Cenas de mulher sendo arrastada por viatura causam revolta na sociedade

Entidades anunciam ações e pedem até desmilitarização da polícia

Avalie a matéria:
|
FACEBOOK WHATSAPP TWITTER TELEGRAM MESSENGER

As imagens da auxiliar de serviços gerais Cláudia Silva Ferreira, de 38 anos, que, após ser baleada em Madureira, foi arrastada por um carro da PM, presa ao porta-malas, chocaram a sociedade e causaram indignação em entidades ligadas à defesa dos direitos humanos. A OAB, por exemplo, anunciou que vai acompanhar as investigações sobre o caso. Já as ONGs Anistia Internacional Brasil e Redes da Maré disseram que o episódio expõe a visão que a polícia tem dos moradores das favelas: a de que são inimigos do estado. Para o Fórum Global, é hora de voltar a debater a desmilitarização da polícia. A Associação Brasileira de Imprensa (ABI), por sua vez, diz que é preciso discutir a educação no país.

? É um fato trágico, mas infelizmente não tão incomum quanto parece. Desta vez, uma pessoa filmou, e acabou vindo à tona essa situação que nos causa indignação. Transportar uma pessoa num porta-malas é completamente desumano ? disse Breno Melaragno, presidente da Comissão de Segurança Pública da OAB.

As cenas não saem da mente do diretor-executivo da Anistia Internacional Brasil, Átila Roque:

? É difícil dizer qualquer coisa que seja fiel ao horror e à violência cometida contra a cidadã Cláudia Silva Ferreira. Todo esse episódio é um indicativo do grau de degradação e desrespeito à vida e à dignidade humana com o qual uma parte da população é tratada pela polícia no Rio. A favela e as periferias são vistas como territórios inimigos. É preciso dar um basta definitivo a esse estado de coisas. A sociedade e o Estado precisam mandar uma mensagem clara, de que a barbárie não pode ser tolerada.

Para a diretora da Redes da Maré, Eliana Sousa Silva, o momento é muito difícil:

? Num momento em que a polícia tenta romper com o paradigma de ser historicamente violenta, ocorre uma situação como essa. Isso mostra como estamos longe de mexer com uma estrutura que deixa de lado uma parte significativa da população do Rio.

A coordenadora da ONG Justiça Global, Sandra Carvalho, diz que a atitude dos policiais é corriqueira:

? A gente vem denunciando essas ações por parte da polícia há anos. As pessoas são baleadas, e a polícia demora a levar ao pronto-socorro ou fica circulando com o ferido por várias horas até que ele morra. Está na hora de as policias passarem pela desmilitarização.

Na visão do diretor cultural da ABI, Jesus Chediak, a questão é debater a educação no Brasil:

? Esses policiais não tiveram uma educação adequada. Você não vai fazer o milagre de consertá-los na academia militar.

Dilma: caso chocou o país

Também nesta terça-feira, a presidente Dilma Rousseff usou seu perfil no Twitter para se dirigir aos parentes da vítima. ?Nessa hora de tristeza e dor, presto a minha solidariedade à família e amigos de Cláudia. A morte de Cláudia chocou o país?, escreveu a presidente.

O governador Sérgio Cabral repudiou a atitude dos três PMs que arrastaram Cláudia com seu carro, classificando o episódio como ?cena abominável?. Durante a entrega de um novo trem da SuperVia, ele disse esperar a expulsão dos policiais.

? Foi repugnante. A expulsão desses PMs da corporação é o mínimo que pode acontecer. Os três policiais não conduziram a situação de forma humana. Foi desumano, desde o atendimento até a forma como ela foi colocada dentro da viatura. Foi uma cena abominável ? disse.

Nesta quarta-feira, os três PMs, que estão presos em Bangu 8, vão prestar novo depoimento na 29ª DP (Madureira). A polícia vai fazer uma perícia na Estrada Intendente Magalhães, entre os números 800 e 1.000, por onde o corpo de Cláudia foi arrastado. Além disso, vai analisar imagens de câmeras da CET-Rio e de lojas. Taís Ferreira, filha mais velha de Cláudia, disse nesta terça-feira no ?Bom dia, Rio?, da TV Globo, que a mãe também caiu do carro da PM ainda no Morro da Congonha, em Madureira, onde morava.

Morte foi causada por tiro

De acordo com laudo do Instituto Médico-Legal (IML), Cláudia morreu devido a um tiro que recebeu no peito. Ela foi vítima de ?laceração cardíaca e pulmonar de ferimento transfixante do tórax por ação perfurocortante?. Outro laudo pericial aponta que o porta-malas do carro dos PMs não estava com defeito.

Também nesta terça-feira, a ONG Rio de Paz lançou uma petição exigindo justiça e uma indenização para a família de Cláudia. A lista com assinaturas será entregue a Sérgio Cabral.



Participe de nossa comunidade no WhatsApp, clicando nesse link

Entre em nosso canal do Telegram, clique neste link

Baixe nosso app no Android, clique neste link

Baixe nosso app no Iphone, clique neste link


Tópicos
SEÇÕES