Roberto Carlos, 38, fala sobre fim de carreira: “Paro ainda neste ano”

Após 23 anos, uma das carreiras mais vitoriosas da história do futebol brasileiro está chegando ao fim

Roberto Carlos: hora do adeus | reprodução
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Após 23 anos, uma das carreiras mais vitoriosas da história do futebol brasileiro está chegando ao fim. Aos 38 e com 24 títulos no currículo, Roberto Carlos vai parar. Em entrevista ao globoesporte.com, por telefone, o lateral não precisou o dia, mas confirmou a data limite para pendurar as chuteiras:

- Vou parar neste ano. Vai ser em junho ou em dezembro. Ainda não decidi a data exata, mas será neste ano - disse o lateral-esquerdo, que planeja ainda assinar em breve um contrato vitalício com o clube russo para trabalhar fora dos gramados.

Na ficha corrida, vários e variados troféus. Campeão mundial com a Seleção Brasileira (2002) e com o Real Madrid (1998 e 2002), Roberto Carlos também faturou - entre outros títulos - três Ligas dos Campeões e quatro Campeonatos Espanhóis com os merengues. O sucesso no clube espanhol, onde jogou entre 1996 e 2007, foi tanto, que o excelente momento do principal rival do Real não impressiona:

- O que o Barcelona está vivendo hoje, eu vivi por 12 anos no Real Madrid.

Em um momento da vida em que divide a profissão de jogador de futebol com a de técnico ocasional, auxiliar, conselheiro de dirigente, embaixador de Copa do Mundo, empresário musical e até jornalista por um dia, Roberto Carlos se diz resolvido. Após se aposentar, não deixará o meio do futebol, mas leva a cada dia mais sério seu principal hobby: a música.

Durante quase uma hora de entrevista por telefone, o principal lateral-esquerdo do Brasil nas últimas décadas falou sobre aposentadoria, projetos, Corinthians, entre outras coisas. Sobre a Seleção Brasileira, nada de mágoas. Afinal, foram quatro títulos, uma medalha de bronze olímpica e 125 jogos. Nem mesmo o episódio do ?meião?, na Copa de 2006, que marcou sua polêmica despedida do escrete brasileiro, parece incomodar:

- A minha história na Seleção está aí para quem quiser ver. Sou feliz por tudo o que vivi.

Globoesporte.com: Além de jogador, embaixador da Copa do Mundo de 2018 na Rússia, e treinador do Anzhi (Roberto Carlos comandou a equipe em alguns jogos na última temporada), você agora está no ramo musical, com a RC3 Shows.

Roberto Carlos: Estou há cinco anos nessa. Além de jogador de futebol, sou empresário musical. Comecei em São Paulo, com uma sociedade, mas há dois anos estou sozinho com um escritório novo. Temos alguns artistas, como a Paulinha e o Marlus, uma dupla de forró.

E de onde tira tempo para tocar um negócio no Brasil?

Tenho o Júnior, que é uma pessoa da minha inteira confiança, que me ajuda no Brasil. Trabalho com música porque é uma coisa que eu gosto muito. É até um jeito de controlar a minha vida pessoal. Gosto de desafios. Toda a minha carreira, toda a minha vida foi assim. Nada mais me assusta. Procuro aprender e levar em frente . Quero dar oportunidade a pessoas talentosas que queiram ficar conhecidas no Brasil e no exterior. Assim como foi comigo, que tive a oportunidade de ir para a Inter de Milão (em 1995) e mostrar o meu talento na Europa.

Você chegou a acumular a função de técnico no final do ano passado. Aliviado com a chegada do novo treinador, Yury Krasnozhan?

Não é bem aliviado. Quando chega um treinador novo, tudo muda. Tínhamos uma filosofia de trabalho no ano passado, e agora ele está se adaptando ao clube. Pouco a pouco, no dia a dia, ele vai se adaptando. O Yury Krasnozhan era treinador do Lokomotiv, é russo, e tem uma grande experiência no futebol russo. Precisa se adaptar à estrutura do Anzhi, que é uma estrutura como a do Real Madrid, como dos maiores clubes do mundo. Queremos entrar nas competições europeias, conquistar o Campeonato Russo e vencer a Liga dos Campeões da Europa daqui a uns dois ou três anos.

E como dirigente? O Anzhi sondou jogadores como Neymar, Ganso, Lucas. Está de olho em jovens revelações brasileiras para a próxima janela?

Ainda estamos esperando para ver as melhores opções. O problema é que a Federação Russa não libera mais de seis estrangeiros por clube. Vamos ver o que a gente consegue. A ideia é trazer uns três jogadores russos de alto nível, da seleção, e mais uns dois estrangeiros. É claro que indico jogadores do Brasil, mas os clubes brasileiros estão dificultando muito as coisas. Graças a Deus os clubes estão conseguindo pagar bons salários e segurar os melhores jogadores. Para o futebol brasileiro, isso é ótimo, mas para a gente, aqui de fora, dificulta um pouco. Estamos atrás de um zagueiro e um atacante estrangeiro. Estamos pesquisando.

Com tantas funções no Anzhi, uma volta ao futebol brasileiro está descartada?

Sim. Não tem mais jeito. Agora meu pensamento é no Anzhi. Depois, quando parar, penso em investir no futebol brasileiro. Comprar jogadores, como o Neymar, o Ganso e o Montillo e colocá-los no clube que a gente quiser, provavelmente em clubes brasileiros. Vamos levar jogadores de alto nível para o futebol brasileiro. Isso vai abrir o mercado. Casos como os de Petkovic e Montillo são bons exemplos.

E quando isso vai acontecer? Está pensando em parar?

Vou parar neste ano. Vai ser em junho ou em dezembro. Ainda não decidi a data exata, mas será neste ano.

Mas tem contrato com o Anzhi (até junho de 2013)...

Tenho contrato de cinco anos no papel, mas vamos fazer um contrato vitalício. O contrato, inclusive, já está pronto, mas ainda não está assinado. Quando parar de jogar, vou continuar trabalhando e ajudando o clube.

Como é sua relação com o presidente e proprietário do Anzhi, Suleiman Kerimov, magnata do petroóleo?

O Suleiman me dá todas as condições de trabalho, confia muito em mim. Ele é um cara super tranquilo, uma pessoa normal, como a gente. Encontro com ele quase todos os dias. Passo a minha experiência dos tempos em que joguei em clubes grandes, como Real Madrid, Inter de Milão, o Palmeiras daquela época. Ele é uma pessoa super tranquila. Vou ficar do lado dele até o dia que ele cansar de mim (risos). Ele me trata com muito respeito, me conhece como pessoa e isso é o que importa. Como jogador, ele já me conhecia, mas agora ele sabe a pessoa que sou. Não se surpreendeu com o que ele viu. Sou o Roberto Carlos da Silva de sempre. Só aconteceu de ser jogador de futebol.

Você falou que o Palmeiras "daquela época" em que jogou no clube (93-95) foi grande. Não é mais?

No futebol brasileiro, hoje, alguns clubes não respeitam os jogadores. O Flamengo, por exemplo, contrata o Vagner Love, mas deixa de pagar todos os outros jogadores por três ou quatro meses. Na minha época, o Palmeiras era organizado, tinha grandes jogadores e pagava em dia. Hoje, o que se vê é uma bagunça, torcedores cobrando jogadores fora das arquibancadas. Esse tipo de coisa não pode acontecer.

No Corinthians isso também aconteceu contigo. Você foi cobrado por torcedores após a eliminação da Libertadores e deixou o clube...

Não guardo mágoas. Umas das maiores experiências da minha vida foi jogar no Pacaembu lotado com 35 mil pessoas, sendo contra times grandes ou pequenos. O torcedor corintiano é muito fiel. O que aconteceu na minha saída não foi coisa de torcedor. Não podemos valorizar essas pessoas. São 100 no meio de 30 milhões. São pessoas que querem aparecer. Minha passagem pelo Corinthians, no geral, foi maravilhosa. Me deu a oportunidade de disputar novamente um Campeonato Brasileiro, um Paulista, a Libertadores. Foi uma pena eu ter saído, mas não posso reclamar do nosso país.

E como vê o Brasil se preparando para a Copa do Mundo?

Eu acho que o Brasil está se preparando bem. Participei de três Copas do Mundo. Na França (1998), Coréia e Japão (2002), e Alemanha (2006). Sinceramente, acho que Brasil e Rússia (2014 e 2018) vão sediar as duas maiores Copas de todos os tempos. O futebol está evoluindo, e acredito que os estádios terão uma grande estrutura. O Brasil tem condições, e a Rússia nem se fala. Financeiramente, é um dos países mais fortes do mundo. O Qatar, em 2022, também vai sediar uma grande Copa do Mundo.

E como é ser embaixador da Copa do Mundo na Rússia?

Recebi o convite para ser embaixador da Copa na Rússia e topei. Queria ser do Brasil, mas não me convidaram para fazer parte. Tive a sorte de me chamarem para trabalhar na Copa da Rússia. Não guardo mágoas por não ter sido chamado para trabalhar no Brasil, mas acho que jogadores como eu, Rivaldo e Cafu tinham espaço para trabalhar ao lado do Ronaldo.

Guarda mágoas da maneira de como deixou a Seleção Brasileira após o episódio contra a França, na Copa de 2006? (Roberto Carlos foi apontado como um dos responsáveis pela eliminação brasileira, pelo fato de estar arrumando a meia no momento do gol de Thierry Henry, que eliminou o Brasil)

A Seleção Brasileira foi tudo na minha vida. Sou um fã da Seleção. E a minha história na Seleção está aí para quem quiser ver. Não tenho que ficar preocupado se alguém falou isso ou aquilo. Cada um tem direito de falar o que quiser, a torcida pode falar o que quiser. Pela Seleção, conquistei duas Copas América, uma Copa das Confederações e uma Copa do Mundo. Sou feliz por tudo o que vivi.

Após 125 jogos com a camisa da Seleção, gostaria de ter um jogo de despedida?

Isso não me preocupa. Minha história está marcada. Na história da Seleção, o Pelé tem sua história, o Rivaldo tem sua história, o Ronaldo tem sua história, e vão ver o meu nome também. O povo brasileiro respeita muito o Roberto Carlos. Uma minoria não vai apagar o que consegui em 23 anos de futebol.

Você trabalhou com o mano Menezes no Corinthians. Como vê a preparação do Brasil para a Copa?

Tem que dar tempo ao tempo. O Mano tem que escolher os melhores nomes. Na nossa época, todos sabiam quem eram os melhores. Agora, os torcedores têm que ter paciência e respeitar o trabalho do Mano. O time terá muitas dificuldades, sofrerá muita pressão. O Brasil tem que voltar a ganhar, o povo brasileiro está acostumado a ganhar. Temos que conquistar logo o torcedor. Não podemos deixar para conquistá-los na véspera da competição. Temos que fazer os melhores amistosos e vencer. Mas agora, o Brasil não tem que pensar no topo. Tem que pensar passo a passo e preparar o time, pois a Copa do Mundo está muito próxima. Não temos que pensar em ser o número um do ranking da Fifa agora. Temos que chamar os melhores jogadores e montar o melhor time possível. O Brasil, do número 1 ao 23, tem um dos melhores grupos de seleção do mundo, ao lado de Espanha e Alemanha. Tem tudo para convocar os melhores jogadores e prepará-los psicologicamente para a pressão, que será grande.

A disputa pela lateral esquerda, posição que ocupou durante 15 anos na Seleção, está aberta.

Conhecendo o Mano, sei que ele pode improvisar. Ele tem muitas opções. Pode improvisar o Daniel (Alves), chamar o André (Santos), o Marcelo, o Juan, o Kleber. Jogadores de qualidade ele tem. Nunca vai ter outro Pelé, outro Taffarel, outro Ronaldo, mas sempre teremos grandes jogadores. Hoje, para mim, o Marcelo é o titular. Ele pode ser titular na Copa, desde que faça o que vem fazendo no Real.

E como foi confirmar o acerto entre Vagner Love e Flamengo pelo Twitter. Viveu um dia de jornalista?

Desejo a ele muito sucesso. O Vagner é muito respeitado aqui na Rússia. O melhor de tudo é que fui o primeiro a dar a notícia pelo Twitter. Atropelei vocês da imprensa (gargalhadas). Foi uma experiência boa. Um dia de jornalista (risos). Falando sério, foi um jantar super agradável com o Love e o dirigente do Flamengo (Michel Levy, vice de finanças do clube carioca). As negociações (entre Flamengo e CSKA) estavam acontecendo. Jantando com o Vagner, tinha certeza de que o presidente do CSKA (Yevgeny Giner) não iria dificultar e meti no Twitter. Ele merece estar de volta ao Brasil. Vai jogar ao lado do Ronaldinho, do Léo Moura. Espero que ele volte bem, volte a fazer gols, se sinta feliz na casa que ele gosta. Ele gosta muito do Flamengo e está muito feliz.

Para encerrar, como é para você ver o Real Madrid perdendo tanto para o Barcelona como nos últimos anos? Esse Barcelona é mesmo um dos melhores times da história?

Vivi 12 anos no Real Madrid e foram 12 anos ganhando títulos. Ganhávamos pelo menos um título por ano. O Barcelona está ganhando há seis, sete anos. São fases do futebol, e eu já passei por isso no Real. O mais difícil é se manter no topo. É normal dá uma caidinha depois de um tempo. O Real Madrid pode voltar a vencer o Barcelona, mas tem que jogar como no último jogo (empate por 2 a 2 na Copa do Rei, que eliminou o Real Madrid da competição), quando teve uma atuação completamente diferente das que vinha tendo nos últimos clássicos. O que o Barcelona está vivendo hoje, eu vive por 12 anos no Real Madrid.



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