Filósofo Edgar Morin completa 100 anos em plena lucidez

Sociólogo e filósofo francês se tornou um dos mais importantes e relevantes pensadores vivos, sendo uma das figuras mais respeitadas do pensamento ocidental contemporâneo.

Avalie a matéria:
Edgar Morin completa 100 anos nesta quinta-feira (8) | Bob Sousa
FACEBOOK WHATSAPP TWITTER TELEGRAM MESSENGER

O sociólogo e filósofo francês Edgar Morin completa, nesta quinta-feira (8), seu centésimo aniversário. Formado em Direito, História e Geografia, realizou estudos em filosofia, sociologia e epistemologia e se tornou um dos mais importantes e relevantes pensadores vivos, sendo uma das figuras mais respeitadas do pensamento ocidental contemporâneo.

Morin vivenciou duas guerras mundiais, uma guerra fria, e dezenas de mudanças no contexto social, econômico, cultural e educacional. Ele atribui boa parte de seu sucesso ao pensamento complexo, conceito defendido por ele, segundo o qual o conhecimento só é possível pela transdisciplinaridade. Essa ideia impactou o pensamento sobre educação no mundo todo. Em razão disso, em 1999, foi convidado pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco), a escrever um livro explicitando as modificações que julga necessárias na educação, compiladas em “Os Sete Saberes Necessários à Educação no Futuro”.

Edgar Morin completa, hoje, 100 anos de vida | FOTO: Bob Sousa

Ainda bastante lúcido para a sua idade, ele continua escrevendo e expondo suas ideias, o seu mais recente livro foi publicado em junho deste ano: Leçons d’un siècle de vie (em português, Lições de um século de vida), uma autobiografia, onde recorda etapas cruciais de sua vida, destaca os erros cometidos, a dificuldade de compreender o presente e a necessidade do exercício da autocrítica para a vida em sociedade.

Segundo Morin, uma das grandes lições de sua vida foi deixar de acreditar na sustentabilidade do presente, na continuidade e na previsibilidade do futuro. Para o pensador, "a história humana é relativamente inteligível a posteriori, mas sempre imprevisível a priori”, como demonstraram a crise de 1929, a ascensão de Hitler e do nazismo na Alemanha, a desintegração da ex-União Soviética e o ataque às torres gêmeas do World Trade Center em Nova York. Diante dessa imprecisão do tempo presente, ele adverte que é fácil cometer erros políticos.

Tanto que em seu livro, ele considera que os principais momentos de equívoco em sua vida foi seu pacifismo antes da Segunda Guerra Mundial, que o impediu de ver a verdadeira natureza do nazismo; sua viagem ao que ele chama de "Stalinia" e sua longa crença no sistema soviético.

"Por isso, me arrependo de meus erros e não me arrependo deles, pois eles me deram a experiência de viver em um universo de religiosos absolutistas que, como qualquer religião, tiveram seus santos, mártires e algozes”, relata.

Viver é navegar em um mar de incertezas, através de ilhotas e arquipélagos de certezas nos quais nos reabastecemos

Reflexão sobre a pandemia da Covid-19.

Sobre a pandemia da Covid-19, Morin refletiu sobre todas as consequências da epidemia em todas as áreas,  em entrevista ao jornal francês CNRS, no ano passado. 

“Temos que aprender a aceitá-las e a viver com elas, enquanto nossa civilização instalou em nós a necessidade de certezas cada vez maiores sobre o futuro, muitas vezes ilusórias, às vezes frívolas. A chegada do coronavírus nos lembra que a incerteza permanece um elemento inexpugnável da condição humana. Todo o seguro social em que você pode se inscrever nunca poderá garantir que você não ficará doente ou será feliz em sua casa. Tentamos nos cercar com o máximo de certezas, mas viver é navegar em um mar de incertezas, através de ilhotas e arquipélagos de certezas nos quais nos reabastecemos”.

Contribuições para a sociedade

A principal obra de Edgar Morin é a constituída por seis volumes, "La Méthode" (em português, O Método). Foi escrita durante três décadas e meia. Trata-se de uma das maiores obras de epistemologia disponível até agora. A teoria da complexidade possibilita o diálogo com outros saberes e com a realidade, esta sempre em processo de mudança. De acordo com Morin, o pensamento complexo é incompleto, articulante e multidimensional, razão pelo qual não é absoluto.

Para ele, a própria essência do pensamento é nos ajudar a ficar em meio à contradição. Não para tentar fazer uma síntese para resolver as oposições (dialética), mas para viver na unidade dos opostos, fazendo-os dialogar (dialógicos). É assim que, segundo ele, encontramos o caminho da sabedoria, por exemplo, vivendo a paixão e a razão simultaneamente, 'a paixão regulada pela razão e a razão alimentada pela paixão'.

Segundo o pensador, "a escola não ensina o que é o conhecimento, ele é apenas transmitido pelos educadores, o que é um reducionismo"| FOTO: Alexandre Nunis/SESC

Educação

No campo da educação, especialmente, Morin foi um dos primeiros pensadores do início do século 20 a sugerir uma reforma de paradigmas, questionando, já naquela época, o ensino meramente disciplinar e pautado em conteúdos técnicos.

Em uma de suas vindas ao Brasil, Edgar Morin, explicou, em uma entrevista à imprensa, sobre os maiores problemas do modelo de ensino atual.

“O modelo de ensino que foi instituído nos países ocidentais é aquele que separa os conhecimentos artificialmente através das disciplinas. E não é o que vemos na natureza. No caso de animais e vegetais, vamos notar que todos os conhecimentos são interligados. E a escola não ensina o que é o conhecimento, ele é apenas transmitido pelos educadores, o que é um reducionismo. O conhecimento complexo evita o erro, que é cometido, por exemplo, quando um aluno escolhe mal a sua carreira. Por isso eu digo que a educação precisa fornecer subsídios ao ser humano, que precisa lutar contra o erro e a ilusão”.



Participe de nossa comunidade no WhatsApp, clicando nesse link

Entre em nosso canal do Telegram, clique neste link

Baixe nosso app no Android, clique neste link

Baixe nosso app no Iphone, clique neste link


Tópicos
SEÇÕES