Jovem gasta quase toda a renda com dívida de financiamento

Valor da dívida é maior que o do automóvel, e ela também deve no cartão

|
FACEBOOK WHATSAPP TWITTER TELEGRAM MESSENGER

O pagamento das prestações de um Voyage zero quilômetro comprado em outubro de 2009 compromete quase todo o salário da analista de crédito Kelly Costa, que mora em Santa Maria, cidade a 26 quilômetros de Brasília. Kelly, de 25 anos, recebe R$ 900 líquidos por mês, e a parcela mensal do veículo é de R$ 879,96, ou seja, 97% de sua renda. ?Trabalho só para pagar o carro?, reconhece.

Além do salário, Kelly recebe R$ 286 de vale alimentação e outros R$ 126 de vale transporte. As despesas da casa e com roupas são custeadas pelo namorado, com quem já mora. O casal está comprando uma casa financiada em Valparaíso, cidade goiana no entorno de Brasília. Kelly conta que as 300 parcelas de R$ 423 do imóvel serão pagas integralmente pelo namorado.

?Ele é coordenador de uma equipe de segurança e ganha cerca de R$ 2 mil. Não quero vender [o carro] porque ele vai me ajudar a pagar agora?, diz. De acordo com Kelly, o namorado é quem mais usa o veículo. ?Com o aperto, eu disse ?vai ter que ajudar a pagar??, relata.

A analista diz que está estudando a possibilidade de pedir redução do valor das prestações junto à financeira. ?Nunca imaginei que um dia estaria nessa situação. É bem ruim o pessoal te ligar e cobrar.?Kelly ainda tem uma dívida de cerca de R$ 4 mil em dois cartões de crédito. Ela afirma que tem uma indenização trabalhista de R$ 9,4 mil a receber ? dinheiro que usaria para quitar o carro e os cartões, mas não tem previsão de quando vai receber a quantia. ?A gente tem muita esperança de que esse dinheiro saia logo para que possa resolver isso.?

Mudança de emprego afetou orçamento

As parcelas do carro passaram a não caber no orçamento de Kelly após uma separação e uma mudança de emprego. A analista diz que tinha um salário maior antes e que o ex-marido a ajudava a pagar o veículo. Antes de começar a trabalhar como analista de crédito, ficou seis meses desempregada. ?Foi aí que a situação apertou mesmo. Usei um dinheiro que tinha no banco e a ajuda que ele [ex-marido] mandava.?

Segundo Kelly, o valor de venda do veículo era de R$ 32.900, e 15 das 60 prestações foram pagas. ?Mas ultimamente eu só pago em atraso. Tem quatro ou cinco prestações mesmo que estão atrasadas.? Com o parcelamento, o valor do veículo subiu para R$ 52.797,60. ?São quase dois carros?, diz.

Erros

A regra mais importante ? e que não foi seguida por Kelly ? , na avaliação do professor Alcides Leite, da Trevisan Escola de Negócios, é evitar o endividamento excessivo sempre. ?Não dá para prever situações como divórcio, desemprego. Mas o mais importante é não ter dívidas, porque daí o resto fica mais fácil de resolver?, afirma.

Além disso, ao submeter o contrato de financiamento do carro a uma análise na Associação das Vítimas de Juros Abusivos do DF, Kelly disse ter descoberto irregularidades no contrato. ?O vendedor falou que tinha conseguido uma redução de R$ 5 mil, mas no final estou pagando por ela. Além disso, outros encargos, como taxa de assinatura do contrato e comissão, também foram cobrados sem eu saber?, afirmou.

?Ninguém recebe cópia do contrato que assina. O vendedor pega os dados e diz que vai enviar para a financeira?, adverte a presidente da instituição, Eliana Chaves.

Segundo o professor Alcides Leite, o caminho para que Kelly recupere a saúde financeira é tentar vender o carro e usar o dinheiro para quitar a dívida de R$ 4 mil dos dois cartões de crédito ? modalidade que é ?vilã? dos juros altos e transforma pequenos débitos em uma ?bola de neve? em pouco tempo. ?Ela tem que sair logo da dívida do cartão, que é a mais cara?, recomenda o professor.

De acordo com Leite, a saída é tentar vender o veículo para um interessado na compra de um usado, e calcular o valor para a venda com base no preço dos usados no mercado. ?Ela calcula o quanto custaria o carro do modelo e ano do dela financiado pelo período que ainda falta para ela pagar. Daí quem quer comprar um usado pode comprar dela e ela repassa o financiamento?, diz.

O especialista orienta que a analista continue pagando as parcelas do financiamento da casa e tente renegociar em caso de dificuldades no pagamento. ?É melhor ficar com a casa do que com o carro, que só dá despesa. Pelo menos ela está colocando dinheiro em uma coisa útil, que vai livrá-la do aluguel?, diz. ?Ela deve procurar a construtora para renegociar, pedir alguma carência para pagar as parcelas?.

Depois de controlado o ?pico? da crise financeira na vida da analista, Leite recomenda mudanças drásticas. O primeiro passo, ensina, é procurar o banco em que é correntista, cancelar o cheque especial e devolver os dois cartões de crédito. ?O cartão é muito perigoso para quem tem dificuldades de se planejar, porque você gasta mais do que pode, entra no financiamento e aquilo vira uma bola de neve?, diz o economista, que acredita que a atitude ajudará Kelly a aprender a depender apenas da renda mensal para pagar as contas. ?Por um tempo é bom ter um choque total: não ter cheque especial, cartão nem carro?, diz.

Outra dica do professor é a de que Kelly busque organizar o orçamento em casa, com o namorado. ?Tem que conversar com ele e os dos colocarem no papel toda a receita e todas as despesas, e juntos estudarem como eles vão fazer para tocar a vida daqui para frente?. Anotar todas as despesas e montar uma planilha pode fazer muita diferença no fim do mês, diz Leite.



Participe de nossa comunidade no WhatsApp, clicando nesse link

Entre em nosso canal do Telegram, clique neste link

Baixe nosso app no Android, clique neste link

Baixe nosso app no Iphone, clique neste link


Tópicos
SEÇÕES