Filha de drag queen conta como é a relação com seu pai e dois padrastos

Ela diz que todos os anos compra presente de Dia dos Pais para os três.

Avalie a matéria:
|
FACEBOOK WHATSAPP TWITTER TELEGRAM MESSENGER

Todos os anos, a jornalista Isabella Beatriz Peixoto, de 26 anos, tem o desafio de administrar a compra de três presentes de Dia dos Pais. Isso porque ela celebra a data especial com o pai, Joel Peixoto Souza, que trabalha como drag queen animando festas em Uberlândia, com o marido do pai, o empresário Marcelo Leite, e com o padrasto, Adailson Pinheiro, que é professor. Em entrevista ao site, ela contou sobre a experiência de ser filha de pais tão diferentes.

Joel ficou casado com a mãe de Isabella por três anos, período em que ela nasceu. Mas algum tempo após a separação, ele conheceu Marcelo e, com o parceiro, iniciou o relacionamento que já soma 22 anos.

Aproveitando o jeito descontraído de ser, descobriu a vocação para ser transformista e deu vida à espalhafatosa e divertida personagem Priscilla Kiss. Nesta época, a jornalista estava com quatro anos de idade, quando a mãe também começou a namorar o professor universitário Adailson Pinheiro. Desde então, ele ajudou a criar e a educar a enteada.

Segundo Isabella, ter a referência de três figuras paternas é motivo de muita gratidão. ?Eles são completamente diferentes. O Marcelo é o mais espiritualizado, o mais conselheiro, sempre que tenho um problema ligo para ele e converso para organizar minhas ideias. Meu pai é mais divertido, mais engraçado, o que me faz rir quando estou triste e também dá rala quando eu preciso. Já o meu pai Adailson é mais carinhoso, tem um jeitinho todo cuidadoso comigo?, comentou.

Isabella Beatriz também comentou que tem um pouquinho de cada pai, desde o dom para contar histórias e o instinto solidário de Joel até o estilo da ?Tia Priscilla Kiss?, que também dá uma parcela de contribuição à personalidade dela. ?O pessoal me questiona por eu usar muitas cores, estampas e make colorida, mas ser roqueira. Eu sempre falo que é natural até porque sou filha de drag queen [risos]?, brincou.

Assumir a orientação sexual para os familiares no início da década de 90 não foi um problema para Joel. Lidar com o momento em que a filha quis entender a situação da família também foi natural, logo depois de ela ter assistido uma reportagem sobre pais separados e questionado o pai, aos 12 anos de idade. Descobrir que, além de homossexual, o pai tinha uma dupla personalidade ao se vestir de drag queen também foi muito natural para Isabella que, curiosa, abriu uma cortina onde ele guardava as roupas e adereços de Priscilla e ficou encantada com o que viu. A única coisa que a filha disse foi: ?Tem mais peruca, pai? Me maquia também??, lembrou.

Contudo, Joel contou que o maior problema na relação entre pai e filha foi conviver com os ciúmes de ter que dividir a atenção dela com o padrasto. Ciúmes que afastou os dois por alguns anos. ?Era muito difícil ouvir minha filha chamando outro de pai. Uma vez ouvi um comentário de que a Isabella fez um presente na escola para o padrasto de Dia dos Pais e eu não recebi nada, fiquei muito magoado e senti que não tinha espaço para mim, então fui me afastando?, relembrou o pai.

Mas, depois de certo tempo, todos passaram a conviver muito bem e, cada qual com suas particularidades, contribuindo para a educação da jovem. Os laços dos integrantes da família e de Isabella com os três pais foram se tornando cada vez mais sólidos com a convivência e à medida em que todos se reuniam e confraternizavam.

Preconceito

Marcelo e Joel moram juntos há duas décadas. Eles foram o primeiro casal de Uberlândia a oficializar a relação depois que o Supremo Tribunal Federal (STF) aprovou, em 2011, a legalidade da união estável entre pessoas do mesmo sexo. Os dois concederam várias entrevistas sobre o assunto e a notícia teve repercussão nacional. Mas o que para a causa LGBT seria um grande avanço, para a vida pessoal dos dois foi retrocesso.

Eles mantêm um pensionato na região central do município mineiro e, quando a relação tornou-se pública, perderam vários pensionistas por causa do preconceito, somando queda drástica no orçamento de pelo menos R$ 10 mil. ?Fiquei assustado de as pessoas não assumirem que moravam em um local administrado por homossexuais e foi muito difícil nessa época, porque apareceram algumas dívidas. Eu não acho que o preconceito diminuiu, eu acho que ele se mascarou ainda mais?, opinou Marcelo Leite.

Durante a infância, Isabella nunca teve problemas com discriminação, muito pelo contrário. Pelo menos uma vez na semana ela e as amigas iam para a casa do pai biológico e adoravam ficar lá o dia todo, dançando e brincando com os adereços do pai artista. Contudo, na faculdade, já maior de idade, ela passou por alguns momentos constrangedores. Além dos "olhares cruéis", dois colegas de classe uma vez a abordaram e disseram que o que o pai fazia era errado e que ela precisava convertê-lo. ?Fiquei muito revoltado. Quando ela me contou, eu queria ir lá e tirar satisfação, mas me contive, aprendi a levar isso na naturalidade?, afirmou Joel.

Orgulho familiar

Preconceito à parte, Isabella sempre defendeu a família e a opção dos pais de viverem juntos. ?Eu acho que eu sou mais preconceituosa com homofóbico do que o meu pai. Quando eu converso com uma pessoa e vejo que ela vai tratar minha família com indiferença, para mim já não serve?, comentou a filha.

Ela reconhece que a família é incomum, mas afirmou que sempre leva tudo na esportiva e acaba se divertindo com algumas situações. As mais divertidas delas, de acordo com a própria jornalista, são em relação aos namorados, porque a dificuldade não é eles entenderem que ela tem um pai gay, mas entender que eles terão três sogros. Uma das situações que ela sempre comenta foi quando um namorado a questionou se o pai dela daria em cima dele.

?Meus pais são especiais para mim e não tenho porque não me orgulhar deles. Tenho profunda admiração por cada um e já estou acostumando em ficar desfalcada financeiramente no mês de agosto por comprar tantos presentes?, finalizou.



Participe de nossa comunidade no WhatsApp, clicando nesse link

Entre em nosso canal do Telegram, clique neste link

Baixe nosso app no Android, clique neste link

Baixe nosso app no Iphone, clique neste link


Tópicos
SEÇÕES