Com sonho em cursar direito, matemático cego prestará o Enem em 2019

Marcos Aparecido da Silva quer voltar a trabalhar e ajudar pessoas que não tenham ciência de seus direitos.

|
FACEBOOK WHATSAPP TWITTER TELEGRAM MESSENGER

Cego há oito anos, o professor de matemática aposentado Marcos Aparecido da Silva, de 42 anos, vai prestar o Enem neste domingo (3). Marcos descobriu ser diabético tipo 1 aos 17 anos, quando estava terminando o ensino médio. Desde então faz uso diário de insulina. Ele cursou matemática e dava aulas em duas escolas: uma particular e outra da rede estadual de ensino. As informações são do G1.Foto: Celso Tavares/G1

Em 2009, aos 32 anos, ele começou a perder a visão. "Eu estava tomando banho e parece que pingaram uma gota de tinta vermelha nos meus olhos. [Essa sensação] era a retina tendo descolamento." Ele passou por cirurgia, mas dois anos depois perdeu totalmente a visão. Em 2014, ele conseguiu se aposentar.

A adaptação foi "muito complicada". "O começo da perda de visão é muito difícil. Eu tinha uma vida de vidente e de uma hora para outra eu perdi a visão. [No começo], a parte psicológica, autopiedade, depressão, não aceitar a condição são as partes mais difíceis."

Ele conta que dentro de casa, "por ter memória visual', consegue andar mesmo sem a bengala, mas que fora de casa ele ainda depende da esposa Debora – com quem é casado há 16 anos. "Eu quero desenvolver a mobilidade, quero depender menos da minha esposa para me locomover."

Foto: Celso Tavares/G1

Direito

Marcos decidiu mover uma ação judicial contra o estado para ter acesso a insumos e medicamentos para tratar da diabetes. Ele fez uso de um defensor público e, durante o processo, começou a se interessar por direito e identificou a possibilidade de ajudar outras pessoas.

"Eu nunca tinha pensado em voltar a estudar, mas coisas evoluíram. E eu pensei ‘cabeça vazia é oficina do diabo’ e eu precisava me ocupar. E eu voltei a estudar. É um recomeço. Eu descobri que eu tenho muito mais direitos do que eu achava que tinha e foi essa parte que mais me encantou no direito de ajudar as pessoas que não tem as mesmas informações que a gente tem."

"O Enem é uma grande porta para voltar a estudar me recolocar no trabalho."

Para se preparar para a prova, Marcos começou a acessar videoaulas pela internet e relembrar conteúdos de história, geografia e biologia.

Apesar de otimista com a possibilidade de voltar a estudar, Marcos está preocupado com o futuro. "Eu fico preocupado com a estrutura da faculdade, se vai ter acessibilidade. Mas aqui na fundação [Dorina Nowill] eles estão me ajudando a entender os meus direitos de inclusão."

Foto: Celso Tavares/G1

Fundação Dorina Nowill

A Fundação Dorina Nowill é uma organização que atua na Vila Clementino, na Zona Sul da cidade de São Paulo, e tem profissionais para auxiliar na inclusão de pessoas com deficiência visual e produz e distribui livros em braille, falados e digitais acessíveis, diretamente para o público e também para cerca de 3000 escolas, bibliotecas e organizações de todo o Brasil.

Desde abril, Marcos vai semanalmente ao local. Lá, ele espera ter orientações de mobilidade e aprender a ler em braile. Antes disso, ele conta que não teve ajuda profissional.

"Eu meio que era autodidata. Sabe a lei da sobrevivência? É muito difícil se readaptar. Eu me virava como Deus dá, a gente se vira. Mas, agora eu estou nessa nova fase."

"Aqui [na fundação], eu conheci muitas pessoas no começo desse processo. As pessoas pensam que a vida gente termina ali, como se só estivesse esperando o fim da vida. E eu percebi que não. Nos temos possibilidade de uma vida independente, temos muito mais recursos de acessibilidade. Procurem progredir na vida, a vida não acabou. A vida só recomeçou."

Foto: Celso Tavares/G1



Participe de nossa comunidade no WhatsApp, clicando nesse link

Entre em nosso canal do Telegram, clique neste link

Baixe nosso app no Android, clique neste link

Baixe nosso app no Iphone, clique neste link


Tópicos
SEÇÕES