Cadeirante fez 28 cursos de EAD e hoje acumula dois empregos

Ensino a Distância (EAD) foi uma das estratégias que o Becasse adotou para se profissionalizar.

Fernando Becasse, 31, já fez 28 cursos a distância e supera as dificuldades de uma paralisia cerebral | Uol
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Estudar já foi penoso para Fernando Becasse, 31. Seu maior obstáculo, conta, era o preconceito que sofria devido à locomoção por cadeira de rodas. ?O ensino médio foi um período muito difícil para mim. Na turma não gostavam de ter um paraplégico, me chamavam de mutilado?, lembra o rapaz que, desde criança, lida com as consequências de uma paralisia cerebral.

O Ensino a Distância (EAD) foi uma das estratégias que o Becasse adotou para se profissionalizar. Hoje, ele acumula quase 12 anos de experiência de estudo a distância e 28 cursos livres e técnicos finalizados, além de dois empregos. Em um dos trabalhos, Becasse é o responsável pelo departamento de relacionamento com o mercado de um site de a divulgação de cursos; no outro, faz tradução de informações para o site de uma agência de turismo.

Becasse tomou contato com as aulas a distância por um anúncio. Então, se inscreveu em um curso de motivação pessoal e não parou mais. ?Em seis meses, recuperei a autoestima. Aí já emendei outro, de gestão de empresas. Depois vieram administração, técnico em contabilidade e técnico em informática?, afirma ele, que também aprendeu inglês a distância.

O motivo de ter buscar tantas formações, Becasse explica com tranquilidade: ?Às vezes é bom ter várias formações, porque, quando surgir vaga em alguma, você vai e entra, né?? Os cursos que mais o ajudaram, diz ele, foram de auxiliar administrativo, compras e planejamento de produção, técnico em informática e técnico em contabilidade. ?Estou conseguindo juntar os conhecimentos e aplicar no meu trabalho.?

O jovem, que já fez mais de um curso simultaneamente, afirma que é fácil estudar em casa, contanto que se tenha vontade e tempo disponível. ?Tenho uma meta: quero ter meu escritório de informática. Por isso, não desanimo?, conta. ?Para estudar a distância você tem de se programar. Estudo quatro horas por dia.? Além disso, seu próximo passo é fazer uma faculdade: ?Tudo a seu tempo?, planeja.

Um dos empregos, Becasse conseguiu há quatro anos, quando conheceu o diretor do site na escola onde faz EAD. ?Nunca me senti deficiente, apesar de saber que não tenho movimento nas pernas. Os cursos me dão força e fazem com que eu me sinta capaz ao quadrado.?

EAD e inclusão social

Além de facilitar o acesso à aprendizagem para pessoas com deficiências, o EAD tem aberto, aos poucos, o ingresso no ensino superior para as classes C e D, analisa o professor João Vianney, conselheiro da Abed (Associação Brasileira de Ensino a Distância) e consultor da Hoper Educacional.

Segundo dados do Censo da Educação Superior de 2010, do MEC (Ministério da Educação), as graduações a distância oferecidas por instituições particulares têm o quase o dobro do número de alunos atendidos pelo Prouni (Programa Universidade para Todos, que concede bolsas integrais ou parciais) e pelo Fies (Fundo de Financiamento Estudantil) juntos. São 748 mil universitários estudando a distância e outros 375 mil nos dois programas governamentais somados.

Entre os estudantes que recebem bolsa do Prouni, cerca de 12%, segundo estimativas do MEC, estudam a distância. ?Estamos falando do mesmo perfil de público: alunos com renda familiar mais baixa, em transição da classe D para a C, e sem tradição de escolaridade de ensino médio ou superior na família?, diz Vianney. Os principais atrativos da modalidade são mensalidades até 75% mais baratas em relação ao ensino presencial e a flexibilidade de tempo.

Cassiane Stefanski Olkoski, 29, optou pela faculdade a distância e a formatura no curso de gestão ambiental pela Unopar (Universidade Norte do Paraná), no ano passado, foi a realização de um sonho. Depois de perder o marido quando estava grávida, aos 21 anos, adiou seus planos de estudo por três anos, até que conheceu o EAD. ?Só assim pude conciliar as aulas com a minha rotina de trabalho e de cuidado com o meu filho. E, com tantas contas para pagar, foi a solução mais acessível financeiramente também?, diz.

Para José Manuel Moran, professor de Novas Tecnologias da USP e diretor de EAD da Universidade Anhanguera-Uniderp, já era esperada a predominância das classes C e D na graduação a distância. ?Esse é um fenômeno que aconteceu no mundo inteiro no primeiro momento do EAD. Depois de atender a essa demanda reprimida, o público tende a se misturar?, diz. ?O adulto que procura uma faculdade tem trabalho e família e muitas vezes não pode ir à instituição de ensino todos os dias?, completa.



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