Em retrospectiva da TV em 2013, “Fantástico” fica com destaque negativo

De uns tempos para cá, o lado jornalístico enfraqueceu

|
FACEBOOK WHATSAPP TWITTER TELEGRAM MESSENGER

Sem um grande evento ou notícia internacional bombástica, as pautas jornalísticas de 2013 foram tomadas pelas manifestações que ocuparam as ruas do País a partir de junho. Demorou para que as emissoras e seus principais jornalistas entendessem o que estava acontecendo com a população e quais eram as reais reivindicações por trás da redução das tarifas de transporte público. Manifestantes foram confundidos com vândalos e vice-versa. E comentaristas de renome, caso de Arnaldo Jabor, do Jornal da Globo, vieram a público pedir desculpas e se retratar.

Quem manteve suas convicções e imparcialidade se deu bem, caso do Bom Dia Brasil, vencedor na categoria "Telejornal" do "Melhores de TV Press 2013". Renata Vasconcellos e Chico Pinheiro não "apontaram o dedo" para ninguém. E relataram os principais fatos de forma consistente, analítica e elegante. Bem ao gosto do jornal matinal da Globo, que, quase no final do ano, perdeu Renata para o "Fantástico" e agora se mostra mais ágil com o tom vivaz de Ana Paula Araújo.

Aliás, a "dança das cadeiras" feita pela Globo só reafirmou o esvaziamento de conteúdo do Fantástico, produção que aparece na seleção de "TV Press" como "Destaque Negativo" em produção do ano. Com audiência em queda, a emissora correu atrás do prestígio perdido de forma equivocada e fez a revista eletrônica ganhar ares de um programa exclusivamente feminino. Sem grandes aventuras e investigações, sobra mesmo o tom enfadonho de séries como "Correio Feminino". No entanto, nem tudo está tão crítico. O despojado e versátil Tadeu Schmidt foi eleito o melhor na categoria "Apresentador".

Fora da "matriz", canais fechados das organizações Globo fizeram a diferença ao longo do ano. Da GloboNews, destaque para a desenvoltura de Maria Beltrão e seu eclético "Estúdio I", melhores nas categorias "Apresentadora" e "Programa de Debate". Enquanto o SporTV segue campeão em categorias ligadas ao jornalismo esportivo. Afinal, embora seja "paixão nacional", o esporte brasileiro não é só feito de futebol. Isso fica claro no "Redação SporTV", o melhor no quesito "Programa Esportivo", graças ao seu formato analítico e aprofundado. O canal ainda foi destaque em "Narrador Esportivo" com o preciosismo e contundência de Luiz Carlos Jr.

Sem grandes surpresas e concorrentes à altura, mais uma vez o "CQC" é eleito como melhor "Produção Jornalística" e o "Profissão Repórter" é a escolha de "TV Press" para "Programa de Reportagem". Em um ano de boas entrevistas, Marília Gabriela e o seu "De Frente Com Gabi" aparecem pela primeira vez em muito tempo na categoria "Programa de Entrevistas", escolhas que provam que informação não precisa de firulas e que o básico, quando bem feito, ainda rende muito.

TELEJORNAL

Melhor: "Bom Dia Brasil", da Globo.

Tom solar

Leve e informativo, o "Bom Dia Brasil" preza por um certo equilíbrio de forças do que leva ao ar. A informação continua sendo o mais importante, mas até pautas "sangrentas" e sisudas são tratadas de forma elegante pela equipe do jornalístico. A saída do ar mais sofisticado de Renata Vasconcellos foi sentida. No entanto, o vigor matinal de Ana Paula Araújo casou bem com a produção e com seu parceiro de bancada, Chico Pinheiro. A formação da dupla, inclusive, deixa claro o caminho mais popular que a Globo pretende desenvolver para o jornal matinal. Carismático e cada vez mais opinativo, Chico e seu jeito "mineiro" são um diferencial nas entrevistas e nos "links" ao vivo promovidos pela produção.

APRESENTADOR

Melhor: Tadeu Schmidt, do "Fantástico", da Globo.

Sem impedimento

Transitar pelo esporte e o entretenimento com a mesma desenvoltura é o grande mérito de Tadeu Schmidt. Apresentador titular do "Fantástico", Tadeu destacou-se dentro da Globo por conta de seu bom humor e poder de improvisação quando o assunto era jornalismo esportivo. A relação com o dominical, inclusive, começou de forma tímida, como parte de uma estratégia da Globo de recuperar a audiência masculina do programa. Aos poucos, Tadeu foi crescendo dentro da produção, criou quadros como "Bola Cheia e Bola Murcha" e ganhou autonomia maior no conteúdo do programa. A responsabilidade de Tadeu em "levar" o "Fantástico" adiante foi ainda maior em 2013, com a saída de Zeca Camargo e Renata Ceribelli da produção.

APRESENTADORA

Melhor: Maria Beltrão, do "Estúdio I", da GloboNews.

Pronta para tudo

A versatilidade é marca registrada na carreira de Maria Beltrão na tevê. Basta lembrar de sua participação em eventos como a exibição dos desfiles das Escolas de Samba e a apresentação do Oscar. Nome de ponta na GloboNews, Beltrão já fez de tudo ao longo de sua trajetória no canal de informações. Mas encontrou seu lugar mesmo foi à frente do "Estúdio I", programa que comanda desde 2008. Desenvolta em apresentações ao vivo e com assuntos cotidianos, ao longo de 2013, a jornalista soube dosar a seriedade de assuntos, como as manifestações nas principais cidades brasileiras, com os temas de comportamento e "canjas" musicais que já são de praxe no programa.

COMENTARISTA DE TELEJORNAL

Melhor: Renato Machado, do "Bom Dia Brasil", da Globo.

Elegância em forma

Ao longo dos 15 anos que integrou a bancada do "Bom Dia Brasil", Renato Machado usou sua ironia fina e jeito elegante de tratar as matérias para direcionar a produção por uma "linha" mais sofisticada. Trabalhando como correspondente em Londres desde que deixou a bancada ? em meados de 2011?, Renato continua a dar sua contribuição ao jornal. À distância e sem qualquer pressão do jornalismo diário, ele tem tempo de informar ao telespectador tendências políticas, econômicas e culturais da Inglaterra. Ao longo de 2013, destacou-se por sua intimidade com o país ao cobrir o falecimento da "dama de ferro" Margaret Thatcher, no último mês de abril. E, por isso, foi eleito por "TV Press" como o melhor na categoria "Comentarista de Telejornal".

PROGRAMA DE DEBATE

Melhor: "Estúdio I", da GloboNews.

Só o básico

Sem apelação ou firulas em 2013, o "Estúdio I", da GloboNews, destacou-se pela mistura interessante entre informação e entretenimento. Com cenário simples e sem grandes investimentos, a produção comandada por Maria Beltrão mostra que bons debates e participações especiais fazem a diferença e compensam o baixo orçamento. No time de comentaristas e debatedores, estão Luis Fernando Correia, Luiza Zveiter, João Paulo Cuenca, Artur Xexéo e Tom Leão, nomes que, além de novas ideias e experiências, agregam opiniões concisas aos fatos do dia. Com uma hora e meia de duração, o "Estúdio I" transformou-se em uma ótima ferramenta para o telespectador se informar, mas também se divertir.

PROGRAMA DE ENTREVISTAS

Melhor: "De Frente Com Gabi", do SBT.

Olhos nos olhos

Ao lado de Jô Soares, Marília Gabriela destaca-se quando o assunto é entrevistas. E no caso do "De Frente com Gabi", quando a apresentadora não tenta se sobrepor ao entrevistado, o resultado é sempre acima da média. Famosa por tocar em assuntos espinhosos sobre a vida e os feitos de seus convidados, Marília é sempre segura na condução de suas conversas. As limitações de estúdio, que conta com cenário todo preto e a luz focando apenas a apresentadora e seu convidado, não deixam dúvidas de que, mesmo às vezes pecando pela egolatria, a loura sabe que a fonte do seu programa é o próximo.

PROGRAMA DE REPORTAGEM

Melhor: "Profissão Repórter", da Globo.

Na questão

Originalmente um quadro do "Fantástico", o "Profissão Repórter" virou programa na Globo em 2008. De cara, tornou-se referência de jornalismo sério e de qualidade. Boa parte desse prestígio, é claro, vem da forte assinatura de Caco Barcellos no comando da produção. E mesmo em um horário ingrato ? depois de 0 h ? e durando pouco mais de 30 minutos, o programa consegue desenvolver suas pautas de forma profunda e nada sensacionalista. Ao longo de 2013, reportagens sobre deficiência intelectual e as corrupções políticas que assolam o interior do Brasil fizeram a diferença e justificam a presença do jornalístico no "Melhores de TV Press 2013".

REPÓRTER

Melhor: Renato Ribeiro, da Globo.

À vontade

Com vasta experiência no jornalismo esportivo, Renato Ribeiro se destacou ao participar da cobertura da morte de Nelson Mandela na África do Sul. Ele já havia sido correspondente do país, entre 2009 e 2010, por conta da Copa do Mundo. A intimidade adquirida com a cultura local naquela época foi fundamental nas reportagens atuais sobre o ex-presidente do país africano. Além de explorar curiosidades sobre a vida de Mandela, Renato aproveitou para revelar uma África do Sul que poucos conhecem, segundo ele próprio, bem mais próxima do Brasil do que os brasileiros pensam que são da Europa.

PROGRAMA ESPORTIVO

Melhor: "Redação SporTV", do SporTV.

Além da bola

Sem se ater apenas aos gols da rodada ou contratações milionárias do futebol, o tom analítico e aprofundado do "Redação SporTV" tornou o programa uma referência no canal. Considerada por "TV Press" como melhor na categoria "Programa Esportivo" pelo segundo ano consecutivo, a produção comandada por André Rizek traça um panorama completo do esporte brasileiro, mostrando tendências e analisando polêmicas. Em ano de Copa das Confederações e de um confuso Campeonato Brasileiro, o apresentador e seus comentaristas, casos de Alexandre Kalil, Carlos Eduardo Éboli e Carlos Eduardo Mansur, entre outros, abordaram de forma lúcida as soluções do Brasil para receber eventos de grande porte e o comportamento violento das torcidas organizadas.

NARRAÇÃO ESPORTIVA

Melhor: Luiz Carlos Jr, narrador de jogos da Globo e do SporTV.

Entusiasmo sem fanatismo

Não são apenas os torcedores que ficam na expectativa quando seus clubes entram em cena. Quem está na cabine de imprensa também divide o sentimento de tensão que engloba uma partida decisiva. Luiz Carlos Junior deve ser um torcedor fanático. Ele compreende perfeitamente o clima do pré-jogo e continua o decorrer da partida com a emoção presente no início. Seja narrando vôlei ou futebol, o jornalista tem espontaneidade na hora de fazer comentários. Por isso, não prepara seus textos antes dos confrontos. Ele se permite verbalizar seus próprios sentimentos e visões do duelo. Isso tudo sem ser clubista ou favorecendo algum jogador ou técnico. Luiz Carlos é seguro e imparcial em suas colocações e, por isso, se destacou na categoria "Narrador Esportivo" no "Melhores de TV Press 2013".

COMENTARISTA ESPORTIVO

Melhor: Edinho, comentarista do SporTV.

Com responsabilidade

Um bom comentarista precisa entender do assunto que fala. Para opinar sobre futebol, Edinho tem mais do que a experiência necessária. Depois de passar por grandes clubes brasileiros e pela Seleção, o ex-jogador também entende da parte tática que diz respeito às quatro linhas. Afinal, já foi técnico. Envolvido com alguns comentários polêmicos, como quando criticou o jogador Pato, do Corinthians, por suas ousadas cobranças de pênaltis ou então quando disse que faltava habilidade para Juninho Pernambucano, meia-atacante do Vasco, Edinho mostra coragem para se expor e convicção de quem sabe o que está falando.

PRODUÇÃO JORNALÍSTICA

Melhor: "CQC", da Band.

Crises de percurso

Atualmente, o "CQC" encontra-se em um momento delicado. O início da atual temporada foi muito mais dedicado ao humor do que ao noticiário nacional. Na segunda parte, as coisas se inverteram. Famoso por seu equilíbrio de pautas, a safra irregular do programa é fruto da perda natural de alguns integrantes ao longo do anos. E, sobretudo, dos dois "elos" femininos da produção. De um lado, a comicidade "clown" de Dani Calabresa e, do outro, a sagacidade irônica de Monica Iozzi ? que acaba de anunciar sua saída do programa. No entanto, mesmo com uma temporada de menor repercussão, a produção comandada por Marcelo Tas continua entretendo, informando e criando o atrito necessário que a poderosa junção de humor e jornalismo tem o dever de causar. Por isso, sem grandes surpresas, sagrou-se vencedor na categoria "Produção Jornalística" de "Melhores de TV Press 2013".

DESTAQUE NEGATIVO

Produção: "Fantástico", da Globo.

Foco perdido

O "Fantástico" sempre passeou entre o jornalismo e o entretenimento, alternando grandes reportagens com séries dramatúrgicas. Mas, de uns tempos para cá, o lado jornalístico enfraqueceu. Na mesma proporção, quadros femininos "pipocaram". A impressão que fica é de que o dominical esqueceu-se de seu público masculino, restrito apenas aos minutos dedicados ao futebol. Essa falta de equilíbrio rendeu ao programa o título de "Destaque Negativo" em produção. Recentemente, o "Fantástico" passou por uma mudança de seus apresentadores. Saíram Renata Ceribelli e Zeca Camargo e entrou Renata Vasconcellos, que não trouxe nada muito além de sua beleza e simpatia para o programa.

PROFISSIONAL

Dani Calabresa, integrante do "CQC", da Band.

Entre gritos

O humor irreverente de Dani Calabresa chamou atenção no extinto "Comédia MTV". Mas, desde que trocou de emissora e foi para o "CQC", ela ainda não se encontrou. Começou em um quadro nada engraçado em que repercutia fatos da semana com sátiras de personalidades. Não deu certo. Na reportagem, Dani até se sai melhor. Mas ainda se empenha mais em fazer estripulias e berrar do que tirar o melhor, ou o mais inusitado, do entrevistado e das pautas jornalísticas do programa. Por isso, ela foi escolhida como "Destaque Negativo" profissional.



Participe de nossa comunidade no WhatsApp, clicando nesse link

Entre em nosso canal do Telegram, clique neste link

Baixe nosso app no Android, clique neste link

Baixe nosso app no Iphone, clique neste link


Tópicos
SEÇÕES