Empresário usa cinzas dos pais para compor tela em homenagem à eles

Cinzas foram misturadas à tinta usada em pintura que retrata casal

Avalie a matéria:
Cinzas dos pais do empresário foram misturadas à tinta usada em quadro | Reprodução
FACEBOOK WHATSAPP TWITTER TELEGRAM MESSENGER

Todos os dias o empresário Mário Fernando Berlingieri, de 65 anos, relembra com carinho os bons momentos que viveu ao lado dos pais, em Jaboticabal, no interior de São Paulo. Parado em frente a um quadro colocado na sala de trabalho, ele observa as cores, os detalhes da paisagem rural, do pescador à beira do lago e da mulher estendendo roupas no varal. Uma obra de arte que remete às lembraças da família, mas que guarda uma característica inusitada: foi pintada com as cinzas do casal. "É mais do que uma peça decorativa, é uma lembrança especial das pessoas que amamos."

A ideia de eternizar os pais em uma tela surgiu há dois anos, quando Berlingieri soube da técnica até então pouco difundida no país. A aprovação foi unânime entre os irmãos, já que o quadro seria uma forma de homenagear a mãe, morta quando os filhos eram adolescentes, em 1965, e também o pai, que deixou a família há 29 anos. O empresário conta que foi ele próprio quem sugeriu o tema da pintura a um artista plástico da cidade, que misturou as cinzas com a tinta à óleo.

“Meu pai era um caboclo, descendente de italiano e gostava muito de pescar. Minha mãe também era uma cabocla, veio de Minas Gerais. Então, sugeri um homem pescando e uma mulher estendendo roupa em um rancho, na beira do rio. Um ranchinho bem simples, saindo fumaça da chaminé. Em cinco minutos de conversa, ele entendeu o que eu queria”, diz o empresário.

Colocar os planos em prática não foi difícil. A família de Berlingieri é proprietária de uma das duas funerárias de Jaboticabal, que também possui um crematório, o primeiro na região de Ribeirão Preto (SP). O empresário decidiu então exumar os restos mortais do pai e da mãe, enterrados na cidade, e cremá-los. "Todos gostaram muito da ideia, foram favoráveis, até mesmo porque a gente não precisa ir ao cemitério. Cada vez que eu olho a tela, fico admirado. Recordo as coisas boas do meu pai e da minha mãe", afirma.

O quadro


O artista plástico Paulo Antônio Tosta relembra que ficou admirado ao receber a encomenda. Ele diz que trabalha com desenho e pintura há 20 anos, e que já havia lido sobre a possibilidade de usar cinzas de humanos em obras de arte, mas nunca havia realizado um trabalho semelhante. Entretanto, aceitou o desafio e preduziu o quadro em apenas um dia, após ouvir as sugestões da família dos homenageados.

Tosta explicou que utilizou as cinzas como uma espécie de aglutinante para as tintas, o que proporciona uma secagem mais rápida da substância na tela. Além disso, os restos mortais foram usados apenas nos tons mais escuros da casa e das figuras do pescador e da mulher. "Não pensei duas vezes, é uma ideia muito interessante. É uma forma de guardar uma recordação alegre, sem aquele contexto fúnebre", afirma.

Mas apenas parte das cinzas foram usadas no quadro. O que sobrou permanece guardado com a família e deve ser usado de outra forma, já que, atualmente, é possível até fabricar joias com restos mortais de entes queridos, como explica Berlingieri, que passou a estudar mais profundamente o assunto.

"Acredito que no futuro, não muito distante, a maioria das pessoas vai optar pela cremação. Não só pela falta de espaço, mas porque a família mudou. Hoje, dificilmente, a pessoa mora na cidade onde moram os pais. Uns vão para o exterior, outros fazem pós-graduação, buscam trabalho e, no fim, ficam distante da família, com aquela responsabilidade de cuidar do túmulo. A gente precisa mudar essa forma de encarar a morte", diz.

Clique e curta o Portal Meio Norte no Facebook



Participe de nossa comunidade no WhatsApp, clicando nesse link

Entre em nosso canal do Telegram, clique neste link

Baixe nosso app no Android, clique neste link

Baixe nosso app no Iphone, clique neste link


Tópicos
SEÇÕES