Deficiente visual vai de Brasília a Paraty de bicicleta

Adauto, deficiente visual desde o nascimento, tem apenas 35% da visão

Avalie a matéria:
Deficiente viaja com amigo de bicicleta | G1
FACEBOOK WHATSAPP TWITTER TELEGRAM MESSENGER

O convite partiu de um desconhecido. Quando o empresário Weimar Pettengill, 37 anos, ligou para o deficiente visual Adauto Belli chamando-o para uma viagem de bicicleta de Brasília a Paraty, se surpreendeu com a resposta. "Partimos quando? Amanhã? Hoje não dá. Estou ocupado", disse Adauto, 38 anos, adestrador de cães. Na bicicleta de dois lugares (modelo conhecido como "tandem") a dupla seguiu para Minas Gerais e, de lá, rumo a Paraty, no Rio de Janeiro. Completaram o trajeto em 18 dias, a maior parte feita em estrada de terra.

Adauto, deficiente visual desde o nascimento, tem apenas 35% da visão. "A confiança ali é tudo. Eu pedalo tendo certeza de que, se for bater, ele (Weimar, o ciclista que vai guiando) vai bater no macio, se cair, ele vai tentar fazer com que eu me machuque menos", conta. "Quando a gente está em uma descida no cascalho a 110 km/h, tem que ter muita confiança. Se fosse com uma pessoa que vê perfeitamente, a viagem não teria dado certo", afirma Weimar.

Entre as experiências registradas no trajeto, Adauto lembra das vezes em que sua pouca visão o enganaram. "Você acaba vendo o que quer ver. A gente ia descendo perto de um vale e eu dizia "Nossa, é um lago muito bonito", e o Weimar começava a rir e dizia "que nada, isso aí é uma favela!", conta.

Foram pouco mais de 1,6 mil km cruzados em 18 dias, de 29 de janeiro a 16 de fevereiro. A aventura rendeu até livro. Na última quinta-feira (21), Weimar Pettengill lançou em Brasília o resultado de suas memórias da viagem, entitulado "Brasília-Paraty - Somando pernas para dividir impressões" (editora Thesaurus). "Quero agora fazer o áudio-book, pra que o Adauto possa "ler" e dizer se está tudo certo", brinca o autor. A obra também será lançada em Belo Horizonte, Rio de Janeiro e São Paulo.

Antes de partirem em cima da bicicleta, os dois eram praticamente desconhecidos. Haviam se encontrado cinco vezes, apenas duas delas com a bicicleta para fazer testes. Weimar já planejava pedalar o trajeto da Estrada Real -rota histórica de povoamento e exploração do interior do Brasil, criada no século XVII-, e decidiu incluir uma companhia no desafio. "Lembrei da bicicleta tandem e resolvi ir com um DV (deficiente visual) para compartilhar a experiência", conta o empresário. Ele chegou a Adauto através de amigos do projeto "DV na trilha", que promove a inclusão social de cegos através de bicicletas duplas em Brasília.

Adauto sempre gostou de praticar esportes, e não pensa na deficiência como um obstáculo. Pelo contrário. "Muitas vezes é até uma vantagem, porque eu tenho que ficar mais concentrado", diz. Ele pratica o ciclismo desde 2007, mas seu esporte mesmo é a corrida. "Depois que eu o arrastei pra esse desafio, ele já arrumou o próximo, agora correndo. Vamos fazer a travessia dos Andes no final do ano", afirma Weimar.



Participe de nossa comunidade no WhatsApp, clicando nesse link

Entre em nosso canal do Telegram, clique neste link

Baixe nosso app no Android, clique neste link

Baixe nosso app no Iphone, clique neste link


Tópicos
SEÇÕES