Rixa entre ex-atletas Romário e Gilmar tem pano de fundo antigo

Romário, ao seu estilo, devolveu a crítica de Gilmar, chamando-o de mentiroso.

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O clima, então, tornou-se insustentável e teve reflexo direto para o flamengo em campo | Espn
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O ataque de Romário ao novo coordenador de seleções da CBF, Gilmar Rinaldi, tem pano de fundo antigo. Companheiros no tetracampeonato em 1994, na Copa dos Estados Unidos, Romário e o ex-goleiro tiveram grande embate há 15 anos, no Flamengo. No choque de egos entre a estrela do time e o superintendente de futebol, sobrou mesmo para o clube, em episódio que resultou na saída do Baixinho e na dívida monstruosa de pouco mais de R$ 23 milhões e que sacrifica os cofres rubro-negros até hoje.

Gilmar Rinaldi, goleiro pentacampeão brasileiro pelo Flamengo em 1992, voltou ao clube no fim de 1998, logo após a eleição de Edmundo dos Santos Silva para a presidência. À época, Gilmar foi dono de plenos poderes para gerir o futebol e manter a disciplina. Mas após um início até calmo, com título carioca sobre o Vasco, a convivência entre Romário e Gilmar se tornou insustentável, mais precisamente em setembro daquele ano.

Liderado pelo camisa 11, o Flamengo cumpria bela campanha no Campeonato Brasileiro e disputava a ponta da tabela com o Corinthians. Mas após um jogo contra o Colo Colo, pela Copa Mercosul, Romário não apareceu no Fla-Barra para treinar. Argumentou que fora liberado dos treinos após as partidas pelo departamento médico, para evitar lesões. Irritado, Gilmar não engoliu a desculpa e disparou:

"Os jogadores do Flamengo são contratados pra treinar e jogar, não para ficar dando justificativa para as ausências".

No dia seguinte, Romário apareceu no clube. E, ao seu estilo, devolveu a crítica de Gilmar, chamando-o de mentiroso.

"O Gilmar está começando agora, é novo, está desinformado das coisas aqui. Ele precisa frequentar mais o clube. Pelo que li nos jornais, estou passando por mentiroso. Mas na sexta-feira quem prometeu pagar os salários atrasados não fui eu. O mentiroso não sou eu", disse Romário.

O superintendente de futebol manteve a postura firme e garantiu que o atacante não fora liberado. Coube ao presidente Edmundo dos Santos Silva intervir na situação. Romário foi determinado a aparecer no clube após os treinos. Irritado com a medida, o Baixinho ironizou Gilmar através da imprensa.

"Eu não vinha aos treinos porque não tinha que vir. A partir de agora, fui comunicado que tenho que comparecer sempre depois dos jogos. Tudo bem. Venho, tomo um cafezinho e dou bom dia", disparou o atacante.

O clima, então, tornou-se insustentável e teve reflexo direto em campo: depois da crise, o Flamengo perdeu quatro partidas consecutivas e despencou na tabela do Brasileiro. O que antes parecia ser certeza, a vaga entre os oito primeiros e a classificação para o mata-mata, se tornou fracasso retumbante.

A crise explodiu de vez. Após a última partida do Flamengo no Brasileiro de 99, contra o Juventude, em Caxias do Sul, Romário foi flagrado por um jornal local ao lado de Leandro Machado e Fábio Baiano na Festa da Uva, popular na cidade gaúcha. Gilmar, contrariado com o clima de celebração após a eliminação rubro-negra, exigiu a saída de Romário ao presidente Edmundo dos Santos Silva. Leandro e Fábio Baiano foram readmitidos no elenco. Romário deveria pedir desculpas para tentar voltar. Não o fez.

Após uma reaproximação com nova intervenção de Edmundo dos Santos Silva, caberia a Gilmar conversar com o atacante e decidir por sua permanência. Nada feito. O então dirigente declarou publicamente que nada mais tinha a falar sobre o assunto. Romário, então, anunciou em coletiva que estava fora.

"Saí da reunião achando que estava tudo certo. Mas hoje li nos jornais que a pessoa que estava encarregada deconversar comigo (Gilmar) disse não ter mais nada a falar. Está claro que o Flamengo não me quer", disse Romário.

Dias depois, o jogador se apresentou ao Vasco para a disputa do Mundial de Clubes. Na Colina, teve a melhor temporada da carreira em números, com 74 gols em 2000 e retorno à seleção brasileira. No Flamengo, o Baixinho deixou a dívida de 4,5 milhões de dólares por pagamentos atrasados e acionou a Justiça do Trabalho. Enfurecido, cobrou de tudo um pouco. O montante chegou, nos cálculos dos advogados do atleta, a R$ 48 milhões. Mas, em 2012, foi costurado um acordo para o pagamento de R$ 23 milhões. Em parcelas de R$ 125 mil, até 2022. O preço da briga entre Romário e Gilmar, portanto, vai perdurar 23 anos.

De superintendente a agente de joias

Passado o furacão de Romário, Gilmar Rinaldi continuou no Flamengo para a temporada seguinte, quando o Flamengo teve a injeção de 80 milhões de dólares da parceria com a ISL, empresa de marketing que pediria concordata meses depois. Petkovic e Tuta foram algumas das contratações. Mas o ex-goleiro não durou no cargo. Em fevereiro, desgastado no ambiente político, acabou demitido para a chegada de René Simões.

A carreira de agente, no entanto, já estava no caminho. No site de sua empresa, a Gilmar Sports, desativado desde o anúncio como coordenador de seleções da CBF nesta quinta-feira, ele garante ser agente Fifa desde 99, quando já era superintendente do clube da Gávea. Da base rubro-negra vieram alguns dos principais nomes de sua carta como agente: Adriano, Juan e Reinaldo.

Os atacantes, novatos, foram protagonistas de um negócio até hoje muito criticado dentro do clube, em julho de 2001. Promissores, Adriano e Reinaldo, este já titular da equipe, foram cedidos a Inter de Milão e Paris Saint-Germain respectivamente em troca de cinco milhões de dólares e o volante Vampeta. O Flamengo teria direito a 25% de futuras negociações dos atletas. Gilmar foi apontado como um dos mais ferrenhos entusiastas das saídas precoces dos garotos da base.

A queixa ao comportamento do agente se repetiu praticamente um ano depois, mas desta vez com o zagueiro Juan, também integrante de seu cardápio como agente. Já convocado para a seleção brasileira e um dos destaques do Flamengo há dois anos, Juan foi negociado em maio de 2002 com o Bayer Leverkusen, da Alemanha, por cinco milhões de dólares. O clube desejava, ao menos oito milhões para fechar o negócio. Mas, pressionado, cedeu. Aos cofres rubro-negros só chegaram 3,5 milhões de dólares devido a comissões na negociação e ao percentual de 15% cedido ao atleta.



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