Juros para o consumidor no Brasil cai a nível recorde

O efeito prático é que um financiamento imobiliário, por exemplo, acaba tendo o dobro do custo no Brasil.

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Os juros para o consumidor no Brasil atingiram o menor patamar desde 1995, divulgou nesta semana a Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade (Anefac). A taxa média chegou a 117,51% ao ano em outubro e bateu o menor nível desde que o levantamento começou a ser feito, em janeiro de 1995. Contudo, o ânimo do consumidor deve ser relativo. Se comparada a países desenvolvidos, a taxa é muito maior da praticada nas outras nações. O efeito prático é que um financiamento imobiliário, por exemplo, acaba tendo o dobro do custo no Brasil.

O financiamento de imóveis no Brasil tem batido recordes. A Caixa Econômica Federal, maior instituição de crédito imobiliário do País, estima emprestar R$ 70 bilhões em 2010. Porém, o mercado poderia estar mais aquecido se as taxas de juros praticadas no Brasil estivessem apenas mais próximas das de países como França e Itália, por exemplo. Em queda desde outubro de 2008, a taxa de empréstimo para financiamento imobiliário chegou à mínina histórica de 3,3% ao ano em setembro na França. Na Itália, este valor é de 3,9% ao ano.

Fazendo uma simulação pelo site da Caixa, um empréstimo de R$ 200 mil para ser amortizado em 30 anos, pelo sistema pró-cotista do Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS) teria custo total de R$ 631.850, com juros de 10% ao ano e parcela mensal de R$ 1.755.

Um empréstimo com as mesmas condições, se solicitado com os juros praticados na Itália, custaria ao final dos 30 anos R$ 339.602 para o consumidor, com uma parcela de R$ 943,34 por mês - 46% menor que no Brasil. Na França, a diferença seria ainda maior: parcela de R$ 875,91 e custo total do empréstimo de R$ 315.327 - 50% a menos.

Na França, nunca foi tão vantajoso financiar um imóvel. As taxas em queda têm reaquecido o mercado imobiliário após a crise econômica e financeira de 2008. A baixa vem estimulando muitos jovens casais - os principais beneficiados - a adquirir o primeiro apartamento. O cliente ideal para obter uma linha de financiamento nestas condições é um casal de até 35 anos, com emprego fixo.

Na França, é o crédito imobiliário o principal responsável pelos empréstimos, uma vez que o uso de crédito pessoal não é uma prática dos franceses - a compra parcelada é uma raridade e só pode ser realizada com o crédito da loja. Mesmo assim, é limitada a em média três parcelas, independente do valor da compra. A taxa média de juros do crédito pessoal é de 4,72% ao ano, de acordo com o Banco da França. No Brasil segundo os dados da Anefac, essa taxa é de 72,93% ao ano.

Porém, nem tudo é vantagem no país desenvolvido. O efeito dos juros tão baixos para financiamento imobiliário foi que o preço dos imóveis nas grandes cidades francesas, como Paris, não para de aumentar.

"As taxas de juros imobiliários historicamente baixas aumentaram muito a capacidade de financiar, especialmente para a pessoas que estão comprando pela segunda vez e podem dar uma entrada maior, graças à mais-valia sobre o imóvel que eles revendem", explicou Laurent Vimont, da rede de imobiliárias Century 21, uma das principais da França. "Infelizmente, a oferta de taxas de juros favoráveis sempre vem acompanhada de aumento nos preços. É a regra do mercado."

Apenas em Paris, os preços dos imóveis verificaram uma alta de 15% entre setembro de 2009 e setembro de 2010, chegando a em média 7.410 euros por metro quadrado. Um studio de 20 metros quadrados - um dos menores tipos de apartamento disponíveis na capital - beira os 150 mil euros (cerca de R$ 350 mil).

Com a baixa das taxas de juros, o total de créditos imobiliários circulando nos bancos franceses deve chegar a 140 bilhões de euros (cerca de R$ 328 bi), uma progressão de 17% em relação ao ano anterior, de acordo com um estudo encomendado pela Crédit Logement, uma das financiadoras de imóveis que operam no mercado. "Este montante deve ser ainda mais elevado até o início do ano que vem, efeito da concorrência comercial entre os bancos, que poderá provocar quedas ainda maiores nos juros para poder atender ao aumento da demanda", analisa Michel Mouillart, professor de Economia da Universidade Paris X - Naterre. "Os bancos não vão perder este momento, uma oportunidade para voltarem a crescer a níveis pré-crise."

Itália

Os italianos, como europeus em geral, não fazem compras parceladas - à exceção de casas e automóveis. As pequenas compras do dia a dia são pagas em dinheiro, cartão de crédito ou cartão da loja, em parcela única. Dados de setembro fornecidos pela Banca d"Italia, o Banco Central Italiano, sobre a taxa média de juros bancários apontam que a taxa anual para empresas era de 1,42%, para famílias, de 4,66 % e financiamento para hipoteca ficou em 1,42%.

Para comprar uma casa, por exemplo, um cidadão italiano pode optar por três tipos de juros: fixos - acordados com o banco no começo do contrato - variáveis pelas Taxas Efetivas Globais (TEG), equivalente à Selic no Brasil, ou misto. As taxas variam de banco para banco, mas é comum ver ofertas para compra parcelada de imóveis em até 30 anos com taxas fixas de 3,90%.

Se o imóvel for a primeira casa, as taxas caem ainda mais por conta de ajuda de custo do governo, e podem chegar perto dos 2%. Para especialistas, é um momento histórico. "Essa situação não se repetirá tão cedo", avalia Roberto Anedda, diretor do site Mutui online, especialista em pesquisa de condições para financiamento imobiliário.

O juro para cada consumidor, como no Brasil, varia de acordo com a idade da pessoa, do salário, se tem carteira assinada e se pretende dar entrada ou pegar o empréstimo total do imóvel. Em uma simulação, uma pessoa de 30 anos com carteira assinada e salário de 1.500 euros pagaria cerca de 521,57 euros ao mês por 30 anos em um empréstimo de 100 mil euros para a compra da primeira casa (juros de 4,75% ao mês).

Caso dê uma entrada de 20 mil euros, a parcela mensal cai para 306,25 euros (juros de 2,25% ao mês). Ou seja: dos 80 mil euros do empréstimo, o consumidor pagaria 110.250 ao final dos 30 anos, sem considerar depreciação da moeda e inflação.



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