Erotização na infância traz prejuízos cognitivos, afetivos e sociais

O que não aparenta reforçar essa prática em atitudes cotidianas pode trazer consequências no futuro

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Com apenas 11 anos, o nome de MC Melody tem sido um dos mais comentados na mídia nacional nas últimas semanas devido as polêmicas envolvendo sua carreira e, principalmente, sua aparência, já que em seu novo clipe - já excluído do YouTube e em fotos publicadas na rede social Instagram, a menina aparece com maquiagens carregadas, trajes sedutores e poses sensuais.

O pai e empresário da cantora mirim, Thiago Abreu, é acusado como responsável pela exposição e sexualização da filha e pode responder judicialmente pelo ato e pagar multa estipulada pela justiça. Na internet, a garota era assediada por meio de comentários de conotação pornográfica e chegou a ter sua conta suspensa após um grande número de críticas quanto ao apelo sexual das fotos. O 'Caso Melody', fez com que voltasse à tona o debate a cerca da erotização precoce de meninas.

A respeito desse episódio, o psicólogo José Augusto Santos Ribeiro, vice-presidente do Conselho Regional de Psicologia do Piauí e especialista em Saúde Mental, abordou as consequências que essas atitudes podem ter no futuro, influenciando o desenvolvimento sexual, psicológico e emocional dessas jovens.

O especialista fala sobre a importância da infância para o desenvolvimento humano e alerta sobre o seu encurtamento, fenômeno potencializado pela popularização da internet em meio às crianças. “A sexualidade deve ser vivida da maneira adequada e de acordo com a idade, pular estas etapas significa causar prejuízos cognitivos, afetivos e sociais. Dentre os prejuízos identificáveis podemos ter excitação exacerbada, ansiedade, depressão, dores, dentre outros”, ressaltou.

O psicólogo cita que a erotização dos corpos infantis compromete a formação identitária das crianças, e coloca em risco até mesmo sua segurança. “Tudo o que a erotização precoce envolve acaba por desviar crianças da vivência de conhecer melhor o próprio corpo e sua afetividade e emoções envolvidas neste processo”, acrescenta.

Desenvolvimento e aprendizado são prejudicados

José Augusto, que também é advogado, esclarece que a erotização infantil é o fenômeno gerado pelas situações de acionamento dos impulsos sexuais, de maneira inadequada à idade, atropelando fases do desenvolvimento e prejudicando o processo de aprendizagem afetiva das crianças.

“Nessa situação a sexualidade é desviada para o erótico, o excitante, o sensual, deixando de ser canalizada para a construção das emoções, das relações sociais, da experimentação de papéis e do desenvolvimento da afetividade. As características variam um pouco e estudos nesta área ainda são escassos”, declarou.

O profissional lembra que a psicanalista Ana Olmo, afirma o seguinte: “se você conversa sobre sexo com uma criança de doze anos, que já tem uma ideia sobre o assunto, está dentro daquilo que seria o esperado para esta faixa etária. Agora, se aquilo que é sugerido ou até estimulado está fora dessa faixa etária, pode trazer problemas. Esse tipo de atitude é ruim e deixa a criança perdida. São informações de difícil compreensão que podem ter impactos negativos para ela”.

Erotismo precoce produz adulto com excitação exacerbada

Ainda de acordo com o psicólogo, as roupas, os calçados, as maquiagens, as bijuterias e os acessórios destinados aos adultos e que são apresentados as crianças pelos meios de comunicação que usam a imagem tais como, por exemplo, jornais, revistas, páginas on-line e televisão, acabam trabalhando com o imaginário e, consequentemente, com o psicológico dos pequenos. Desse modo, a criança passa a considerar tais costumes como normais e, em longo prazo, esta atitude irá levá-la a supor que pode portar-se como um adulto.

“Crianças erotizadas precocemente tornam-se adultos com a excitação exacerbada, ansiosos, depressivos, com a inteligência emocional bastante prejudicada. Passam a colocar o sexo em primeiro lugar e como consequência exercem sua sexualidade de maneira negativa, pois seus valores são distorcidos”, enfatizou.

Os pais precisam determinar limites para essa geração que convive e lida com as redes sociais constantemente. Os limites entre cada família podem ser bem diferentes. O especialista destaca que existem elementos específicos para abordar o tema da sexualidade de maneira responsável. Estes elementos não apenas podem ser usados em relação a mídia, mas também em relação ao respeito ao espaço e ao tempo das crianças e adolescentes em geral.

“O diálogo entre pais e filhos sobre sexo são importantes e saudáveis e devem ser encorajados e é importante reconhecer o sexo como um elemento saudável e natural da vida humana”, observou.



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