Marcela Castro pesquisa violência de gênero e feminicídio

A mazela social é capaz de danificar gerações, pois a violência de gênero acaba atingindo os filhos da mulher agredida.

Marcela Castro Barbosa é teresinense. Nasceu na capital do Piauí no dia 13 de dezembro de 1983. Com quase 36 anos, a professora, socióloga e pesquisadora nas áreas de violência de gênero e geração, feminicídio e violência contra mulher explica o porquê da sociologia ser tão importante para o entendimento humano.

Paralelo a isso, a pesquisadora mostra em seus estudos que o machismo não é ruim apenas para as mulheres. A mazela social é capaz de danificar gerações, pois a violência de gênero acaba atingindo os filhos da mulher agredida.

Marcela é formada em Sociologia pela Universidade Federal do Piauí (UFPI), onde também concluiu mestrado. Tem ampla experiência no ensino médio, além de também ter trabalhado no ensino superior. Não menos importante, ela também integra o projeto Anne Frank Presente, que cabe perfeitamente à área de estudo que ela escolheu.


Sociologia e Filosofia abrem caminhos para as demais ciências

Com o projeto, Marcela e sua turma sensibilizam pessoas sobre vários temas, com a ideia de que o opressor não está com nada e que devemos respeitar todas as pessoas, independente da cor, orientação sexual, gênero ou religião. É como se fosse uma batalha incessante para despertar a juventude.

Apesar de constantes ataques às áreas humanísticas, a professora mostra com a própria experiência que a sociologia e a filosofia abrem caminhos para as demais ciências. Inclusive, essas áreas do conhecimento são fundamentais para bons resultados na redação, que é um dos maiores bichos-papões dos alunos no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem).



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““Pelo atual contexto, de esquerda e direita, as pessoas criam estigmas. Tivemos, de fato, muitos sociólogos que foram militantes de esquerda. Mas e os autores de direita? Nunca deixamos de trabalhar John Locke, por exemplo”"
Marcela Castro Barbosa

Jornal Meio Norte: Quando perguntavam o que você queria ser quando crescer, você já dizia que queria ser socióloga?

Marcela Barbosa: Quando comecei a definir a área que eu queria, quis humanas. Principalmente a parte de pesquisa. Então me formei como bacharel em Ciências Sociais. Eu pensava que a Antropologia seria a grande coisa da minha vida, mas depois me vi na Sociologia. Mas, criança, nunca me imaginei socióloga, ou mesmo professora. A vida trata de nos encaminhar até nos encontrarmos. Amo o que faço, apesar de limitações e dificuldades.


JMN: Quais são essas limitações e dificuldades?

MB: Eu gosto do que faço, mas temos dificuldades no campo de pesquisa, com financiamento quase zero. A área da docência também anda complicada. Hoje trabalho no ensino privado e tenho experiência no curso superior, que após os últimos cortes tivemos que dar uma parada.


JMN: Qual a diferença de ensinar sociologia para adolescentes e adultos?

MB: Os adolescentes têm a curiosidade para saber para que serve a sociologia na vida. Então é isso que tento mostrar, que a sociologia está no cotidiano. Democracia, direitos humanos, grupos sociais, cidadania. Os adolescentes se envolvem. Só não gosto muito de alunos que não gostam de ler, pois precisa de muita leitura. Os alunos são participativos. Mas os adultos já têm uma noção, e tem até certa resistência. Acabamos presos ao eixo de sociologia da educação.

JMN: O que você pensa do descrédito às áreas humanísticas? Falam em doutrinação, por exemplo.

MB: Os espaços que tenho sempre tento desmentir isso. Como uma ciência pode doutrinar? Muito pelo contrário. A sociologia explica os fenômenos da vida social. Pelo atual contexto, de esquerda e direita, as pessoas criam estigmas. Tivemos, de fato, muitos sociólogos que foram militantes de esquerda. Mas e os autores de direita? Nunca deixamos de trabalhar John Locke, por exemplo. Tem autores de todos os jeitos. Outra questão importante é falar de gênero nas escolas. Os pais acham que os professores vão ensinar os filhos a serem homossexuais, sendo que isso parte única e exclusivamente dele, do aluno. São escolhas individuais. Com as fake news vieram a ideia de ideologia de gênero, algo que não existe. Como estudiosa digo que não existe isso. Quando falamos de gênero, falamos de masculinidade, feminilidade, sexualidade. E isso é importante para combater violências. Querem legitimar discursos de que professores fazem a tal doutrinação. Criam um mal-estar entre ciências humanas, sendo que são áreas que despertam o senso crítico.


JMN: E o projeto Anne Frank Presente?

MB: O projeto Anne Frank Presente surge de algumas pesquisas que o professor Randal Vieira realizou em alguns países na Europa sobre o holocausto. O Diário de Anne Frank é a maior referência que temos sobre o holocausto, além da própria história dela, uma menina que vivenciou a questão da perseguição do nazismo. Quando o professor retornou ao Brasil, ele compartilhou a experiência com amigos. Tempos depois associamos a pesquisa dele nos campos de concentração com as práticas realizadas em nossas atuações. No meu caso, com a questão da violência de gênero, contra a mulher.

JMN: Quem gosta de sociologia acaba se dando bem na redação. É verdade?

MB: Total. A sociologia proporciona uma compreensão das relações sociais, políticas, culturais e econômicas. É uma bagagem grande para discutir qualquer tema. Tenho certeza de que quem gosta de sociologia se deu bem este ano, que foi sobre democratização do cinema. A gente estuda muito a indústria cultural com Adorno, Horkheimer, Walter Benjamin…  


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