Gravidez na adolescência. Uma questão complexa que vez ou outra vem à tona como discussão na mídia e sociedade. No Brasil, a cada hora uma adolescente dá à luz a outra criança. Neste contexto surge a Casa Maria Menina, obra social mantida pela Congregação das Irmãs dos Pobres de Santa Catarina de Sena, fundada em 15 de setembro de 1998, e que presta um serviço de apoio às adolescentes nesta situação.
A Casa é o único serviço socioassistencial do estado do Piauí que trabalha especificamente com meninas grávidas. Em 22 anos de história, a realidade da gravidez precoce também mudou. Diante disso, o staff da entidade busca enfrentar a vulnerabilidade social, riscos e preconceitos a partir de um olhar humanizado sobre as jovens.
Através de uma construção diária de hábitos, valores e consciência, as jovens aprendem a serem mães. Como fazer um enxoval? E trocar a fralda do bebê? Além disso, elas incentivam a prática do afeto, como forma de cultivar o amor de mãe para o filho que vem aí.
O apoio é incondicional: do espiritual ao psicológico. Ao todo, mais de 900 adolescentes já passaram pela Casa Maria Menina. “Existia a Casa de Zabelê, e lá algumas meninas ficavam grávidas e não tinham como ser atendidos. Então Dom Miguel pediu à congregação para que pudéssemos atender essas meninas. Então começamos a atender não só as meninas de lá, mas de toda a Teresina. Essa obra se estendeu e hoje é um serviço de utilidade pública”, revela Irmã Raimunda Lopes, diretora da Casa.
As meninas entram 8h e saem às 16h. Neste período elas tomam café, lancham, almoçam e tem o lanche da tarde antes de sair, de segunda à sexta-feira. “Elas têm todo o atendimento. Recebem atenção na alimentação, com nutricionista, e desenvolvem neste período de gravidez o amor pelo filho. Muitas vezes elas vêm de um ambiente que não é tranquilo, é repleto de conflitos. Então aqui fazemos uma vivência tranquila e saudável. Estamos preparando elas para serem mães”, acrescenta a religiosa.
“Aqui aprendi a ser mãe”
E.C., de 17 anos, foi mãe aos 16 do pequeno N.D., de seis meses. A experiência precoce com a gravidez não tirou a menina dos trilhos, após os momentos na Casa Maria Menina. “Aqui tive uma experiência muito positiva. Aprendi muitas coisas. Aprendi a pintar, a costurar. Aprendi a conviver com as outras pessoas. Respeitar as pessoas. Aqui aprendi a ser mãe. Só tenho agradecer por eu ter feito essa experiência aqui, então só tenho agradecer às irmãs”, revela.
O aprendizado na Casa lhe trouxe o sentimento de pertencer a uma família, além de impulsionar a busca por melhores condições de vida. “Aqui pude fazer amizades além de aprender coisas que podem, no futuro, serem uma possibilidade de trabalho. Sobre o Nícolas, ele é muito brincalhão. Aprendi a ter um sentimento de adoração ao meu filho. Ele é minha maior inspiração para seguir em frente e não depender de ninguém. Quero superar meus obstáculos e ele é minha maior motivação”, considera.
Histórias de vida diversas
A psicóloga social Lya Passos revela que são muitos casos diferentes que chegam à Casa Maria Menina. Ela reconhece que cada caso necessita de um atendimento invidual, pois muitas das adolescentes chegam com um histórico de vida difícil.
A solução é acolher essas garotas da melhor forma possível. “É uma situação bem complexa. Nosso trabalho é desde a acolhida, quando conhecemos ela e a família. Tomamos par da história de vida delas, respeitando muito isso, para traçar um plano de acompanhamento individual. Muitas dela chegam aqui com relato de abuso sexual e a gravidez vem disso. Tem delas que é a iniciação sexual precoce. Outras até planejam a gravidez, porque tem um relacionamento com outro rapaz e acha que isso vai fazer ela formar uma família”, revela.
Lya acredita que a formação enquanto mãe perpassa de atitudes cotidianas. “Temos encontros em grupo sobre a responsabilidade da maternidade, que traz grandes mudanças físicas e emocionais. Além do cuidado do bebê. Como dar banho? Trocar fralda? Preparar a alimentação? É todo um passo-a-passo”, conta.
A maioria chega das meninas chega por demanda espontânea, além de referenciamento. “A maioria vem porque tiveram algum parente que passou pela casa. Já atendemos gerações da mesma família. Fazemos a contra-referência, encaminhando para a rede de proteção, que nos encaminha formalmente”, considera a psicóloga social.
Muitas chegam com baixa autoestima e problemas psicológicos. “Pensamentos suicidas, que acontece muito. Estamos até em setembro amarelo, é bom ressaltar. Ansiedade e medo de enfrentar a situação. Tem o bullying que leva elas a abandonarem a escola. A preservação da vida é o foco do nosso trabalho. É preciso cultivar o autocuidado e dar conforto para elas”, relata.
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