Brasil apoia energia nuclear de olho no poder e no futuro

País ganha peso ao conversar com o Irã e trabalha para se tornar potência nuclear

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Ministro das Relações Exteriores | R7.com
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O chanceler Celso Amorim discursa, nesta terça-feira (2) no fórum Global Zero, em Paris. O evento defende a eliminação das armas nucleares num momento em que o uso da energia atômica volta ao centro do debate diplomático e no qual países como o Irã preocupam pela insistência em desenvolver um programa duvidoso. A aposta do Brasil é no uso pacífico da energia. Com essa postura, o Itamaraty tenta acertar dois alvos com um só tiro: ganhar prestígio internacional ao ser interlocutor na questão iraniana e pavimentar o caminho para o Brasil se transformar numa potência nuclear com fins pacíficos.

A energia nuclear, que horrorizou o mundo com a explosão das bombas atômicas em Hiroshima e Nagasaki, no Japão, volta a ser uma opção à medida que o petróleo acaba e há necessidade de energia limpa. Dono de tecnologia e de grandes reservas de urânio, o Brasil pode surfar nesta onda. Mas a possibilidade de que países como o Irã desenvolvam programas com fins de guerra também assusta o mundo. Por isso, a aproximação de Brasília com o governo Mahmoud Ahmadinejad é vista com desconfiança.

Segundo fontes do governo, Amorim tem conversado sobre o tema com o Grupo dos Seis (EUA, França, Reino Unido, Alemanha, China e Rússia), que negocia a questão com o Irã, "mas só quando é convidado". O Brasil apoia o programa nuclear iraniano (que Ahmadinejad jura ser pacífico, no que os EUA não acreditam).

Segundo Pedro Barros, pesquisador do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) e professor da PUC-SP, o posicionamento aberto do Brasil em relação ao Irã é uma posição acertada da política externa brasileira.

- O Brasil tem ganhado espaço internacional cada vez maior. A política externa do Itamaraty sempre foi pautada pelo diálogo. É importante manter os canais de conversa. Se o Brasil adotar a postura dos EUA e de parte da Europa, de isolar o Irã com sanções e embargo, isso pode radicalizar mais a posição dos iranianos.

A preocupação do Ocidente é que o Irã desenvolva armas para atacar Israel. Barros ressalta, no entanto, "que o próprio EUA deram mostras de que confiam no Brasil". À medida que se torna uma opção de interlocutor do Irã, o Brasil ganha prestígio nas relações internacionais e tenta firmar seu papel como "global player" (ator mundial).

Brasil se vacina contra críticas do futuro

Dono de tecnologia nuclear e de grandes reservas de urânio (o combustível no processamento atômico), o Brasil deve usar isso a seu favor para se estabelecer como uma potência energética no futuro:

- O Brasil tem potencial nuclear extraordinário. Hoje parte dos países que desconfiam do Irã, por exemplo, pode questionar o Brasil no futuro.

O potencial nuclear deve se somar às gigantescas reservas de petróleo do pré-sal e à produção crescente de etanol a partir da cana-de-açúcar. Por ser limpa, a energia nuclear voltou a ser considerada por vários governos, como o da Alemanha, que após desacelerar seu programa por décadas volta a fazer pesados investimentos no setor.

Revisão do TNP

O chanceler Amorim pode, em algum momento, sugerir a revisão de alguns pontos do Tratado de Não Proliferação de Armas Nucleares (TNP), assinado pelo Brasil em 1998, no governo Fernando Henrique Cardoso.

Segundo Barros, "o pequeno êxito do Tratado se deve ao fato de Índia, Paquistão e Israel não serem signatários. O Irã assinou, então recebe às vezes os inspetores internacionais".

Barros lembra que potências que já tinham armas nucleares, como França e EUA, deveriam "diminuir seu arsenal e cooperar no desenvolvimento de tecnologia para fins pacíficos", mas estes países "não têm feito satisfatoriamente nem uma coisa nem outra", diz.



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