BR: Se meta fiscal for ameaçada, haverá cortes, diz Guido Mantega

O chefe da equipe econômica disse que economizará até dezembro o equivalente a 2,3% do PIB

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Guido Mantega | Reprodução
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Diante de um cenário de desconfiança do mercado com o compromisso do governo Dilma de manter as contas públicas sob controle, o ministro Guido Mantega (Fazenda) prometeu ontem segurar os gastos neste ano.

O chefe da equipe econômica disse que economizará até dezembro o equivalente a 2,3% do PIB para abatimento da dívida pública, acima das previsões do mercado, de 1,8%. Se ao longo dos próximos meses for identificado algum movimento que possa prejudicar essa meta, Mantega diz que cortará despesas.

"Podem cravar a informação. Isso é uma meta firme do governo", afirmou o ministro, em entrevista.

Em mais um dia de forte atuação do Banco Central no mercado de câmbio, Mantega reconheceu que o movimento global de valorização do dólar pesa sobre a inflação brasileira. Mas acredita que isso pode ser passageiro.

Se o efeito for mais duradouro, o ministro afirma que o governo não irá poupar medidas e esforços para manter os preços sob controle.

O cenário hoje no mercado é de pessimismo e de falta de credibilidade da política fiscal. A que o sr. atribui isso?

Guido Mantega - O melhor indicador não é conversa mole, mas as atitudes concretas do mercado em relação ao Brasil. Fomos neste primeiro semestre palco do maior IPO [oferta pública inicial de ações] do mundo, do BB Seguridade, de R$ 11,5 bilhões. A Petrobras captou US$ 11 bilhões. O investimento externo direto, até abril, foi de US$ 19 bilhões. São provas de confiança na economia brasileira.

Mas por que o pessimismo?

Temos um evento internacional importante, que vem ocorrendo há 15 dias, desde que o Fed [banco central americano] passou a sinalizar que vai retirar os estímulos que vinha colocando na economia. Hoje, todas as Bolsas estão caindo no mundo. Não é um problema do Brasil, mas generalizado.

Aí os oportunistas dizem que tem problema no Brasil. Não tem. Essa desvalorização [do real] não sei se veio para ficar, porque é um momento de reacomodação da economia mundial. Pode durar uma, duas, três, quatro semanas. Estamos bem preparados para isso, temos altas reservas. A desvalorização não é boa para inflação, mas pode ser passageira. Estamos tomando outras medidas para combater a inflação.

A desvalorização pode forçar o BC a elevar mais os juros?

Não pouparemos medidas para manter a inflação sob controle.

Mas o dólar em alta não funciona contra?

Depende do tempo em que permanecer essa desvalorização. Não dá para afirmar nada. Eles [os EUA] soltaram um balão de ensaio, a verdade é essa. Deram declarações, o mercado já se altera em função delas, depois vão ver o que fazem. Pode perdurar? Pode. É um momento de indefinição e de volatilidade e isso causa preocupações. Agora, isso não interrompe a retomada dos investimentos que está acontecendo no Brasil.

O sr. disse que não vai poupar medidas para controlar a inflação. O que pode ser feito?

A política monetária é o principal instrumento. Aí é o Banco Central que vai avaliar. Neste momento, de concreto, temos uma queda da inflação. O resto é uma suposição.

Do lado fiscal, analistas, como o ex-ministro Delfim Netto, defendem que o governo faça um ajuste para ajudar o BC.

O grande objetivo da política é diminuir o deficit nominal, porque é o mais abrangente. Para o superavit primário estamos trabalhando com 2,3% [do PIB] neste ano, com abatimento [de R$ 45 bilhões de obras do PAC e de desonerações].

Com a melhora da rentabilidade das empresas, elas estão pagando mais IR, a arrecadação começou a subir. Se você consultar os governos estaduais, lá passou a subir também, é um movimento generalizado.

Com esses dados concretos, que não são conjecturas, posso estimar que, com o que nós vamos abater, vai nos deixar com um primário de 2,3%. E o deficit nominal será de 2%. E vai continuar caindo.

O mercado diz que o primário neste ano será de 1,8% do PIB.

Cada um pode achar o que quiser. Eu estou dizendo que esta é minha previsão, baseada em dados concretos. Vamos trabalhar para 2,3%. Isso significa que vamos continuar contendo despesas de custeio, melhorar a arrecadação.

E se o cenário econômico colocar em risco esta meta?

Faremos ajustes adicionais, pelo lado da despesa. É bastante sólida a ideia de que nós vamos fazer 2,3% de superavit primário. Podem cravar a informação. Isso é uma meta firme do governo.

Por que o mercado duvida tanto do governo na condução da política fiscal?

Fiz questão de manter o superávit de 3,1%, quando havia alguns que desaconselhavam. Sempre fizemos um esforço fiscal, desde que sentei nesta cadeira. O grosso da despesa está contida. O que faz a diferença é a desoneração. Se houver um clamor popular, dos empresários, que não querem as desonerações, tudo bem, porque a gente procura estar sintonizado com os anseios. Mas duvido que isso vá acontecer.

Quanto deve ser a inflação neste ano?

Não sei. Pode pegar aquilo que o mercado está projetando. A inflação deve ficar parecida com a do ano passado, mas prefiro deixar o Banco Central fazer essa projeção.



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