Desfibrilador evita morte súbita em vítimas com Chagas

O mal ainda ronda a vida de cerca de 10 milhões de pessoas em todo o mundo

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A doença de Chagas é uma realidade na população brasileira, por mais que suas vítimas já estejam acima dos 60 anos de idade. O mal ainda ronda a vida de cerca de 10 milhões de pessoas em todo o mundo. Só no Brasil, o número chega a cerca de três milhões, de acordo com a Sociedade Brasileira de Arritmias Cardíacas (Sobrac), e pode levar à morte súbita aqueles cujo coração tenha sido danificado pela doença.

Daí a decisão do Ministério da Saúde de autorizar uma pesquisa em âmbito nacional, com 1,1 mil portadores da doença, em vários centros do País, inclusive Rio Preto. A pesquisa, que teve o incentivo da Sociedade Brasileira de Arritmias Cardíacas (Sobrac), em conjunto com os órgãos públicos, visa a implantar um desfibrilador (Cardioversor Desfibrilador Implantável - CDI) para combater o risco de morte nas pessoas que ainda não tenham desenvolvido distúrbio no sistema elétrico do coração, um dos principais problemas da doença de Chagas.

Segundo os pesquisadores e cardiologistas Oswaldo e Rafael Greco, de Rio Preto, médicos que irão realizar a pesquisa, no Hospital Beneficência Portuguesa, pacientes chagásicos que ainda não desenvolveram a arritmia maligna, mas têm o coração dilatado, podem participar da pesquisa. "Pode ser detectado por exames, como ecocardiograma e holter de 24 horas", diz Oswaldo. A doença é transmitida pela picada do inseto conhecido como "barbeiro" (Tripanossoma cruzi), que é mais prevalente em países tropicais, por isso é mais frequente na América Latina. E a má notícia é que cerca de 30% das pessoas que chegam à fase crônica da doença desenvolvem problemas cardíacos.

No Brasil, devido à transmissão vetorial domiciliar ocorrida no passado (hoje interrompida), predominam os casos crônicos. A doença se divide em duas fases: uma aguda, que pode ou não ser identificada, ou evoluir para uma fase crônica, caso não seja tratada com medicação específica. Nos últimos anos, a fase aguda tem sido observada em diferentes estados, em especial na região da Amazônia, principalmente em decorrência da transmissão oral.

Serviço:

Mais sobre o assunto no site da Sociedade Brasileira de Arritmias Cardíacas (Cobrac), pelo www.sobrac.org/publico-geral/?page_id=3561

Pacientes do HB já usam dispositivo

Outro cardiologista, Adalberto Lorga Filho, também irá participar da pesquisa. Ele é responsável pelos setores de Arritmias e Eletrofisiologia do Hospital de Base (HB) e do Instituto de Moléstias Cardiovasculares (IMC), e já participa de outros estudos relacionados à doença. Lorga Filho conta que muitos pacientes ainda não sabem que são portadores da doença e muitos só vão descobrir quando já é tarde.

Por outro lado, boa parte já é acompanhada no serviço de arritmia e espera pela oportunidade que mais de 100 pacientes do HB já tiveram: de instalar um desfibrilador e ficar livre do risco de morte súbita. "O papel do equipamento é proteger o coração de uma parada ao dar um choque no órgão durante o problema", diz. Vítima da doença desde 1970, o rio-pretense João Anastácio Pereira, de 63 anos, conta que descobriu ter Chagas graças ao cansaço anormal diante de um esforço físico. "Após quatro anos da descoberta da doença, tive de colocar marcapasso. Hoje vivo bem, por fazer um acompanhamento correto e nunca me descuidar", diz.

Lorga Filho explica que as arritmias podem ser benignas ou não. Só o exame pode determinar a malignidade. "Algumas podem causar falta de ar, dor no peito, desmaios e até morte súbita", diz. Em geral, o implante do desfibrilador é indicado para quem tem a arritmia mas ainda não apresenta problemas - como infarto, cirurgias prévias, insuficiência cardíaca -, a fim de evitar maior risco aos pacientes.

Desfibrilador atua contra arritmia ventricular

Em entrevista ao Diário da Região, o cardiologista e pesquisador Oswaldo Tadeu Greco, de Rio Preto, explica como será feita a pesquisa.

Diário da Região - Quantos pacientes serão aceitos para participar da pesquisa?

Oswaldo Greco - Para o estudo, serão selecionados em todo o território nacional 1,1 mil doentes chagásicos. Eles serão cadastrados e avaliados pelos especialistas. Os escolhidos terão todo o tratamento de graça, inclusive os exames. A pesquisa será desenvolvida no Hospital Beneficência Portuguesa, de Rio Preto, um dos vinte centros escolhidos pelo Ministério da Saúde para realização do projeto com pacientes portadores da doença de Chagas.

Diário - Qual o índice de morte por arritmia em portadores de Chagas, comparados com os demais?

Greco - Na fase crônica, os danos ao coração e ao sistema nervoso são irreversíveis. O tratamento nesse caso é paliativo, para garantir melhor qualidade de vida ao paciente. Na verdade, é para garantir que ele viva mais. Por isso os especialistas alertam que os exames de sangue são vitais para impedir o avanço da infecção através da transfusão ou de transplantes. A cardiopatia chagásica crônica é uma das principais complicações da doença de Chagas. Consiste na inflamação e destruição do tecido cardíaco, levando a alterações da condução dos impulsos elétricos no coração e arritmias. Ao mesmo tempo, ocorre uma dilatação das cavidades do coração, que o deixa incapaz de bombear sangue para o organismo, chamada de insuficiência cardíaca. Este paciente está exposto à morte súbita por arritmia ventricular fatal.

Diário - Qual a vantagem do uso do marcapasso?

Greco - O implante de uma marcapasso do tipo CDI, que é o modelo a ser implantado nestes pacientes, monitora continuamente os batimentos deste paciente chagásico e caso surja uma arritmia ventricular maligna, dispara uma terapia capaz de reverter este quadro.

Diário - Quais as outras técnicas de controle da doença?

Greco - Não há vacina capaz de combater o mal de Chagas. A única forma de evitar a doença é pelo controle do transmissor, o barbeiro. O ideal é uma melhora nas condições de moradias, higiene e limpeza. O inseto vive nas frestas das casas de pau a pique, ninho de pássaros, tocas de animais, cascas de troncos e sob pedras.

Diário - Quais os requisitos para participar da pesquisa?

Greco - Para participar o paciente chagásico precisa ter potencial de morte súbita, diagnóstico este feito pelo seu médico, e deverá procurar um dos 20 centros credenciados no Brasil para integrar a pesquisa. O nome de todos eles será comunicado em breve pela mídia.

Diário - Como será o acompanhamento dos pacientes?

Greco - O acompanhamento será tão importante quanto o diagnóstico e o implante dos CDI no paciente chagásico. Isso porque, além de ser acompanhado pelo cardiologista, haverá um outro médico especialista em estímulo cardíaco artificial, que fará as programações necessárias para que haja um bom relacionamento entre marcapasso-coração-paciente. Estes dados serão armazenados e transmitidos para uma central, que fará análise estatística pormenorizada para avaliar se as condutas até então foram corretas. Os resultados servirão para nortear pela primeira vez na literatura mundial a prevenção primária de morte súbita na doença de Chagas.



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