Empregada doméstica ganha R$ 100 no interior do MA

Bolsa Família tira pessoas do trabalho escravo, afirma responsável pelo programa

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Rosemeire de Sousa, 33 anos, pega a estrada todos os dias às 7h, de bicicleta, pois não tem dinheiro de passagem. Pedala cerca de sete quilômetros até a casa da patroa, no centro de Junco do Maranhão. Lava, passa, cozinha, varre, arruma a casa, faz compras, entre outras atividades. Termina o serviço por volta de 13h, mas diz que é obrigada a continuar no trabalho ?esperando o sol escaldante baixar?. Só volta para casa ao entardecer, de bicicleta. Enquanto isso, os filhos João Gabriel (6), José Roberto (7) e Leinara (11) ficam em casa sozinhos, com a ajuda de parentes e vizinhos. São 10 horas ausente de casa, dos filhos, todos os dias, para receber R$ 100 por mês.

"Aqui ninguém quer pagar salário mínimo não. Mas eu prefiro lavar chão pros outros pisarem a me acabar no sol quente". Ganhar salário mínimo (R$ 510) em Junco do Maranhão é um luxo, normalmente para servidor ou aposentado, reitera a secretária de Assistência Social da prefeitura, Norma Ferreira. Por essa e por outras, o último Mapa da Pobreza do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), de 2003, aponta que 71,2% da população da cidade vivia em condições de pobreza.

O Bolsa Família mais que dobra o orçamento familiar. Ela recebe R$ 66 por manter as três crianças na escola e outros R$ 68 por estar abaixo da linha de extrema pobreza, num total de R$ 134. São consideradas extremamente pobres pelo governo federal famílias com renda per capita abaixo de R$ 70 por mês. Na casa da doméstica que ganha um quinto do que deveria, segundo a lei, a renda per capita é de R$ 25.

Com exceção do fogão, adquirido a prestações pequenas, quase tudo o que possui em casa ganhou de amigos ou parentes. A colcha azul de crochê dada pela filha da patroa serve bem como toalha de mesa. A mesa e os banquinhos rústicos de madeira foram esculpidos pelo cunhado. A casa também ganhou de presente neste ano: do programa Minha Casa Minha Vida. Foram improvisadas paredes de lençol para dividir os cômodos. No quarto dos filhos há apenas redes penduradas. Um colchão de solteiro é tudo que há no seu quarto.

Apesar das três crianças em casa, não há brinquedos. A diversão é o caderno da escola, que o caçula João Gabriel pega para escrever o nome. Orgulhosa dos filhos, Rosemeire confessa que não sabe escrever. Os meninos vão à escola de manhã e a irmã, à tarde. Leinara estava no colégio quando o iG visitou sua casa.

No Maranhão, a renda média mensal dos trabalhadores equivale à apenas 65% da média nacional. De acordo com a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad), o trabalhador maranhense recebeu em média R$ 725 por mês em 2009. No Brasil, o valor é de R$ 1.106.

Um dos poucos indicadores que conseguem medir renda em cidades, o Índice Firjan de Desenvolvimento Municipal mostra que a capacidade de gerar empregos em Junco do Maranhão piorou entre 2005 e 2007. Construído a partir de cadastros de empresas do Ministério do Trabalho, o indicador só consegue mensurar o mercado formal de trabalho. As lojinhas informais que foram abertas no município, gerando trabalho para várias pessoas, portanto, não entram nessa conta.

?Quando o Bolsa Família começou, enfrentamos várias críticas, tivemos problemas nas regiões mais pobres. A conversa era sempre a mesma: que o Bolsa estava estimulando as pessoas a deixar de trabalhar. Na verdade estamos tirando as pessoas do trabalho escravo?, afirma a secretária de Renda de Cidadania do Ministério do Desenvolvimento Social (MDS), Lúcia Modesto.

?Tinha empregado cortando cana no Nordeste, pessoas que trabalhavam na pecuária no Nordeste ganhando R$ 1, R$ 2 por dia, num total de R$ 30, R$ 40 por mês no semi-árido nordestino?, afirma Lúcia. O Bolsa deu oportunidade a essas pessoas para elas dizerem não a esse tipo de trabalho?.



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