Escola cobra 12 mil por mês e não dá aula on-line na quarentena

Instalada em uma construção de 40 mil metros quadrados na zona sul de São Paulo, a Avenues SP é um braço da matriz novaiorquina e chegou ao Brasil vendendo a ideia de uma “educação global transformadora”

Avenues São Paulo | Divulgação
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Um grupo indignado de pais de alunos da escola americana Avenues São Paulo, que cobra cerca de R$ 12 mil de mensalidade, se queixa de que seus filhos não tiveram nem um dia de aula on-line durante a quarentena determinada pela pandemia de covid-19. "Foi a única escola desse nível que não ofereceu ensino à distância. Mandavam fazer pesquisas sobre temas genéricos, mas não havia acompanhamento em caso de dificuldade nem controle das atividades", diz a mãe de um garoto de 9 anos. As informações são do UOL.

Nenhum dos entrevistados quis se identificar, inclusive os que estão satisfeitos com a escola, alegando que não gostariam de expor o filho, ou a própria vida pessoal.

Vista aérea da escola - Foto: Divulgação

A mais cara de SP 

Instalada em uma construção de 40 mil metros quadrados na zona sul de São Paulo, a Avenues SP é um braço da matriz novaiorquina e chegou ao Brasil vendendo a ideia de uma "educação global transformadora, voltada para o futuro e focada no protagonismo do aluno".

 Na ocasião em que foi inaugurada, em 2018, logo ficou conhecida como "a escola mais cara de São Paulo". Muitos foram atraídos por isso: "Tem pai que enxerga na Avenues a possibilidade de incrementar o networking (contatos profissionais lucrativos)", diz um dos insatisfeitos, que acaba de tirar de lá o filho de 13 anos.

2 + 2 = 4 

Ele faz parte do grupo que se queixa de que a Avenues não promove nada que compense o período de 7hs em que os alunos passavam na escola — de 8h às 15h. "Simplesmente não há aula. Mandam os alunos pesquisarem, por exemplo, sobre a covid-19, o que eu até acho bom, mas isso dura no máximo uns 30 minutos; o resto do dia é livre. A direção diz que tem um 'projeto arrojado', que ali ninguém vai ter aulas nos moldes convencionais, mas 2 + 2 continuam sendo 4. Minha filha não evoluiu absolutamente nada em matemática. Eu ficava horrorizado quando ela me pedia ajuda", diz o pai de uma adolescente de 14 anos.

Ele decidiu levá-la de volta para a escola em que ela estudava antes. Diz que, para alcançar a antiga turma, a menina precisou tomar aulas particulares das "matérias convencionais": "Minha filha mais velha, que tinha ficado na outra escola e passou no vestibular para direito da GV [Fundação Getúlio Vargas] aos 16 anos, disse que a mais nova, se continuasse naquele ritmo, não teria condição de entrar em nenhuma faculdade. Eles (Avenues) sequer seguem o currículo estabelecido pelo MEC (Ministério da Educação). Eu me sinto lesado não só pelo atraso dela nas matérias básicas, mas também pelo que eu investi financeiramente." 

No discount

 A Avenues foi uma das primeiras escolas particulares de São Paulo a entrar em quarentena, no início de março, sob a alegação de que um aluno havia contraído o novo coronavírus. No início de abril, um grupo de pais — que os descontentes afirmam agregar mais de 150 — assinou um e-mail solicitando à direção um abatimento nas mensalidades. A mensagem de resposta informava que "a Avenues não planeja oferecer descontos ou reembolsos para este ano letivo. Sei que isso pode ser frustrante, portanto gostaria de explicar as razões para essa decisão".

Um dos pais inconformados afirmam que "mesmo estando em um período de experiência em um país estrangeiro, eles são extremamente arrogantes". "Em vez de conversar amigavelmente, nos orientam a procurar outra escola para matricular o filho." 

Caridade, não 

A mãe que encaminhou à coluna a resposta da escola aos pais é uma das mais indignadas. Ela tem um filho de 8 anos na Avenues: "Eles afirmam que parte do gasto que não tiveram no período da quarentena está sendo convertido em alimentos e produtos de higiene e doado para a comunidade vizinha à escola. Pedi para abrirem as contas, mas imagine, nem ouviram. Agora, responde: quem os autorizou a fazer caridade com o dinheiro dos outros?".

"Eles argumentam que tiveram despesa com o zoom [serviço de conferência remota]", ironiza o pai de um adolescente de 15 anos. "Deve ter custado uma nota." Ele diz que o filho "desenvolveu muito a parte social". "Ele adorava ir para escola, porque só se falava em festas, em viajar para a Boa Vista, pra a Baronesa (megacondomínios frequentado por famílias ricas no interior de SP), desenvolveu muito a noção de status e não precisava se esforçar para fazer a lição, que era basicamente socializar. Não queria de jeito nenhum sair da escola, claro." 

Outro lado 

Procurada, a escola respondeu à coluna que "cerca de 95% das famílias planejam continuar na Avenues no próximo ano letivo". "Quanto às famílias insatisfeitas, respeitamos a decisão delas de deixar a Avenues. Estamos oferecendo todo o apoio necessário para garantir transições tranquilas para outras escolas e desejamos muito sucesso na nova jornada".

Sobre a queixa a respeito da falta de aulas on-line, a escola diz: "Temos o compromisso de oferecer uma experiência de ensino exemplar em qualquer circunstância. Nos últimos meses, nossas equipes têm trabalhado incansavelmente para acompanhar de perto o desenvolvimento dos alunos e solicitar feedback das famílias, que em sua maioria tem sido positivo." 

Às críticas de conteúdo, considerado "fraquíssimo" pelos descontentes, a escola argumenta: "Um dos diferenciais da educação Avenues é nosso currículo inovador, concebido por uma equipe interna de pesquisa e desenvolvimento localizada em Nova Iorque. O currículo Avenues é baseado em projetos e aposta no protagonismo dos alunos para oferecer uma educação transformadora, respeitando as diretrizes de educação locais válidas em cada um dos nossos câmpus, seja em São Paulo, Shenzhen ou Nova Iorque." 



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