92% das escolas focam no Enem durante o 3º Ano em Teresina

A pesquisa divulgada pelo Laboratório de Estudos Interdisciplinares revelou que no 3º ano, escolas deixam de lado o modelo de ensino convencional

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Um levantamento realizado pelo Laboratório de Estudos Interdisciplinares (LEI) sobre a qualidade do Ensino Médio brasileiro em 2014 trouxe informações surpreendentes sobre o projeto pedagógico para o 3º ano.

O grupo independente de estudos, fundado há cinco anos em Brasília, analisou 80 escolas públicas e privadas em 11 estados brasileiros (além do Distrito Federal).

Das particulares, 92% transformou o 3º ano do Ensino Médio em etapa preparatória para o Exame Nacional do Ensino Médio ? Enem, deixando de lado as aulas convencionais do currículo escolar. Os dados da pesquisa foram divulgados em matéria da Revista Educação, em sua página virtual.

Na mesma pesquisa, 12% das escolas públicas estaduais e 78% das federais adotou este modelo de ensino. A pesquisa foi realizada pelos membros do Laboratório, a maioria é composta por professores doutores. Uma das grandes preocupações apontadas é a concentração do currículo escolar em apenas dois anos, no 1º e 2º anos.

Em Teresina, realidade parece ser semelhante, segundo o que aponta grande quantidade de propagandas de escolas particulares, com outdoors espalhados pelas ruas e expondo índices de aprovação de seus alunos.

Alguns estudantes, como Juliana Raquel Andrade, que recentemente obteve aprovação no Enem, considera positivo o novo foco das escolas em relação ao 3º ano.

?Apesar de já ter concluído certo tempo atrás o Ensino Médio, eu acredito ser bastante produtivo direcionar as aulas para a preparação do Enem, já que o 3º ano é basicamente revisão e os conteúdos principais são vistos nos dois anos anteriores. Os alunos só têm a ganhar?, disse a estudante universitária.

O professor de Língua Portuguesa, Nilson Ferreira, é contra essa prática de escolas. Para ele, há preocupação com a formação do jovem, que não pode ser deixada de lado pelas escolas. Ele reforça que a prática pode trazer prejuízos futuros em relação aos conhecimentos, que farão falta à vida profissional desses estudantes.

?Na verdade, o que as escolas fazem é um comércio e não existe mais uma preocupação na formação do indivíduo, que é visto como uma máquina de passar em vestibular. É preciso analisar que conhecimentos o aluno vai precisar no futuro, que é o mais importante.

Também se pode notar o desinteresse atual dos alunos pela língua portuguesa, já que eles são direcionados apenas para o Enem, que sempre lança perguntas bobas com base em textos e que não requer muito conhecimento ou reflexão?.

O professor acrescenta que a prática é adotada por grande parte das escolas particulares, com algumas exceções, e que falta o incentivo das escolas para o consumo de literatura de qualidade.

Disciplinas suprimidas dos últimos anos

O professor de História e Inglês, Mario André de Oliveira Cruz, também concorda que a corrida para a aprovação no Enem tornou o ensino mercantilizado, onde assuntos detalhados são deixados de lado e disciplinas muito importantes foram suprimidas dos últimos anos de Ensino Médio.

"Um bom exemplo foi a História do Piauí ter deixado de ser prioridade e só é ensinada até o 1º ano, no máximo. Eu me pergunto quantos desses alunos que passaram por este tipo de ensino estão realmente preparados para estarem na universidade e quantos deles escrevem, se expressam bem ou formulam uma ideia coesa e com argumentos plausíveis".

O professor da área de linguagem, Alex Romero, ao contrário do que defendem outros professores, afirma que focar o Enem é uma realidade e que o Ensino Médio não pode mais fugir dele.

"Com o foco no Enem nós conseguimos deixar as aulas mais funcionais, práticas e mostrando a aplicabilidade do conhecimento no cotidiano, o que torna o assunto muito mais atraente para os alunos. Mas esta metodologia não é restrita só ao terceiro ano, começamos aos poucos no segundo ano a conscientizá-los sobre o Enem.

Com base nisso, a escola onde eu ensino também acrescentou mais disciplinas ao currículo, como Artes, Sociologia, Filosofia e Interpretação de Textos, que era uma dificuldade de alguns alunos", explicou Alex Romero.



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