Eles têm como passatempo a conversa, passeios no salão, dança, karaokê, artesanato e outras diversas atividades em grupo. São idosos que por algum motivo dependem dos cuidados de profissionais de saúde, funcionários e voluntários da Fundação Abrigo São Lucas, localizada na zona Leste de Teresina.
Na instituição de longa permanência, laços de afeto são construídos através de alicerces valiosos: carinho, atenção e cuidado. Mas poucos sabem o que desencadeou a chegada de cada idoso ao abrigo. Liliane Costa, coordenadora do São Lucas, conhece de perto cada história.
Liliane coordena o abrigo e ajuda no cuidado com os idosos (Foto: Raissa Morais)
"São vários fatores. Com o passar dos anos, percebemos a diferenciação entre cada um. Existe a falta de cuidado dos familiares, problemas no relacionamento, tempo, o motivo financeiro, filho envolvido com drogas, alcoolismo de um pai, caso de pais que abandonam a família e os casos de filhos que rejeitam os genitores por considerarem o idoso um peso na vida deles", comenta.
Alguns moradores tinham casa, filhos, companheiros e um emprego. No entanto, o tempo e as dificuldades de convivência transformaram em lar um lugar repleto de novos amigos, uma oportunidade de nutrir novas relações.
Há um ano e meio, a maranhense Marta Alba, 62 anos, mora no Abrigo São Lucas. Ela foi deixada pela sua única filha devido dificuldades de conciliar trabalho e cuidados com a idosa. Todos os dias, Marta lida com o peso de uma saudade e também com a dor do abandono.
"Sou do Maranhão, mas eu morava em Fortaleza. Minha filha ainda hoje mora lá. Eu sinto muito a falta dela. Quando ela não vem, me desespero. O meu marido me deixou. Dizia que me amava, casaria comigo, mas ele saiu de casa e me deixou com uma filha para cuidar", expressa.
Mesmo quando o choro é promovido pela tristeza e remorso, a idosa busca meios para passar o tempo com um sorriso no rosto. Literatura romântica, novas amizades, melodias do cantor Roberto Carlos e o cuidado que recebe dos funcionários do Abrigo São Lucas aliviam alguns sentimentos.
Empolgada com a chegada do Natal, ela pede a valorização da família. "O Natal não é só a chegada de Jesus, é algo profundo e que toca no nosso coração. É a felicidade que vem nascendo, o amor, um amor que eu recebo aqui", conta.
Espaço possibilita melhoria de vida para idosos
O Abrigo São Lucas também permite melhoria de vida. Há quatro anos Paulo Amorim, 72 anos, morava sozinho em uma casa alugada no bairro Buenos Aires, zona Norte de Teresina.
Álcool, cigarro, alimentação inadequada e a solidão faziam parte do seu dia a dia. Quando percebeu graves sintomas do vício em nicotina, buscou ajuda de amigos e familiares. Morar em um abrigo de idosos era, de longe, sua última opção. Ainda assim, decidiu mudar sua condição.
"Quando eu cheguei aqui, detestei, não gostava de nada. Mas veio a pandemia do coronavírus e deixei o tempo passar, fiquei. Sou muito religioso, as coisas de Deus não são da noite para o dia, elas acontecem aos poucos. Assim eu comecei a gostar do espaço, das pessoas, gosto de ficar no portão, converso com a morena [Liliane Costa], pessoas me ajudam", explica Paulo.
Segundo Liliane, algumas histórias de abandono e desentendimentos familiares são difíceis de ouvir. Ser resiliente e cultivar o perdão são os ingredientes que tornam a sua vida e a dos idosos mais doce.
"Eu peço a Deus todos os dias para que eu tenha sempre a sensibilidade, que eu chore, fique revoltada e nunca me conforme com algumas situações. Eu quero viver minha velhice de forma amparada. Mas hoje queria poder ajudar todos", diz a coordenadora da instituição de longa permanência.
Pix solidário
Para fazer doação à Fundação Abrigo São Lucas, é possível fazer um PIX por meio do número do CNPJ 00329756000189.
Esta matéria faz parte de uma iniciativa do Grupo Meio Norte de Comunicação (GMNC) em parceria com instituições sociais para apoiar a população em situação de vulnerabilidade socioeconômica, entre outros grupos que foram impactados pela pandemia da Covid-19.
A ação compartilha histórias com objetivo de transformar vidas e arrecadar recursos financeiros para compra de alimentos e demais materiais solicitados pelas entidades participantes.
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