Preço do álcool chega ao maior valor desde maio de 2006

A alta do açúcar levou então a um fenômeno atípico para os brasileiros: a elevação nos preços do álcool durante a safra de cana

Álcool | Arquivo
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 Os preços do álcool no Brasil vêm subindo desde junho deste ano. Em outubro, o valor pago em média pelo brasileiro por litro do combustível chegou a R$ 1,624 - o maior valor desde maio de 2006 (R$ 1,765), segundo pesquisa da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP).

Apesar da alta de 16,67% acumulada em cinco meses, creditada a um aumento dos preços do açúcar no mercado internacional, a normalidade deve voltar aos preços do segmento no ano que vem.

Segundo Eduardo Moreira, professor do departamento de Administração da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), a alta do preço do combustível desde maio, em plena safra, está relacionada a um aumento do valor cobrado pelo açúcar no exterior, o que leva a um desvio de parte da produção de cana-de-açúcar (matéria prima de ambos os produtos) para este fim. Um dos motivos desta alta do preço do açúcar foi a quebra da safra de cana da Índia, que vai levar o país - que é o maior consumidor mundial do produto - a terminar o ano com um déficit de cerca até 7 milhões de t da commodity, segundo informou o Ministério da Agricultura indiano na última quarta-feira.

A alta do açúcar levou então a um fenômeno atípico para os brasileiros: a elevação nos preços do álcool durante a safra de cana no Centro-Sul, a maior região produtora da gramínea no País. "O que aconteceu este ano foi um problema não usual. O normal é pico de preço na entressafra (do Centro-Sul)", disse Moreira.

Outro fator para a alta no preço do álcool, aposta o Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq/USP), são as chuvas ocorridas durante a colheita, que prejudicaram a safra brasileira da cana-de-açúcar. Com as fortes chuvas, segundo a consultoria alemã F.O. Licht, entre 40 milhões a 50 milhões de t de cana serão deixadas nos campos no Centro-Sul após a temporada atual (2009/10).

Mais um motivo, de acordo com o professor, foi o aumento da demanda pelo combustível dentro do próprio País, com um avanço na frota de veículos bicombustível (flex). Contudo, de acordo com Moreira, a partir da alta do álcool, mais pessoas vão migrar para a gasolina, o que vai equilibrar a demanda pelo combustível e, por consequência, os preços. Um levantamento feito pelo Terra nesta semana mostrou que, com o avanço dos valores cobrados nos postos pelo combustível renovável, já é mais vantajoso abastecer o carro flex na maior parte do País (17 das 27 unidades da federação) com gasolina.

O professor ressaltou que não há falta do produto para o consumidor, como já ocorreu em outras épocas no País. Por isso, diz ser desnecessária uma intervenção do governo no setor. "Não é um produto essencial para que haja interferência governamental. E não está havendo uma falta, como já ocorreu anteriormente no País. O mercado vai equalizar normalmente. Desde que tivemos a abertura do mercado do álcool no País, não houve falta do combustível", afirmou.

Normalização em 2010

O professor da PUC-SP afirma que o mercado do álcool deve se normalizar no ano que vem, puxado principalmente por um aumento na área plantada de cana, que deve ocorrer por conta dos bons preços do álcool e do açúcar. "No álcool, os ciclos são mais curtos (do que no petróleo). De um ano para o outro há aumento de área plantada pela formação de novos canaviais. Com o preço alto deve ocorrer um processo como esse no ano que vem. Preço mais alto estimula a produção", disse.

Outro motivo que deve tirar a pressão dos preços é uma recuperação na produção de açúcar indiana. Um da F.O. Licht, divulgada na última quarta-feira, aponta que a produção da Índia de açúcar deve saltar de 18,5 milhões de t, na safra 2009/10, para cerca de 24 milhões de t em 2010/11, reduzindo o déficit do maior consumidor mundial do produto. A mesma consultoria ressalta ainda que a moagem de cana do Centro-Sul brasileiro deve crescer 9,4% da temporada atual para a 2010/11, passando de 530 milhões de t para 580 milhões de t. "A normalização seguramente vai acontecer no ano que vem. Mesmo com os preços do açúcar em alta, porque há um ajuste na produção (de cana)", diz o professor da PUC-SP.



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