Teresina tem o primeiro arcebispo piauiense após cem anos

Juarez de Sousa da Silva, o Dom Juarez, foi nomeado pelo Papa Francisco para assumir a Arquidiocese de Teresina

Juarez Sousa da Silva, nascido em 30 de junho de 1961, no interior do município de Barras, que depois se tornou Cabeceiras, foi nomeado pelo Papa Francisco como o oitavo arcebispo de Teresina. Esta é a primeira vez que um piauiense ocupa o cargo em 100 anos. A decisão foi após a renúncia de Dom Jacinto Furtado de Brito Sobrinho.

Dom Juarez, que ocupava o cargo de bispo de Parnaíba, é licenciado em Filosofia e tem mestrado em Teologia - História Eclesiástica pela Pontifícia Universidade Gregoriana de Roma. Atualmente é presidente do Regional Nordeste IV da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB).

Do jovem que encontrou os próprios caminhos junto aos cordeiros de Deus até o cargo máximo da Igreja Católica em Teresina foi uma longa jornada. Em 1995, o padre lembra que abençoou as instalações do Grupo Meio Norte. De lá para cá, muita coisa mudou. Da forma de se comunicar até a forma de evangelizar.

Em meio a todo este processo de transformação que o mundo vive, Dom Juarez analisa contextos de uma sociedade em constante mutação, que aos poucos experimenta o progresso. Isso não é diferente para a Igreja Católica, que hoje se moderniza para se aproximar dos mais jovens.

Para NOSSA GENTE, Dom Juarez traz a representatividade religiosa para o povo do de Teresina, que agora conta com um conterrâneo para administrar a Casa de Deus na capital.

Jornal Meio Norte: Qual o sentimento do senhor em ser o primeiro piauiense à frente da Arquidiocese?

Dom Juarez: Primeiramente, agradeço ao Grupo Meio Norte de Comunicação pela solicitação e pela oportunidade de emitir uma opinião. Recordo que tive a oportunidade de celebrar a bênção de inauguração das instalações do Meio Norte em Teresina, em 1995, a convite da jornalista amiga, Elvira Raulino. Sobre a pergunta, sinto-me um agraciado de Deus por me fazer bispo em meu amado Estado. Agora, na terceira diocese. Depois o sentimento de ser um privilegiado, pelo mesmo motivo. Tudo é graça... Tudo é dádiva do alto.



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“O Papa emérito Bento XVI era um “teólogo, bispo e Papa”, que nos deixou um grande legado, no qual se destacam uma fé profunda e esclarecida, o amor pela Igreja e a preocupação pelos rumos do mundo"
Dom Juarez

JMN: Para o senhor, o que a figura do papa emérito Bento XVI simboliza para a Igreja Católica e qual lembrança o senhor gostaria de compartilhar conosco?

DJ: O Papa emérito Bento XVI era um “teólogo, bispo e Papa”, que nos deixou um grande legado, no qual se destacam uma fé profunda e esclarecida, o amor pela Igreja e a preocupação pelos rumos do mundo. Compartilho com meus irmãos a gratidão pela minha nomeação como bispo, inicialmente, de Oeiras há quinze anos. A alegria que tive de me encontrar com ele por duas vezes. Em 2008, no encontro de bispos novos, e em 2009, na Visita Ad Limina. Em ambas, pude sentir nele a humildade e a sabedoria do Vigário de Cristo, que me confirmou e me encorajaram para o exercício do episcopado, que estava apenas iniciando. Compartilho ainda, e como testemunho, seus últimos ensinamentos. No longo período como papa emérito, entre 2013 e 2023, com o seu silêncio, ensinou a como nos preparar. “Não para o fim, mas para o encontro definitivo com o Senhor”. Morreu declarando amor a Jesus Cristo de quem se fez fiel discípulo missionário. “Eu te amo, Jesus".


JMN: Após a renúncia de Bento XVI, o mundo teve Papa Francisco, um homem latino. Isso é simbólico para nosso continente?

DJ: Um papa chamado Francisco é simbólico para o nosso continente e para o mundo inteiro. A palavra certa para o simbolismo de Francisco é reforma. O papa que busca implementar a reforma proposta pelo Concílio Vaticano II. Reforma que na vida da Igreja é voltar a beber nas fontes originais e genuínas da fé cristã: Jesus Cristo e a experiência das primeiras comunidades cristãs. Reforma na cabeça e nos membros da Igreja. Mudanças significativas no campo administrativo da Cúria Romana.

JMN: Quais os maiores desafios da Igreja Católica para 2023?

DJ: Prosseguir no caminho da sinodalidade, caminhar juntos, de viver a unidade, na pluralidade religiosa e cultural dos tempos hodiernos. Outro desafio é o que propõe oportunamente a Igreja no Brasil para este ano como terceiro Ano Vocacional, cujo objetivo é "promover a cultura vocacional nas comunidades eclesiais, nas famílias e na sociedade, para que sejam ambientes favoráveis ao despertar de todas as vocações, como graça e missão a serviço do Reino de Deus". Outro desafio, que o nosso Regional Nordeste IV busca enfrentar, mas é de todo Brasil, é o de ser uma Igreja catecumenal, assumindo concretamente, em todas as instâncias. comunitárias, paroquiais e diocesanas, a catequese de inspiração catecumernal a serviço da Iniciação à Vida Cristã, que forme discípulos e discípulas convictos da fé, fortaleçam as comunidades e transformem a Igreja e a sociedade.

JMN: Qual deve ser o papel da Igreja no momento que estamos vivendo?

DJ: Evangelizar, ou seja anunciar a boa nova de Nosso Senhor Jesus Cristo. No Brasil, cada vez mais urbano, pelo anúncio da Palavra de Deus, formando discípulos e discípulas de Jesus Cristo, em comunidades eclesiais missionárias, à luz da evangélica opção preferencial pelos pobres, cuidando da Casa Comum e testemunhando o Reino de Deus rumo à plenitude.


JMN: Qual legado o senhor pretende deixar?

DJ: Quero ser sinal e canal de bênção para todos: Deus vos abençoe e vos guarde. Ele vos mostre a sua face e se compadeça de vós. Volte para vós o seu olhar e vos dê a sua paz. Amém!

JMN: De que forma a religião católica pode melhorar uma sociedade?

DJ: Evangelizando. Ou seja testemunhando Jesus Cristo e anunciando Sua boa nova, pela escuta, vivência e anúncio da Palavra de Deus, formando discípulos e discípulas, em comunidades, à luz da evangélica opção preferencial pelos pobres, cuidando da Casa Comum e testemunhando o Reino de Deus.

JMN: Na sua opinião, qual o principal papel de um arcebispo?

DJ – O arcebispo metropolitano é um homem da unidade. Tem especial responsabilidade pela unidade da Igreja na província eclesiástica, em relação às dioceses, assim chamadas de sufragâneas e aos seus pastores. Sinal desta responsabilidade é o Pálio usado pelo arcebispo. O Pálio - derivado do latim pallium, faixa de lã branca que é colocada sobre ombros dos Arcebispos. Este pano representa a ovelha que o pastor carrega nos ombros, assim como fez Cristo com a ovelha perdida. Desta forma podemos dizer que o Pálio é o símbolo da missão pastoral do arcebispo, e de sua jurisdição em comunhão com a Santa Sé.


JMN: Em grandes estados brasileiros, como São Paulo e Rio de Janeiro, o número de jovens 'sem religião' supera o de católicos e evangélicos. Como o senhor avalia essa constatação? A Arquidiocese pretende adotar decisões para recuperar e converter fiéis?

DJ: A mudança de época dos tempos em que vivemos, contém no seu bojo, o pluralismo cultural e religioso, a indiferença religiosa e o secularismo. Estes, são grandes desafios para a evangelização. Creio que é preciso uma conversão pastoral, pessoal e comunitária. A Igreja precisa sempre ser reformada como já disse anteriormente. Precisamos assumir concretamente, as reformas propostas pelo Concílio Vaticano II, há sessenta anos. Dentre essas reformas, algumas foram realizadas e outras se realizaram paulatinamente. Outras, no entanto, precisam ser assumidas na força do Espírito Santo com decisão e coragem. Certamente o que é mais urgente, é assumir cada vez mais uma catequese de orientação catecumenal que esteja a serviço da Iniciação à Vida Cristã que, à luz da Palavra de Deus, proporcione um encontro pessoal com Cristo Jesus, formando discípulos e fortalecendo as comunidades. Para isso, estamos vivenciando, neste ano, 2023, o 3º Ano Vocacional em nível nacional, e ao mesmo tempo, o Ano de Iniciação à Vida Cristã, em nosso Regional Nordeste IV, Piauí, cujo tema é Iniciação à Vida Cristã, caminho para o encontro com Cristo e Lema, “Corações ardentes pés a caminho”. O conteúdo deste ano temático precisa ser acolhido e posto em prática por todos os agentes de pastoral em nossas dioceses. Não pode ficar engavetado.  É preciso escutar e obedecer à Palavra, Cristo Jesus. É preciso escutar e obedecer a voz da Palavra, que é a Igreja. É preciso evangelizar, e cuidar de todos priorizando os pobres e os jovens, como proclamou a Conferência de Puebla, de 1979.

JMN: Quanto à gestão do senhor, teremos mudanças? Quais?

DJ: Primeiramente devo chegar, encontrar e escutar. Partindo do encontro com e da escuta à Igreja de Deus que está em Teresina, e tem uma belíssima trajetória de evangelização, continuar o que deve ser continuado e mudar o que deve ser mudado. Mudanças são necessárias em todos os aspectos da existência e da vida na Igreja e na sociedade. Sobretudo nos tempos em que vivemos e que são caracterizados pela mudança de época.

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