Conheça piauiense que integra equipe do ganhador do Nobel de Medicina

Joanna Darck Carola Correia Lima fez biologia na UFPI e é um orgulho para o Estado, pois é a única brasileira a integrar a equipe de Sir Peter Ratcliffe, que na última segunda-feira (7) foi condecorado com o Prêmio Nobel de Medicina

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Joanna Darck Carola Correia Lima tem motivos de sobra para encher os piauienses de orgulho. A moça é a única brasileira a integrar a equipe de Sir Peter Ratcliffe, que na última segunda-feira (7) foi condecorado com nada mais nada menos que o Prêmio Nobel de Medicina.

A competência para estar lá ela tem de sobra. Vinda de escola pública, Joanna Darck é graduada em Ciências Biológicas pela Universidade Federal do Piauí (UFPI). Atualmente ela realiza um estágio no laboratório de Peter, como uma das etapas do doutorado que está concluindo no Instituto de Ciências Biomédicas da Universidade de São Paulo (ICB-USP). Para isso, ela conta com o apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp).

A parceria com o britânico tem sido muito positiva. Eles estudam áreas convergentes. “Meu doutorado é em análise de proteômica em tumores de pacientes com caquexia. Buscamos identificar mecanismos moleculares em tumores de pacientes caquéticos. A caquexia é uma síndrome comum em pacientes com câncer, doença pulmonar crônica obstrutiva, HIV. É quando um paciente apresenta uma perda involuntária de peso, tanto massa gorda quanto massa magra e apresenta também um quadro de inflamação crônica”, revela Joanna Darck. 

A caquexia representa até 20% das mortes de pacientes com câncer. “Você pode, por exemplo, lembrar do Steve Jobs, que manifestou caquexia associada ao câncer, perdeu muito peso enquanto estava doente. A condição leva a dificuldades de andar e qualidade de vida completamente comprometida. Dentre os principais riscos de manifestar a caquexia é o aumento da mortalidade. O paciente que manifesta esse quadro clínico geralmente apresenta uma resistência e dificuldade às estratégias terapêuticas”, aponta a doutoranda. 

Embora o laboratório do Professor Peter não estude e foque caquexia associada ao câncer, ele trabalha com um mecanismo importante e característico também de células tumorais, que é a hipoxia, a adaptação celular aos baixos níveis de oxigênio. “Estou há 10 meses trabalhando com ele e agora posso dizer que trabalho com o ganhador do Nobel. É uma emoção indescritível!”, exclama Joanna.

A relação com o colega prestigiado é excelente. “O professor Peter é sempre muito solícito, sempre disposto a discussões científicas e com alto nível de conhecimento. Ele impulsiona todos do seu grupo a pensar. É realmente muito gratificante fazer parte dessa equipe”, acrescenta a estudante.

Do Piauí para Oxford: uma nordestina de alma sonhadora

Mudar para o Reino Unido foi um dos desafios de Joanna Darck, que afirma que hoje vive o prazer de desfrutar dos planos oníricos que construiu ao longo da vida. “Minha experiência em Oxford desde o primeiro dia foi magnífica e agora então tem sido mais que o esperado nos melhores sonhos. Evoluí muito no âmbito profissional, em técnicas de laboratório, em discussões, em simpósios e palestras incríveis que tive a honra de participar. A cidade em si é muito cultural e histórica e tenho aprendido e vivenciado coisas magníficas todos os dias”, revela. 

No entanto, o orgulho de ser nordestina bate forte no peito. “Sou nordestina raiz, piauiense com muito amor! É um orgulho poder falar de onde eu sou, das maravilhas e virtudes do nosso povo! Sou feliz em poder trazer o Piauí para o mundo em boas noticias”, acrescenta a bióloga.

E por parte dos professores, só ficam mesmo grandes elogios para a moça. "Ela é uma aluna muito dedicada. Não por acaso é considerada pelo professor Ratcliffe a melhor que teve nos últimos anos”, disse Marília Cerqueira Leite Seelaender, orientadora de Joanna no ICB-USP.

Joanna: “educação e a ciência vêm sendo alvo de massacre”

Para Joanna Dark, é preciso que o Brasil volte a priorizar a educação e a ciência. Assim como muitos outros estudantes brasileiros que vivem somente da pesquisa, seja no Brasil ou no exterior, o temor em perder as bolsas de estudo é grande em um período de instabilidade política e econômica em nível federal.

Para a pesquisadora, o Brasil sofre com a falta de incentivo. “Atualmente a educação e a ciência vêm sendo alvo direto de massacre. É triste ver isso no nosso país e também ser afetada por isso. É complicado que para nós, bolsistas, e falo isso em nome de todos os amigos que tenho na ciência e discutimos diariamente, vivemos com medo todo o mês se haverá algum problema em receber a bolsa de estudo”, aponta Joanna Dark. 

Os estudantes precisam da manutenção das bolsas para concluírem pesquisas e pós-graduações. “Somos a grande maioria formada por pessoas com dedicação exclusiva para pesquisa, trabalhamos todos os dias e todas as horas para isso. Buscando novas descobertas, buscando inovação. Porém o desmonte atual da educação e pesquisa tem levado o nosso país para um retrocesso, inúmeros bons pesquisadores que temos procuram oportunidades fora e nunca voltam para aplicar em nosso país pois não há investimento e valorização”, ressalta a doutoranda.

“Os países de potência mundial têm uma coisa em comum: e é a valorização da educação, ciência e tecnologia! Acredito que desistir de lutar por melhorias não é o caminho, embora seja difícil. Os dias bons existem devido a superação dos dias ruins”, conclui a bolsista da Fapesp. 

Quem é Sir Peter Ratcliffe?

Sir Peter Ratcliffe é diretor de pesquisa clínica no Francis Crick Institute, em Londres, e do Target Discovery Institute, em Oxford, além de membro do Ludwig Institute for Cancer Research. Ficou conhecido por ter descoberto como as células podem sentir e se adaptar a mudanças na disponibilidade de oxigênio. Junto com os norte-americanos William G. Kaelin Jr., da Harvard Medical School, e Gregg L. Semenza, do Johns Hopkins Institute for Cell Engineering, que dividem o prêmio com ele, identificou a maquinaria molecular que regula a atividade dos genes em resposta a níveis variáveis de oxigênio.

A descoberta estabeleceu as bases para a compreensão de como os níveis de oxigênio afetam o metabolismo celular e a função fisiológica. As descobertas abriram caminho para estratégias promissoras não só contra o câncer, como contra anemia e outras doenças.

Enquanto isso, Joanna Darck Correia Lima tenta descobrir como baixas taxas de oxigênio nas células (hipoxia) de tumores colorretais podem levar os pacientes a desenvolver caquexia, síndrome que consiste em uma perda severa de gordura e de massa muscular associada a uma extrema debilitação física, que pode aumentar o risco de complicações e de morte em diversos tipos câncer.



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