mas deu super certo.

JMN: Quais os maiores desafios em arboviroses no Piauí?

LC: A febre do Nilo ocidental. O vírus só tem casos confirmados em humanos em nosso Estado. No Brasil todo não conhecemos os reservatórios. Fora do país são aves silvestres e o vetor é um mosquito do gênero Culex, bem comum da região. Mas não sabemos de fato, embora haja a suspeita. É o desafio porque acomete humanos e cavalos. Nos humanos é tipo uma dengue, mas também pode dar meningite e a pessoa ir a óbito, como já aconteceu aqui. O cavalo também pode ter algo parecido com a raiva. Cavalos e humanos são hospedeiros terminais. É preciso ter uma estrutura de diagnóstico para animais silvestres.

JMN: E a experiência de estar em uma ONG?

LC: No meu caso, eu estava em uma ONG que eu acreditava e confiava. Então é uma missão em comum. No mesmo perrengue, torcendo pela mesma coisa. Pelo bem do outro.

JMN: E como você chegou ao Piauí?

LC: Prestei um concurso para clínica e manejo de fauna, que é exatamente a minha área. Era esse o concurso, na UFPI do campus do interior, em Bom Jesus. Para mim, não importava onde era. Eu queria algo na minha área. Além disso, sempre tive o sonho de ser professora, de universidade pública, então vi como oportunidade. Prestei, deu certo e moro em Bom Jesus desde 2010. Eu mudei para Teresina em janeiro de 2019 e a pandemia logo começou.

JMN: E a virologia?

LC: Eu trabalhava na Bahia vivendo em uma mata, estudando o comportamento de macacos. Então a gente seguia macacos com um rádio-colar, então eu aproveitava para coletar sangue, amostra biológica. Então antes de saber o que estudar dos macacos, eu perguntei ao epidemiologista do hospital qual era o maior problema do município. Então ele falou das arboviroses. Então eu pensei em estudar os animais a partir desse contexto.

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