Eike: “Zona sul consome drogas e quem paga pato são as comunidades”

O caminho inclui investimentos em dez novos unicórnios, palavra que repete diversas vezes em mais de uma hora de entrevista à BBC News Brasil.

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Aos 62 anos, em um retorno aos holofotes depois de "cinco anos hibernando para resolver megaproblemas", o magnata Eike Batista continua uma metralhadora de frases de impacto: "Pobreza é relativo." "Querer ser o homem mais rico do mundo" foi "frase estúpida". "Ser um pavão no meio da comunidade miserável não tem graça nenhuma." "O Brasil cresce que nem rabo de cavalo, para baixo e para trás." "Não confio em empresário que não errou." "Eu me considero sinceramente humilde." As informações são do Época Negócios.

A queda livre do posto de sétimo homem mais rico do mundo, dono de uma mansão com um carro de luxo na sala de estar, para a bancarrota, com direito a fotos em um camburão nas páginas policiais de jornais, fez com que Eike prometesse voltar ao topo por meio de um "retorno às origens". "Estou voltando à área de mineração com ouro, fertilizantes, e outros, e também na área de nanotecnologia, na área química e na área de materiais, onde está o grafeno e a hidroxiapatita", diz.

Michel Filho/Agência O Globo

O caminho inclui investimentos em dez novos unicórnios, palavra que repete diversas vezes em mais de uma hora de entrevista à BBC News Brasil. "Unicórnios são aqueles investimentos que têm potencial de rapidamente render bilhão de dólares. E o meu negócio essencialmente é vender minha expertise para esses negócios."

Ele recorre em liberdade a uma condenação de 30 anos de prisão por corrupção e lavagem de dinheiro - segundo a sentença do juiz Marcelo Bretas, do braço fluminense da Operação Lava Jato, Eike pagou US$ 16,6 milhões (o equivalente na época a R$ 51,9 milhões) ao então governador Sergio Cabral (MDB).

Eike rebate todas as acusações, ao mesmo tempo em defende a meritocracia ("Total, né? No fundo, não importa etnia") e que afirma ter se transformado após três meses na cadeia - um lugar "desumano", nas palavras do empresário. "Aprendi lá em Bangu que tem muita gente que vai para lá, jovens, que não são ressocializados. Isso para mim é gravíssimo", diz. "A gente tem que entender que aquele jovem virou um avião e transportou não sei o que e foi pego no transporte e está ali por um tempo que não deveria."

 A seguir, confira os principais trechos da entrevista ao BBC News Brasil.

BBC News Brasil - O senhor ainda mora naquela mansão do Jardim Botânico?

Eike Batista - Sim, eu moro naquela casa que eu construí 40 anos atrás.

BBC News Brasil - Muita gente disse, logo depois que a tormenta começou, que Eike teria ficado pobre. Não parece ser bem assim.

Batista - Na verdade, o meu verdadeiro patrimônio está na minha cabeça. Olha, pobre é muito relativo. Eu sou um cara modesto, de família de classe média. Óbvio, moro numa casa bacana, muito bonita, mas é um patrimônio que eu construí com os negócios que criei. Na vida do dia a dia, eu não sou um cara de badalar. Você nunca me viu em festas. Se eu saí em dez festas em dez anos, é muito. Então, você pode ter uma vida bem modesta. Eu gosto mesmo é de trabalhar. Ir do meu escritório para casa, tenho um filho pequeno que me dá muita alegria. É isso.

EPA/ via BBC NEWS

BBC News Brasil - Houve um hiato, né? O senhor ficou um tempo fora dos holofotes. O que um homem que teve uma queda tão grande tem a ensinar a essa nova geração que está curiosa em te ouvir?

Batista - Eu fiquei cinco anos hibernando para resolver esses megaproblemas. Resolver US$ 25 bilhões em dívidas, reestruturar isso de maneira que os projetos ficassem em pé, para mim foi um orgulho e muito trabalho. Não tinha muito o que se falar nessa fase. Em paralelo, comecei a cultivar esses novos unicórnios e o que tenho a dizer para os jovens é: olha, se você tem boas ideias, sonhos, obstinação, é uma parte fundamental disso. Mas também não aquela obstinação boba. Gaste até 10% do seu capital eventual para estudar profundamente o negócio que você está pretendendo fazer.

Faça uma pesquisa de mercado se você, sei lá, está abrindo uma padaria, uma franquia, e não entre no oba-oba. Vejo muito que muita gente acha que sua ideia foi espetacular, que o produto que vai produzir na padaria é o melhor pão da praça. Tenha a humildade de fazer um estudo ao seu redor. É o que eu chamo de método 360 graus de você estudar os assuntos. Você tem que ser bom na engenharia de pessoas, na engenharia jurídica - a papelada tem que estar toda em ordem, engenharia de pessoas - você tem que escolher as pessoas certas. Eu não tinha bola de cristal para avaliar desonestidade de pessoas com falta de caráter. Isso me força hoje a ficar mais próximo de todos os negócios e realmente analisar pessoa por pessoa. Isso bate muito no empresário que está começando porque você tem que escolher ou o sócio certo e ou os colaboradores certos.

BBC News Brasil - Autoavaliação: em que o sr. mudou, lá da pujança, no início dos anos 2000, até aqui? O que aprendeu naqueles três meses em Bangu, em que é diferente hoje?

Batista - Olha, primeiro, aquela frase estúpida de "eu quero ser o mais rico do mundo..." Eu quero ser o mais generoso, se existe isso. Quero ser um cidadão que consiga ajudar a comunidade mais ainda. Segundo, eu aprendi lá em Bangu que tem muita gente que vai para lá, jovens, que não são ressocializados. Isso para mim é gravíssimo. A mídia fala muito disso também, outro dia vi um negócio do (Drauzio) Varella, aquele médico que era médico em presídios também. Ele obviamente falou com muita propriedade sobre isso também. A gente precisa fazer algo para aqueles jovens não ficarem lá dentro e serem ali aliciados para facções e tudo mais. Isso realmente não pode acontecer. Não sei, vou tentar bolar fórmulas aí, assim que eu começar a gerar riqueza de novo numa escala para poder mudar esse quadro. Não sei direito ainda, mas ali eu aprendi isso. Ali acontecem injustiças que... Pegando o que você falou, né? A gente tem que entender que aquele jovem virou um avião e transportou não sei o que e foi pego no transporte e está ali por um tempo que não deveria.

Divulgação/BBC NEWS BRASIL

BBC News Brasil - O sr. considera a legalização das drogas um caminho?

Batista - Olha, se estão fazendo no mundo e está funcionando... Eu não sou estudioso nessa área e não queria opinar muito nisso, não, porque vão usar isso de alguma maneira, então não quero opinar porque não sou expert na área. Mas eu sinto que a criminalização como é, porque quem consome é a zona sul, né? Eu por acaso não consumo e isso não faz parte da minha vida. Mas a zona sul consome e quem paga o pato na hora do embate são as comunidades mais carentes. Então tem um erro aí. Não é pode ser!



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