Verónica Boquete: Sempre quis ser como Marta. Quero alcançá-la

Espanhola comemora chance de jogar com brasileira na Suécia, lamenta desinteresse do Real pelo futebol feminino e dá risada ao falar do sobrenome

Elaine e Marta ensinam Verónica a dançar o "Ai se eu te pego" | Reprodução
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Sorte de Verónica não ter nascido no Brasil. Teria sofrido bastante para conseguir realizar o sonho de virar jogadora de futebol e mais ainda pelo sobrenome que herdou do pai. Não que na sua terra natal, a Espanha, tenha sido fácil fazer carreira no esporte que escolheu. Mas ao menos lá ela não teve de ouvir uma risadinha a cada vez que seu nome é anunciado: Verónica Boquete.

A meia-atacante é um dos maiores talentos do futebol feminino. Em 2011, atuando pelo Philadelphia Independence no último ano da liga profissional dos Estados Unidos (WPS), ela perdeu a final para o Western New York Flash de Marta mas desbancou a craque brasileira como melhor jogadora da temporada. Agora, as duas jogam juntas no Tyresö da Suécia.

- Marta sempre foi a minha referência, sempre quis ser como ela - afirma a jogadora, nascida há 25 anos em Santiago de Compostela.

Em entrevista a nossa equipe, numa mistura de português, espanhol e galego, idioma da região de onde veio, Verónica diz que descobriu há alguns anos que no Brasil seu sobrenome significa um apelido para o sexo oral. Ao falar sobre o assunto, sorri e faz um sinal de "sim" com a cabeça como quem demonstra já ter ouvido a história antes. Ela garante achar graça mas admite que até hoje não teve coragem de contar para o pai.

- Como esse nome significa outra coisa em espanhol, eu mantenho o segredo - diz, dando risada.

De adversária da Marta nos Estados Unidos você virou companheira de equipe dela na Suécia. Como está sendo jogar com a Marta?

VERÓNICA: Estamos sempre juntas aqui, eu, ela e a Elaine. É muito fácil jogar com elas. A Marta sempre foi a minha referência, sempre quis ser como ela. Agora posso jogar no mesmo time que ela e isso é fantástico. Aprendo muito jogando ao lado da Marta e espero um dia alcançá-la. Nós temos ideias parecidas, então é muito fácil se entender dentro de campo.

Como reagiu quando soube que ela vinha jogar aqui com você?

Eu cheguei antes dela ao Tyresö, então não sabia que ela vinha para cá. Fiquei muito contente. Se a equipe já era boa antes, depois dela ficou ainda mais forte.

Marta sempre critica os problemas e as dificuldades do futebol feminino no Brasil. Como é a situação na Espanha?

Não temos uma liga profissional, então temos problemas em competições adultas. Nas divisões de base temos uma seleção boa, já ganhamos o Campeonato Europeu sub-19, disputamos o Mundial da categoria. Mas quando chega a hora de decidir entre o trabalho, os estudos e o futebol, o nível cai. Já não podemos treinar tanto, o futebol já não tem tanta qualidade e a parte física fica comprometida. Pouco a pouco estamos melhorando, mas... por sorte ou por desgraça, temos a melhor liga do mundo entre os homens. Mas isso tira a importância do feminino.

Acha que Barcelona e Real Madrid podem ajudar a mudar isso?

O Barcelona agora começou a investir forte no feminino. Deve até ser o campeão desta temporada. Mas o Real Madrid não se animou ainda. É uma pena, porque para eles isso não seria nada. Com um orçamento bem baixo poderiam montar um grande time.

Qual o seu time preferido?

Como sou de Santiago, meu time é o Compostela, por onde passaram muitos jogadores brasileiros. Hoje estamos mal, mas tentando nos reerguer (o Compostela atualmente joga no equivalente à Quinta Divisão espanhola). Eu atuei no Espanyol e também me sinto parte desse clube. Se tem sorte, ele ainda ganha algo, mas o normal é que não ganhe. Estão sempre à sombra do Barcelona, mas isso também faz com que ele sinta-se diferente, especial. É mais familiar. Eu me senti muito bem lá.

É verdade que no início da carreira você atuou num time de uma funerária?

Sim, é um time de futsal de Compostela, o Funeraria Apóstol. É um dos melhores times de lá. Eu joguei futsal e futebol de campo até os 18 anos, quando escolhi apenas o campo. O Funeraria era o time que mais investia, nos dava a chance de viajar, jogar contra equipes maiores. É curioso, mas é um patrocinador muito bom, porque nunca falta trabalho. Sempre tem gente morrendo (sorri).

Você jogou na ex-melhor liga do mundo, a WPS nos Estados Unidos, e agora veio para o Damallsvenskan, que se anuncia como o melhor campeonato do mundo. Como compara as duas ligas?

Ainda não conheço tanto daqui da Suécia, mas já deu para ver que o nível é muito bom. Nos Estados Unidos o futebol é mais físico. Aqui também, mas tem mais preocupação com a técnica e a tática. Às vezes, nos Estados Unidos pareciam não entender tão bem o jogo. Acho que aqui a qualidade do jogo é melhor.

Agora você tem duas brasileiras na mesma equipe e elas, Marta e Elaine, contaram que você já sabia o significado do seu sobrenome no Brasil.

(sorri) Ah, sim. Quando cheguei ao Chicago (Red Stars) nos Estados Unidos, em 2010, a Formiga e a Cristiane jogavam lá. Nos primeiros dias, elas não disseram nada. Mas depois, quando tínhamos mais intimidade, elas me perguntaram: "Você sabe o que quer dizer o seu sobrenome no Brasil?". E eu: "Não, em espanhol significa buraco, não é nada demais". Aí elas me disseram e eu: "Nãããooo!". Muitos brasileiros me escrevem sobre isso, mas ainda bem que não tive que jogar no Brasil ainda. Na Espanha não tem problema, não quer dizer nada. É o sobreonome da família do meu pai, mas eu não contei para ninguém sobre isso. Eu mantenho o segredo.



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