Carro parcelado pode ser mais caro que o financiado

Financiar um carro pode ser uma armadilha para contrair dívidas

|
FACEBOOK WHATSAPP TWITTER TELEGRAM MESSENGER

Financiar um carro pode ser uma armadilha para contrair dívidas e até mesmo perder o bem comprado. Segundo especialistas em finanças pessoais, consumidores atentam somente ao tamanho da parcela que cabe no orçamento e acabam esquecendo que no caso de um veículo o custo de mantê-lo pode fazer com que o peso do bem seja quase duas vezes maior que o calculado só com o financiamento mensal.

O acesso da pessoa física ao crédito tem crescido no Brasil. Nos últimos cinco anos, o montante de crédito à pessoa física em relação ao Produto Interno Bruto (PIB) subiu de 8,4% em setembro de 2005 para o recorde de 15,1% em setembro de 2010. Com isto, consumidores que nunca tiveram a experiência de lidar com empréstimos para aquisição de bens ingressam neste mercado.

Segundo o educador de finanças pessoais Álvaro Modernell, o consumidor não deve comprometer mais de 30% de sua renda mensal com prestações, mesmo se a soma de outras despesas familiares, como estudo, alimentação e lazer for baixa em relação a sua renda.

"O acesso ao crédito está tão fácil e as financiadoras estão com uma postura tão agressiva que as pessoas compram um carro mesmo sem necessidade e sem ter o dinheiro para isso", afirmou Modernell.

Além de conseguir uma parcela que caiba no orçamento, o futuro dono de um veículo precisa levar em conta outros gastos associados a ter este bem: combustível, IPVA, revisões, seguro, licenciamento e eventuais manutenções geralmente não são consideradas pelo comprador.

O site fez uma simulação e apurou um aumento de 74% em relação ao gasto da parcela do financiamento do veículo com os demais custos. Foi feito um plano de de financiamento de um Volkswagen Gol 1.0 Nova Geração, que à vista é vendido por R$ 28 mil, em 60 meses. Se financiado sem entrada em 60 parcelas, o carro terá parcela mensal de R$ 750, no contrato CDC (Crédito Direto ao Consumidor).

O gasto médio mensal para circular com o carro na capital paulista é de R$ 557, pelo menos durante o primeiro ano de financiamento. Nessa conta, entram despesas com licenciamento do veículo (total de R$ 890, já com emplacamento e documentação), combustível a álcool (R$ 197 por mês, considerando uma média de 1 mil km percorridos e rendimento de 8km/l), IPVA (R$ 1.140 ao ano) e seguro (R$ 2.100 por ano, com um homem de 23 anos, solteiro, que utiliza o veículo para se locomover até o trabalho e o guarda em estacionamentos como perfil), além da revisão para não perder a garantia de fábrica (R$ 200) ao fim de três meses ou 10 mil km percorridos.

Somada às despesas, a parcela que antes cabia perfeitamente no bolso quase duplica, para R$ 1.307 mensais durante o primeiro ano de pagamento.

Modernell recomenda nunca financiar mais do que 50% do valor de um veículo. "Se você não tem esse dinheiro, é porque o carro é muito caro para o seu bolso. Pagar metade do carro como entrada não condiz com a realidade da maioria dos brasileiros, mas condiz com bons hábitos de consumo que servem para preservar o consumidor", afirmou ele. Quanto maior a entrada, menor o valor da prestação.

Segundo o presidente da Associação Nacional das Empresas Financeiras de Montadoras (Anef), Décio Carbonari de Almeida, os compradores que têm problemas com pagamento de financiamento, geralmente começam a se perder a partir do segundo ano de contrato. Eles então preferem trocar o carro por um mais barato e econômico. "Para não ficar inadimplente, ele dá o carro como entrada para entrar em novo financiamento e liquidar as dívidas", afirmou.

O que fazer?

Ao contratar um financiamento, o comprador deve optar pela modalidade de crédito que mais se ajusta à necessidade. O CDC (crédito direto ao consumidor) é o mais utilizado no País para a compra de veículos, representando 46% do total dos veículos comercializados em 2010 até setembro, seguido da venda à vista (37%), segundo dados da Anef. Nessa modalidade, o comprador tem o direito de antecipar a quitação do carro a qualquer momento e conseguir desconto por eliminar o custo dos juros das parcelas que ainda não venceram.

Contudo, os juros são maiores do que no leasing, uma vez que o banco corre mais riscos caso o pagamento não seja honrado. A instituição financeira precisa acionar judicialmente o proprietário para confiscar o bem.

Já no leasing (arrendamento), o financiador é dono do carro em contrato e "aluga" para o comprador. Por isso, a taxa de juros é menor, já que o risco que o banco financiador tem é praticamente zero, uma vez que ele não perde o veículo se o consumidor não honrar o pagamento, e pode retomá-lo mais rapidamente - em até 90 dias de inadimplência.

O contrato de leasing, mais usado por empresas, tem prazo mínimo de dois anos, definido pelo Banco Central. Assim, fica vedada a possibilidade de antecipar parcelas para quitação antes desse prazo.

Segundo o presidente da Comissão de Direito e Relações de Consumo da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB-SP), José Eduardo Tavolieri de Oliveira, o consumidor pode pedir uma conciliação com o financiador e renegociar a dívida.

Também é possível transferir a dívida para outro comprador (no leasing, só a partir do segundo ano). Há uma taxa de R$ 500 a R$ 700, dependendo do banco financiador, para fazer a transferência de documentos entre pessoas físicas.

Em último caso, com a devolução do carro, o Instituto Brasileiro de Direito do Consumidor (Idec) recomenda que o comprador faça um acordo por escrito com o banco, uma vez que as parcelas que ainda não tiverem vencido têm direito ao abatimento dos juros. Mesmo assim, segundo o Idec, nesse tipo de acordo não é garantida a quitação de toda a dívida - o carro vai a leilão, e o valor resultante da venda é usado para pagar as parcelas que restaram.



Participe de nossa comunidade no WhatsApp, clicando nesse link

Entre em nosso canal do Telegram, clique neste link

Baixe nosso app no Android, clique neste link

Baixe nosso app no Iphone, clique neste link


Tópicos
SEÇÕES