Cresce o número de crianças e jovens trabalhando; Teresina registra casos

O Brasil possui hoje cerca de 3,5 milhões de crianças e adolescentes participando do mercado de trabalho

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O Brasil está dando exemplo. Nos últimos 20 anos o trabalho infantil foi reduzido em quase 60%, uma lição para países em desenvolvimento que lutam para atenuar uma triste realidade que persiste em muitos locais. Entretanto, ainda existem aproximadamente 3,5 milhões de crianças e adolescentes inseridas em alguma espécie de trabalho.

Mesmo que o Brasil seja visto lá fora como o país do futuro, é o futuro das crianças de hoje que está ameaçado por práticas cotidianas como vendedores de sinais, pequenos agricultores, trabalho doméstico e exploração sexual. O país vive com essa mancha em sua história e terá dificuldades para erradicá-la totalmente até o ano de 2020.

Em Teresina o cenário foi reduzido sensivelmente, mas ainda é comum observar pequenos vendedores em sinais, flanelinhas, feirantes, limpadores de carro e trabalhadores do campo, que têm o presente negado e o futuro reduzido a uma incerteza.

Ganhando a vida desde cedo

O adolescente I.A.S. já esqueceu o que é ser criança. Com apenas 14 anos, divide uma carroça com o pai e vive de fazer pequenos transportes pelos bairros periféricos da zona Sul.

Escola é coisa de patrão e brincadeira só se for após o horário rígido de trabalho, mas ele chega em casa tão cansado que o convite dos amigos para jogar futebol na pracinha perto de casa é algo que ele deixou para trás há muito tempo.

I.A.S. é atento a tudo que está em seu redor e poderia estar estudando. Ele poderia ser um aluno com notas exemplares e, quem sabe, o orgulho da família.

"Queria estudar "pra" ser doutor, seria o primeiro da família a terminar o Ensino Médio. Mas tenho que trabalhar para ajudar meus pais em casa. Meu pai é carroceiro, minha mãe é faxineira, meus irmãos ainda são pequenos e sobra tudo "pra" mim", fala.

Ele abandonou a escola aos 11 anos para se dedicar integralmente ao trabalho. Às 6 horas da manhã já está de pé e o labor tem hora para começar, mas não para findar.

O adolescente franzino trabalha com o pai e depende da volatilidade do mercado informal. Se encontrarem um bico para fazer, ótimo. Se não aparecer nada no dia, é certeza de que irão ter dificuldades para se alimentar.

O jovem sonha em chegar logo em casa, mas a possibilidade de não ter o que comer e o cansaço de passar o dia sob o sol quente da cidade fazem com que ele logo adormeça em sua cama.

Para recomeçar o dia e desenvolver tarefas iguais, com os mesmos desafios e a falta de perspectivas em uma vida onde a competição é pela sobrevivência.

Trabalhando no sinal para ajudar em casa

Dos trabalhos realizados por crianças na cidade grande, notar adolescentes e jovens batendo ponto nos sinais é o mais comum. Não é difícil encontrar malabaristas, vendedores de frutas, bugigangas e até pedintes.

É o caso de Pedro Paulo*, 16 anos, que jura ter embarcado no trabalho informal para ajudar na renda doméstica. "Lá em casa tem 10 bocas para comer todo dia e só o trabalho do papai não consegue dar conta de comprar comida para todos".

Pedro vende brinquedos em um cruzamento. Objetos que poderiam ser utilizados por ele para brincar, e não para assegurar o sustento da casa. Mas ele teve a infância privada desses luxos e os comercializa para crianças que ainda não conhecem o significado da palavra trabalho.

O horário de expediente é cruel: das 7 horas da manhã até cair a noite. E depois do tranco corre direto para o colégio, onde cursa a oitava série.

Pedro garante que não falta nenhuma aula e que as notas estão boas, mas quando questionado se deseja abandonar o trabalho para se dedicar integralmente aos estudos, seu rosto faz uma expressão de que ouviu uma pergunta absurda, impraticável.

Perspectivas de vida? Ele não sabe o que isso significa. Futuro? Para Pedro se restringe apenas ao dia seguinte. Criminalidade? É algo que prefere não se envolver para não morrer logo. Felicidade? Ele acredita que um dia irá conquistá-la. Só não sabe quando.

Trabalho infantil vira o mesmo do adulto

Os trabalhadores mirins do passado acabam se transformando nos trabalhadores informais do presente. Muitas vezes iniciando a vida profissional desde cedo, gostam da sensação de independência dada pelo pouco dinheiro que ganham e esquecem que o estudo é o fomento principal para uma vida confortável.

Como Aline Alencar relembra, ela começou a trabalhar no CEAPI, antigo Ceasa, aos 13 anos. Os pais colocavam ela e o irmão de sete anos em um jacá - tipo de recipiente utilizado para armazenar muitos mantimentos - e os transportavam diariamente para a feira. O que começou como serviço familiar acabou virando coisa séria, apesar do pai obrigar os filhos a estudarem.

"Depois que começamos a ganhar dinheiro, não queríamos mais saber de ir para o colégio. A gente ia porque papai mandava, mas era o último lugar onde queríamos estar. Nossa cabeça estava na feira", conta Alice.

A mesma história se aplica ao jovem Francisco Pereira, de 25 anos. De acordo com suas próprias palavras, começou a trabalhar cedo a convite de um amigo e "por falta de vergonha na cara".

"Não gosto de estudar", assume. Francisco também é veemente em afirmar que o trabalho não atrapalhou os estudos, mas sete anos após concluir o Ensino Médio ele continua a trabalhar como feirante no mesmo local que o acolheu quando adolescente.



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