Cheque sobrevive, mas ocupará menos espaço

Em 2018, apenas 3% dos pagamentos no Brasil serão feitos com papel timbrado e assinatura do portador

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O casal paulistano Célia e Rodrigo Oliva ? ela é analista de sistemas e ele técnico em informática ? decidiu aproveitar o feriado prolongado curtindo as belas paisagens rurais. Para pagar pelos quatro dias descanso numa pousada em Santo Antônio do Pinhal (SP), o casal não pensou duas vezes. ?Até poderíamos parcelar no cheque, mas não vimos nenhuma vantagem. Por isso decidimos pagar em quatro vezes sem juros no cartão de crédito. Além de não cobrarem nenhuma tarifa pelo parcelamento, ainda economizamos o tempo que perderíamos conferindo e assinando os cheques e esperando a aprovação do nosso cadastro?, diz Célia, que está grávida do primeiro filho.

O uso do cheque como meio de pagamento está perdendo espaço desde 1994, ano do Plano Real, que controlou a inflação. Mas uma projeção da Abecs, a Associação Brasileira das Empresas de Cartões de Crédito e Serviços, indica que o meio de pagamento baseado em papel timbrado por um banco com a assinatura do portador deverá ficar relegado a situações específicas. Até 2018, apenas 3% dos pagamentos vão ser realizados com cheques, metade do que foi registrado em 2008.

Os brasileiros assinaram 1,23 bilhão de cheques no ano passado ? um número 37% menor do que em 2004, segundo dados do Banco Central. É igual a quantidade de cheques compensados em 1980. No auge, em 1994, os bancos brasileiros chegaram a compensar mais de 4 bilhões de cheques por ano. Embora o número tenha sido reduzido, os valores totais dos cheques têm se mantido estáveis por ano, na casa do R$ 1 trilhão desde 2004.

História do cheque

A primeira referência ao cheque no Brasil foi feita em 1845, sendo naquela época chamado de cautela. Seu uso só foi regulamentado em 1912 pelo decreto 2.591, o que tornou o cheque um meio autorizado de pagamento. Nos anos 1980 e 1990, época de inflação alta e antes do advento da compensação eletrônica, os cheques eram os principais meios de transferência de dinheiro, depois da própria transação com as cédulas em dinheiro vivo.

Os bancos mantinham exércitos de funcionários trabalhando noturnamente em seus departamentos de compensação de cheques, cuja atividade de conferência de assinatura era feita manualmente. As instituições tinham gráficas para imprimir centenas de milhares de talonários. Com o investimento maciço em novas tecnologias, os bancos reduziram significativamente essas atividades.

A transformação do meio de pagamentos acabou mudando os formatos atuais das carteiras. A empresa paulista Couro Impresso, fabricante há 17 anos brindes em couro, adaptou sua linha de carteiras, tornando-as mais finas e com espaço para acomodar vários cartões.

?Carteira com espaço para talão de cheque é objeto em extinção?, diz Maria Helena Coura, diretora da empresa. A fabricante deixou de produzir o modelo com porta-cheque, que foi o carro chefe de vendas até cinco anos atrás. ?Ninguém mais carrega talão hoje em dia e, no máximo, leva uma folhinha de cheque?, diz Maria Helena.

Pagamento de altos valores

A Telecheque, empresa que trabalha na administração e garantia de pagamentos, nota a redução no uso do cheque em transações de pequeno valor. Mas a diretora de marketing, Patrícia Abud Monteiro, não acredita que o cheque vai desaparecer. ?O perfil de uso está mudando?, explica, indicando que o pagamento de bens de valores mais elevados, que muitas vezes ultrapassam o limite disponível no cartão de crédito, vai continuar sendo feito com cheque. ?Cada vez mais a relação entre cheque e cartão é complementar.?

Há atividades onde o cheque ainda predomina, como a compra de um imóvel ou um carro. ?Acho discutível essa questão de que o cheque vai acabar. Por enquanto, esse instrumento ainda tem um peso importante?, diz o economista-chefe da Associação Comercial de São Paulo (ACSP), Marcel Solimeo. Outro fator a favor da sobrevida do cheque é o aumento da população que passa a ter uma conta em banco. ?Isso tem feito crescer o número de pessoas que tem acesso a contas correntes e ao cheque, o que está contribuindo para manter a quantidade de operações com cheque estável em 2010?, diz Walter Tadeu Pinto de Faria, diretor-adjunto de serviços da Federação Brasileira de Bancos (Febraban).

O declínio do cheque se deve ao uso mais disseminado de formas eletrônicas de pagamentos, como os cartões. A Abecs diz que o uso de cartões cresceu a uma taxa média de 21% ao ano entre 2000 e 2009 ao passo que o uso do cheque caiu 8,1% ao ano no mesmo período. O uso de cartões deve saltar de 22% para 40% do total em 2018. O papel moeda continuará sendo o meio mais usado no Brasil, mas sua participação no volume total de pagamentos deve recuar de 60% para 50%.

?Os cartões de crédito, de loja e de débito vêm substituindo os meios tradicionais de pagamento?, afirma José Alípio dos Santos, superintendente da Abecs. ?Ele tem vantagens, não só para o portador do cartão, mas também para os comerciantes?, diz. Entre os aspectos positivos, ele cita a segurança, a praticidade e, para os clientes, a possibilidade de parcelamento sem juros e mais flexibilidade no prazo de pagamento da fatura do cartão, que pode chegar a até 40 dias.

A facilidade para organizar as contas no final do mês também é um fator que pesa a favor do uso de cartões. ?É muito mais fácil se organizar para pagar a fatura do cartão de crédito do que ficar o mês todo tentando lembrar os cheques que têm para cair na conta?, afirma Célia. ?Por isso mesmo, quase não usamos mais cheque, muitas vezes não vale a pena?, completa.



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