Cheio de polêmicas, aplicativo Secret chegou ao Piauí virando caso de polícia

Cheio de polêmicas, aplicativo Secret chegou ao Piauí virando caso de polícia

Secret | Reprodução
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Nos últimos dias, um aplicativo vem tirando o sono de muita gente. Seduzidos pela promessa de anonimato, os usuários brasileiros do aplicativo Secret (Segredo, em inglês) estão utilizando a ferramenta para espalhar mentiras e difamar outras pessoas e usuários, inclusive compartilhando fotos íntimas. A situação está tão séria que virou caso de polícia em algumas cidades brasileiras, inclusive em Teresina.

O Secret é um aplicativo para smartphones e tablets criado nos Estado Unidos em janeiro deste ano. Segundo os criadores, a proposta da ferramenta é “incentivar as pessoas a compartilharem seus pensamentos e sentimentos mais profundos, gerando conversas genuínas que seriam impossíveis de outra forma”. 

No Brasil, o aplicativo está disponível desde maio, mas só agora virou moda entre os jovens e adolescentes, principalmente por conta da polêmica que está gerando.

Mural da diversão e difamação

A primeira pessoa a entrar na Justiça contra o aplicativo foi um jovem de 25 anos, consultor de marketing em São Paulo, que ingressou com uma ação na qual pediu o bloqueio da ferramenta depois que alguém publicou sua foto e seu nome em uma postagem, onde afirmava que ele participava de orgias sexuais e teria contraído HIV.

Essa semana, em Teresina, uma jovem foi à Delegacia de Crimes Virtuais para denunciar a postagem de uma foto íntima no Secret e no momento a denúncia está sob investigação. Em escolas brasileiras multiplicam-se os casos de estudantes vítimas de postagens maldosas, nos episódios mais graves, fotos de pessoas nuas com o nome são postadas.

O administrador Rafael Oliveira, de 24 anos, conta que conheceu o aplicativo depois que uns amigos compartilharam uma postagem engraçada, instalou a ferramenta no seu smartphone e conta que achou divertido no começo, mas depois viu que a situação estava mudando. “No início achei as coisas engraçadas. 

Tinha poucas postagens que falavam em relação aos outros, quando eu via alguém postando algo do tipo, excluía a pessoa da minha lista de amizades. Depois essas postagens com nomes e fotos começaram a ficar cada vez mais frequentes, então deletei minha conta e exclui o aplicativo”, revela.

O jovem ainda relata que chegou a ver mentiras publicadas com o nome de amigos e conhecidos de Teresina e que o mais comum é ver postagens sobre sexo e bullying.

“Em algumas vezes eu via os usuários falando sobre amigos e pessoas que eu conhecia e eu sei que é mentira, achei isso um absurdo. Inclusive, em outras postagens falam muito sobre quem pegou quem, ou mesmo sobre o corpo de alguém”, completa.

A estudante de Direito Willyane Melo relata que baixou a ferramenta por curiosidade, e assim como Rafael, achou as postagens engraçadas no início, mas agora as publicações estão “pesadas”.”Eu baixei para ver como era.

Algumas coisas eram engraçadas, mas depois os usuários começaram a pegar pesado, muitas das postagens tratavam-se de usuários falando sobre ex-namorados, pessoas que não gostavam e coisas do tipo “, conta Para Willyane, as pessoas utilizam o anonimato propiciado pelo aplicativo para fazer acusações e difamações e que essas pessoas deveriam ser responsabilizadas por seus atos.

“Mesmo as publicações sendo anônimas, eu não tenho o direito de falar mal de outra pessoa, muito menos de espalhar inverdades nem fotos íntimas, isso é criminoso. Essas pessoas deveriam ser responsabilizadas”, diz a estudante de Direito.

Usuário pode ser encontrado 

Delegada titular da Delegacia de Repressão aos Crimes de Alta Tecnologia, Cristiane Vasconcelos diz que o anonimato no Secret não existe, pois o usuário cadastra seus dados pessoais para utilizar o aplicativo. 

“Apesar da ferramenta prometer anonimato, o usuário deve realizar o cadastro com seus dados pessoais, inclusive com o número do telefone e a opção de conectar-se ao Facebook. Por isso, caso alguém sinta-se prejudicado e entre com uma ação judicial junto ao Ministério Público ou a polícia, é possível que o usuário que fez as postagens seja encontrado e responda pelo seu ato”, alerta.

De acordo com os especialistas, o aplicativo fere a legislação brasileira ao prometer o anonimato do usuário.

Segundo o Marco Civil da Internet aprovado e sancionado pela presciente Dilma Rousseff este ano, os provedores de internet devem adotar critérios para funcionarem no Brasil, como a transparência de informações. Assim, o Secret que promove o anonimato de seus usuários está funcionando irregularmente.

A delegada aconselha os usuários que se sentiram ofendidos com alguma postagem a fazerem uma ocorrência na delegacia e denunciar a postagem no site do aplicativo. “O usuário pode vir aqui e fazer uma ocorrência, com as provas necessárias, como a postagem que o ofendeu, e tomaremos as providências necessárias para começar as investigações. A pessoa também pode fazer uma denúncia no próprio site do aplicativo no www.secret.ly, que a postagem poderá ser retirada”, explica. 

Entenda o aplicativo 

Ao instalar o Secret, que está disponível nos Sistemas Operacionais Android e IOS (Nas lojas Google Play e Apple Store), é necessário se cadastrar para começar a fazer uso do serviço. 

Há a opção de criar um registro, mas também é possível conectar a conta do Facebook. Depois disso, o aplicativo abre na aba "Explorar", opção que mostra os segredos compartilhados em sua rede de amigos de forma anônima.

Apesar da ferramenta exigir as informações do usuário, em nenhum momento são exibidos dados relativos a ele no uso do aplicativo, como nome ou foto. O máximo que o programa mostra é a localidade da pessoa que contou o segredo.

Os comentários e "likes" dentro da plataforma também não revelam o autor da ação. Porém, os compartilhamentos em redes sociais, email e sms mostram que o usuário partilhou o segredo dos outros.

Na hora de criar uma informação a ser compartilhada com todos, pode-se personalizar o fundo da mensagem com cores e texturas diferentes ou mesmo com fotos. 

Tudo é uma questão de educação 

Para o psicólogo Iury Viana, o ser humano sente uma necessidade de chamar atenção e a internet está sendo utilizada como uma forma de facilitar essa propaganda pessoal, pois é através das redes sociais que as pessoas têm contato com a vida do outro e veem o que está acontecendo de forma mais veloz.

Ainda segundo o psicólogo, falta bom senso por parte dos usuários, pois além da propaganda pessoal, eles acabam utilizado o computador como uma arma, onde ninguém será punido por acharem que tudo é feito de forma anônima.

"O que estamos vendo hoje em dia é que o Secret está sendo utilizado como uma forma de ataque pessoal, já que os usuários postam segredos de outras pessoas com seus nomes, ou seja, em vez de ajudar as pessoas a "desabafarem", está se tornando um espaço aberto para realização do cyberbullying", revela.

Iury ressalta que a proibição do aplicativo pela justiça não vai resolver o problema, mas sim medidas judiciais mais rígidas quanto aos crimes cometidos e que deve ser feito uma reflexão sobre a educação das pessoas que estão utilizando esses aplicativos.

"Não falo somente em relação à escola, mas também numa clara referência à família dos usuários, já que muitas ações que realizamos em nossas vidas são reflexo daquilo que aprendemos no ambiente familiar. Não temos que discutir isso apenas nas escolas ou na esfera governamental, mas também dentro do nosso lar", finaliza. 



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