“É bicheiro mesmo. E daí?”, afirma esposa de Cachoeira em escutas

Andressa Mendonça disse: Meu marido não é bicheiro. O Carlos que eu conheço é empresário“

Andressa Mendonça | Reprodução
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Carros de luxo, iguais aos de artistas de Hollywood. Segundo relatórios da Polícia Federal, a quadrilha de Cachoeira comprou carros, apartamentos, fazendas, e mais de três mil cabeças de gado. O patrimônio estimado é de, no mínimo, R$ 167 milhões.

De acordo com as investigações, tudo isso é resultado do esquema criminoso que começou há cerca de 20 anos, e que ajudou a proporcionar uma vida de luxo ao chefe do grupo, que gostava de dar presentes para a mulher, como revelam escutas telefônicas:

Cachoeira: ?Trouxe o anel?.

Andressa Mendonça: ?O diamante é grande??

Cachoeira: ?É, estou levando para você ver?.

Andressa Mendonça disse: ?Meu marido não é bicheiro. O Carlos que eu conheço é empresário?.

Mas nesta reportagem, você vai ver que Andressa Mendonça, 30 anos, sabia das atividades ilegais do marido, de 49 anos.

?É bicheiro mesmo. E daí??, questiona Andressa.

A investigação sobre os negócios de Carlinhos Cachoeira se concentra agora em descobrir todos os bens da quadrilha e impedir que sejam vendidos. Há indícios, por exemplo, de que ele negociava imóveis nos Estados Unidos.

Como Cachoeira também é dono de negócios legalizados, a Polícia Federal e o Ministério Público buscam, no meio da fortuna, o dinheiro que veio do crime. Cerca de 300 bens suspeitos foram identificados. Parte já foi bloqueada pela Justiça, e só pode ser vendida se ficar comprovado que não tem origem criminosa.

?São bens que vêm de dinheiro ilícito. Vinha precisamente dos jogos ilícitos e das fraudes em licitações. Há provas contundentes neste sentido?, afirma o deputado federal Odair Cunha, relator da CPI do Cachoeira.

Até o momento, Cachoeira apareceu nas investigações da Polícia Federal como dono de apenas um terreno. O imóvel fica em Goiânia e está avaliado em R$ 1,5 milhão. Os outros bens foram identificados em nome de auxiliares e parentes, como um avião bimotor que já pertenceu a Andréa Aprígio, a ex-mulher de Cachoeira.

Em um telefonema para outro suspeito de integrar a quadrilha, fica claro que Cachoeira tinha livre acesso a um cessna 310. ?Libera o 310 para olhar eu fazenda eu tenho ali no Araguaia?, pede Cachoeira.

A polícia encontrou 36 fazendas e chácaras em nome de pessoas ligadas a Cachoeira. E a lista tem mais: 74 terrenos, 58 apartamentos e 13 casas. São R$ 148 milhões só em imóveis.

Um dos apartamentos fica em dos mais sofisticados prédios de Goiânia. São cerca de mil metros quadrados, com cinco suítes e piscina particular. Foi avaliado pela Polícia Federal em R$ 5 milhões de reais e está em nome da ex-mulher, Andréa Aprígio.

Quando foi preso, em fevereiro deste ano, Cachoeira morava com a atual mulher, Andressa, em uma mansão, também em Goiânia. Andressa encomendou um projeto de reforma e decoração para a casa, que teria até uma cachoeira na piscina. Este imóvel não está na lista de bens bloqueados. A polícia ainda investiga quem é o verdadeiro dono.

A Polícia Federal suspeita que também foram comprados - com dinheiro da quadrilha - 87 veículos, entre motos, caminhões e carros - dos populares aos mais sofisticados. De acordo com a investigação, juntos, valem R$ 4, 357 milhões. Parte foi apreendida e filmada.

Na lista dos carros, estão quatro porsches. Para mostrar como são luxuosos, filmamos modelos iguais aos identificados pela Polícia Federal. O mais valioso é um porsche panamera. O preço, no Brasil, de um zero quilômetro, pode passar de R$ 1 milhão. Gente famosa já comprou esse modelo, como os atores Jim Carrey e Arnold Schwarzenegger. De acordo com as investigações, escutas telefônicas - de julho do ano passado - mostram Carlinhos Cachoeira falando sobre um outro porsche, modelo cayenne.

Um porsche cayenne zero quilômetro custa até R$ 680 mil no Brasil. O carro vai de zero a 100 quilômetros por hora em apenas cinco segundos; e o piloto automático é capaz de frear sozinho, se o carro estiver em rota de colisão.

Segundo as investigações, também em julho do ano passado, Cachoeira aparece em gravações telefônicas negociando um carro - de outra marca - para a mulher, Andressa. Hoje, um modelo novo vale cerca de R$ 120 mil.

Andressa tem um outro carro, também apreendido e suspeito - segundo as investigações - de ter sido comprado com dinheiro da quadrilha.

Em um conversa em julho do ano passado, entre Andressa e o marido, ela deixa claro que sabia que Cachoeira era bicheiro.

Andressa: ?Eu quero casar, eu quero ser esposa porque eu não sou amante. Eu sou a dona da casa.?

Cachoeira: ?Você sabe que não vai mudar quase nada. De amante, você é mulher de bicheiro?.

Andressa: ?É, mas eu sou a mulher dele. Então, eu não sou amante, entendeu? É bicheiro mesmo, e daí? Quem tem alguma coisa ver com isso??

Em uma entrevista ao Fantástico, em julho deste ano, Andressa falou outra coisa: ?Meu marido não é bicheiro. O Carlos que eu conheço é empresário, faz consultoria para empresas?.

Andressa - que inaugurou uma loja de lingerie, em Goiânia, em junho do ano passado - foi indiciada por corrupção ativa. A suspeita: exigir do juiz do caso Cachoeira a soltura do marido em troca da não-divulgação de um suposto dossiê contra o magistrado.

Ouvimos a defesa de todas as pessoas citadas nesta reportagem. Por telefone, Andrea Aprígio negou irregularidades nos bens que estão no nome dela. Disse que é engenheira, que sempre trabalhou e que o patrimônio recebido quando se separou de Cachoeira, em 2004, está dentro da lei.

O advogado de Andressa, Ney Moura Teles, disse que ela não ofereceu qualquer tipo de vantagem indevida ao juiz do caso e que não vai se manifestar sobre as escutas telefônicas obtidas pela Polícia Federal por considerá-las ilegais.

Em nota, Nabor Bulhões, o advogado de Carlinhos Cachoeira, também classificou essas gravações como "ilícitas, imprestáveis e inidôneas para qualquer fim de direito". A defesa disse ainda que os bens foram adquiridos de forma legal, com dinheiro do laboratório de medicamentos da família e da exploração da loteria de Goiás, que era legalizada até 2007.

Mas o que pode acontecer com a fortuna do grupo? O relator da CPI do Cachoeira, deputado federal Odair Cunha, acha que o confisco dos bens é um caminho pra desmontar a quadrilha. ?Nós queremos que os bens da organização criminosa sejam devolvidos ao Estado?, disse ele.



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