Onda de greves acende sinal amarelo no mercado financeiro

Policiais civis em dez Estados brasileiros e o Distrito Federal decidiram aderir ao movimento de paralisação.

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Mercado financeiro em alerta | O Estadão
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O recrudescimento dos protestos de ruas e as greves de várias categorias de trabalhadores ? de policiais civis a motoristas de ônibus ? nas principais cidades brasileiras acenderam a luz amarela de analistas sobre as consequências econômicas e políticas desses movimentos.

Terça-feira, 20, sem qualquer aviso, motoristas e cobradores de ônibus cruzaram os braços numa paralisação que causou transtornos na maior cidade do País.

Cenas de saques em outras cidades, em razão da greve de policiais, por exemplo, já haviam entrado no radar dos analistas. Aliás, policiais civis em dez Estados brasileiros e o Distrito Federal decidiram aderir ao movimento de paralisação.

?Deram a senha para isso no carnaval, quando os garis cariocas fizeram uma greve extensa e conseguiram um reajuste significativo naquele momento?, comenta o economista-chefe da MB Associados, Sergio Vale. ?Abriu espaço para sindicatos demandarem aumentos maiores pela proximidade da Copa.?

Ele acredita que as greves e protestos tendem a aumentar nas próximas semanas na tentativa de pressão para conseguir mais do que o normal. Segundo Vale, para os dados de atividade, as greves e protestos vão ser bastante ruins. ?Devem jogar não apenas junho e julho para baixo, mas provavelmente maio também virá ruim?, afirmou.

Na opinião de Tony Volpon, diretor de pesquisas para a América Latina da Nomura Securities em Nova York, uma onda de protestos será algo notado pelo mercado.

?Acho que a expectativa atual é que não vamos ver protestos do tamanho do ano passado, mas eventos isolados?, afirmou Volpon. ?Então para julgar as possíveis consequências eleitorais o mercado vai analisar que tipo de protestos podemos ter.?

Volpon acredita que o mercado está preparado para uma certa dosagem de populismo e isso não vai assustar ninguém. ?Afinal, o que importa é a conta final ? o superávit primário?, disse ele. ?Se quiser dar mais recursos para pagar certas categorias, que tirem isso de alguém.?

Para Gustavo Rangel, economista-chefe para América Latina do banco ING em Nova York, a sinalização já dada pela presidente Dilma Rousseff, quando reajustou o Bolsa Família em 10% e indicou que manterá a política atual de reajuste do salário mínimo, reforça o temor de que a postura do governo seja a de adotar medidas que pressionem os gastos públicos como forma de lidar com as protestos nas ruas.

?O governo está mais vulnerável agora do que há um ano, quando houve aquelas manifestações de rua?, disse Rangel. Isso porque, explicou ele, as eleições presidenciais se aproximam e a intenção de voto na presidente nas recentes pesquisas de opinião vem caindo.

?O quão mais vulnerável o governo ficará depende de se os protestos conseguirem ser bem-sucedidos no poder de barganha, com o apoio da opinião pública, a qual não aprova a violência nas ruas?, explicou Rangel.

Ele observou ainda que, ao reagir com medidas de cunho mais populistas, como a sinalização sobre a política do reajuste do salário mínimo e o aumento dos benefícios pagos pelo Bolsa Família, o temor é que o governo não só adote medidas que pressionem os gastos públicos, como também ceda a medidas aprovadas no Congresso que também poderão pressionar as contas fiscais.

?O risco fiscal no período pré-eleitoral, com medidas com impacto no médio prazo, é o maior risco que eu venho alertando aos nossos clientes?, disse Rangel.

É possível esperar uma nova onda de protestos mais violentes até a Copa do Mundo?

Para Sergio Vale, da MB Associados, é inevitável esperar que alguma coisa aconteça, mas não é possível dizer a intensidade e como ocorrerá.

?O que certamente não deve acontecer são as movimentações gigantes que tivemos ano passado, pois aquela participação da classe média que foi tão importante para criar volume não deve ter esse ano?, disse o economista da MB Associados. ?Essa classe média se assusta quando os eventos se tornam mais violentos, como têm sido.?

Desta vez, ressaltou Vale, a vontade dos manifestantes tentarem ser mais agressivos pode até ser maior dado que terá uma grande quantidade de imprensa estrangeira circulando pelas cidades.

A reação, portanto, do governo à recente onda de greves e protestos será importante para analistas e investidores reavaliarem o cenário macroeconômico e político não só às vésperas da eleição presidencial, mas também as consequências de médio prazo para a economia brasileira de decisões tomadas nas próximas semanas e meses para apaziguar o humor das ruas.



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