Após invasão em e-mails, hacker vaza supostos documentos do Itamaraty

Pasta com mais de 400 arquivos inclui telegramas e informes sigilosos. Ministério não confirmou veracidade e busca impedir novos ataques.

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Uma pasta com mais de 400 arquivos contendo supostos telegramas diplomáticos, informes internos e documentos de órgãos internacionais pertecentes ao Ministério das Relações Exteriores vazou na internet após hackers invadirem o sistema de comunicação interna do órgão. Os papéis em formato digital foram disponibilizados nesta sexta (30) por meio de um link compartilhado em sites e perfis de redes sociais ligados ao grupo de ativistas "Anonymous".

Entre as centenas de arquivos, acessados, há, por exemplo, relatórios de orientação para a visita ao Brasil, em agosto do ano passado, do secretário de Estado americano John Kerry; instruções para negociação pelo Brasil de normas internacionais para a não proliferação de armas nucleares; e ainda uma lista de ministros estrangeiros que visitarão o Brasil para a Copa do Mundo, relacionando que jogos cada um assistirá nos estádios.

Por meio de sua assessoria de imprensa, o Ministério das Relações Exteriores afirmou que não confirma a autenticidade dos documentos e a veracidade do conteúdo, em razão de estarem em arquivos editáveis. Disse ainda que não comentaria as informações contidas nos arquivos; e que vem tomando medidas para evitar novos ataques à sua rede de comunicações.

Os documentos disponibilizados, datados de 2008 em diante, possuem formatos, linguagem e códigos próprios das comunicações diplomáticas e trazem dados e informações pertinentes sobre vários assuntos que dominam a agenda da política externa brasileira. Parte está classificada como "reservado" ou "confidencial", apenas para consulta do destinatário.

No relatório para a visita de Kerry, por exemplo, há um perfil completo do secretário, panorama da política interna e externa americana, números do comércio exterior, além dos chamados "pontos de conversação", relacionados a temas que interessam ao Brasil. Entre eles, apoio a um assento permanente no Conselho de Segurança da ONU, fim dos vistos para turistas brasileiros e negociação para acabar com a dupla tributação de produtos exportados.

O documento faz menção às denúncias de espionagem americana, reveladas a partir de julho, sobre brasileiros e autoridades no país, incluindo a presidente Dilma Rousseff. O autor, não identificado, escreve que "apesar de sua gravidade, o tema não deve, na minha opinião, dominar a agenda bilateral" e que acha "importante evitar que esse problema se torne o tema dominante" de uma visita que Dilma faria a Barack Obama em outubro, que acabou cancelada.

Além da lista com ministros estrangeiros que virão ao Brasil para a Copa, há um documento relatando recente reunião ocorrida em 14 de maio entre diversos órgãos do governo com consulados em que foram passadas instruções para a chegada de delegações, torcedores e autoridades estrangeiras no aeroporto Tom Jobim (Galeão), no Rio, incluindo telefones de pessoal da Infraero para eventual necessidade.

Outras dezenas de documentos têm como remetentes diplomatas lotados em outros países relatando o andamento de negociações sobre imigração, negócios, direitos humanos, acordos internacionais. Parte se constitui de relatórios semelhantes ao sobre Kerry, para visitas do ministros ou de autoridades brasileiras ao exterior. Um deles é destinado ao vice-presidente Michel Temer à Rússia, em 2011, contendo os intenções de parcerias em áreas como tecnologia e metas para o comércio.

Invasão

A invasão ao sistema de comunicação interna do Itamaraty foi registrado na semana passada e na última segunda (26), com a obtenção de e-mails de servidores do ministério. O sistema chegou a ser tirado do ar para troca de senhas e a pasta pediu investigação da Polícia Federal e do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), responsável pela inteligência do governo.

O Ministério das Relações Exteriores não informou sobre a origem e suspeitos de operar o ataque, cuja extensão e eventuais danos estão sendo averiguados pela Divisão de Informática do ministério. Pelo sistema, trafegam informações sigilosas e mais sensíveis, geralmente criptografadas.

As primeiras informações dão conta de que os ataques utilizaram um método conhecido como "phishing", muito usado por hackers. Eles enviam e-mails falsos com conteúdos aparentemente verdadeiros. A pessoa clica e o programa rouba informações do computador.

Em abril, o relatório final da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) no Congresso, que apurou denúncias de espionagem estrangeira no Brasil, apontou que o país apresenta "vulnerabilidade" e "despreparo" em segurança cibernética.

A CPI da Espionagem foi instalada no Senado depois de vir à tona uma série de denúncias de que agências de inteligência dos Estados Unidos teriam espionado e-mails, telefonemas e dados digitais de autoridades e cidadãos brasileiros, entre os quais a própria presidente Dilma.



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