Carioca cria macaca em duplex com direito a cochilo em rede e mamadeira

A macaca já foi a duas festinhas infantis e “levou” presente com direito a cartão personalizado com o seu nome.

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Quando Roberta de Andrade Neves, uma empresária carioca de 40 anos e mãe de quatro filhos, chegou em casa com Sallomé no ombro, a família inteira achou que ela tinha perdido o juízo.

? Uma macaca de estimação? ? indagou, incrédula, a publicitária Tathiana de Andrade Neves, irmã de Roberta.

Roberta adquiriu Sallomé, uma fêmea de macaco-prego, há três meses na pet shop Birds, na Barra (um dos 497 estabelecimentos autorizados a comercializar animais silvestres no país, segundo o Ibama). Um filhote de primata custa, em média, R$ 50 mil.

? Sempre fui apaixonada por macacos e, sabendo disso, uma amiga comentou que tinha visto uma macaquinha à venda. Não sabia nem que a comercialização era legal. Curiosa, fui à loja e me apaixonei ao primeiro pulo de Sallomé para o meu colo. Avisei ao dono da pet shop que iria levá-la para casa mesmo sem saber como pagaria. Estou pagando até hoje ? diz Roberta, que negociou descontos: na ?carteira de identidade? de Sallomé, abaixo do número de seu chip (espécie de CPF animal), consta o valor de R$ 35 mil.

Sallomé mora com Roberta numa cobertura duplex no Leblon, onde também vivem um buldogue francês, um peixe e uma tartaruga. Toma banho no chuveiro e usa xampu Johnson. Tem um viveiro, onde tira cochilos numa rede de chita e faz as refeições. No café da manhã, bebe leite na mamadeira. À tarde, toma Danoninho de banana. No jantar, come purê de batata-inglesa que, uma vez por semana, é acompanhado de carne moída.

? Ela não gosta de aipim nem de batata-baroa. Mas adora geleia de mocotó, que provou por recomendações da veterinária ? conta Carlene Carvalho, que foi babá dos filhos de Roberta e hoje cuida de Sallomé.

Para trocar a fralda da serelepe macaca, que tem 8 meses, pesa um quilo e meio e veste tamanho recém-nascido da Huggies, Carlene sua a camisa para segurar seus bracinhos.

? Quando fizer um ano, ela vai desfraldar ? prevê Roberta. ? É uma macaca inteligente. Quando faz xixi, nos avisa que precisa ser trocada, apontando para a fralda. Cuidar de uma macaca dá mais ou menos o mesmo trabalho que cuidar de uma criança.

De dia, Sallomé anda solta pela casa e se exercita na escada que leva ao segundo andar do apartamento. Os passeios acontecem em ocasiões especiais, pois a empresária teme deixar Sallomé estressada. Quando saem juntas, precisam parar a cada esquina, pois gente à beça quer tirar fotos com a macaca. Foi assim no último passeio da família na Praia do Leblon, no início do mês. Foi assim no lançamento de coleção de uma multimarcas de luxo em Ipanema, duas semanas atrás. E é assim toda vez que Sallomé vai com Roberta buscar os filhos no Colégio Santo Agostinho.

A macaca já foi a duas festinhas infantis e ?levou? presente com direito a cartão personalizado com o seu nome. Em outubro, vai ganhar festa para comemorar seu primeiro aniversário.

Sallomé nasceu no criadouro Aves do Paraíso, em Xanxerê, município de Santa Catarina, o único autorizado a vender macacos-prego no Brasil. Cuta, a macaca do jogador Emerson Sheik, do Corinthians, e Julia, a macaca da socialite paulistana Renata Scarpa, também vieram do mesmo plantel.

? A procura por macacos de estimação tem aumentado a cada ano ? afirma Raquel Pedroso, proprietária do Aves do Paraíso, fundado em 2002. ? É um bicho para magnatas, pelo alto custo de tudo relacionado a ele. O macaco-prego vive bem por 40, 50 anos, e, em geral, se reproduz uma vez por ano.

Comprar um macaco é legal desde que o animal tenha nascido em cativeiro. Sem certidão de nascimento, a macaca Carla chegou a ser retirada da residência da dona-de-casa Elizete Carmona, em São Carlos, São Paulo, no último dia 3, após denúncia de vizinhos. Carla foi levada quando ainda era chamada de Chico (após exames, descobriu-se que era uma fêmea) para a Associação Protetora dos Animais Silvestres de Assis, onde ficou hospedada por 16 dias. Na semana passada, Elizete conseguiu autorização judicial para ter sua macaca de volta. O caso esquenta o debate acerca da Resolução 457 do Conselho Nacional do Meio Ambiente, datada de 25 de junho deste ano, que trata da guarda provisória de animais silvestres apreendidos: ambientalistas acreditam que a nova legislação possa incentivar o tráfico de animais.

? A decisão acaba sendo uma deseducação ambiental. Independentemente da boa fé da senhora, a macaca Carla foi retirada da natureza de forma ilegal ? critica Roberto Cabral, analista ambiental do Ibama.

Em março, o astro pop Justin Bieber, de 19 anos, ganhou um macaco-prego albino de presente. No mesmo mês, o macaco Mally foi confiscado na alfândega de Munique por seu dono não estar com os certificados de vacina. Com agenda a cumprir, o cantor seguiu viagem em turnê e abandonou o bichinho. Mally virou propriedade do governo alemão em maio, quando Justin Bieber perdeu o prazo determinado pelas autoridades para pagar a multa de US$ 1,5 mil. Desde então, o macaco vive num parque de animais, onde virou uma espécie de astro do mundo animal, com muitos fãs.

Em São Paulo, a macaca Julia, de Renata Scarpa, virou estrela de um comercial de TV no qual rouba um celular ? macaquice digna das travessuras de Crystal, macaca-atriz que fuma e bate carteiras no filme ?Se beber não case 2?. Adestrada por André Poloni, a macaquinha brasileira dá salto mortal, toma iogurte com a colher e dorme chupando o dedo do pé. O adestrador tem seis ?clientes? primatas, além de ratos, galos, peixes e cães.

? Comecei adestrando minha cadela com os métodos que aprendi num livro. Depois, fiz cursos de especialização e aprendi a técnica chamada ?reforço positivo?, que permite adestrar qualquer tipo de animal ? diz ele, que tem 26 anos, cursa Veterinária, também tem um macaco de estimação e estuda a espécie em seu trabalho final de curso. ? O prego é o macaco mais inteligente da América Latina. Nos Estados Unidos, a ONG Helping Hands treina macacos para auxiliar tetraplégicos. Eles pegam leite na geladeira e põem canudinhos nos copos...

O adestrador de macacos recomenda o uso de coleiras quando os primatas vão à rua: apesar da inteligência exaltada, eles não têm noção de perigo, e podem atravessar a rua correndo ou levar um choque ao subir em um poste. André vai além nas advertências:

? Embora os macacos-prego sejam encantadores, há ocorrências de acidentes. Quando eles atingem a maturidade sexual e não estão bem treinados, podem fazer estragos, como morder o braço de pessoas e até arrancar dedos. Na linguagem dos biólogos, eles são chamados de ?macacos-praga?, pois antigamente pessoas sem instrução os compravam e, depois de uma mordida ou um ataque, abandonavam os bichos em zoológicos. Se o macaco não tiver atividade física frequente, fica estressado em cativeiro.

No Zoológico do Rio, no Alto da Boa Vista, há cerca de 60 macacos-prego.

? O macaco-prego é o bicho mais engraçado do zoológico, ele joga comida nos visitantes e faz graça para as câmeras fotográficas. Em casa, ele pode se tornar agressivo, sim, se não chegar bem novinho. E mais: o animal pode ser dócil com o dono e mudar de comportamento de uma hora para outra com um estranho. Isso acontece, pois se trata de uma domesticação muito recente ? ressalta o biólogo Marcos Jabour, do Zoológico do Rio.

Em resumo, Marcos é contra a comercialização de macacos-prego:

? É legal, mas quem vai na casa das pessoas conferir se o animal está sendo bem tratado? O Ibama não tem condições de fiscalizar todas as residências que possuem animais silvestres. Nada substituiu o ambiente natural.



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