Homem vira artesão de lustres após perder a visão em assalto e acidente

Márcio de Oliveira perdeu completamente a visão e faz uso do comando de voz do celular para facilitar a rotina

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Márcio de Oliveira perdeu a visão em assalto e acidente | Henry Milleo/UOL
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"Ok, Google: ligar para Coração." Essa é a frase que o artesão cego Márcio de Oliveira mais usa. "Coração" atende pelo nome social de Ivete Staciak, sua esposa. Especialista na criação de lustres, Márcio perdeu completamente a visão e faz uso do comando de voz do celular para facilitar a rotina.

"O que eu faço é obra de arte, não é um simples lustre", afirma, convicto. Com o ateliê instalado na entrada de uma casa de madeira alugada, onde mora há três meses, no centro de Ponta Grossa (PR), o artesão produz, vende e instala lustres criados a partir de modelos imaginados. "À noite, minha mente parece um computador.".

Uma peça de 4,50 metros, com 18 mil pedras de cristal, para um imóvel de alto padrão, foi o projeto mais ambicioso até agora. "Ele aceita os desafios, e eu também", comenta Ivete — sempre ao lado do marido —, que assume a função de assistente. "Minha esposa é meus olhos", enfatiza Márcio. Juntos, tentam driblar as dificuldades da cegueira, do dinheiro curto, da concorrência e do preconceito.

Márcio de Oliveira ficou cego há 8 anos Foto: Henry Milleo/UOL

A vida de Márcio virou de cabeça para baixo quando foi vítima de uma tentativa de assalto, em 2010, na cidade de Guarapuava (PR). Até então, ele era marceneiro e trabalhava com móveis planejados. Também trabalhou como pintor, letrista e desenhista. "Já tinha um dom artístico", afirma, mas nem imaginava ter como ofício a produção de lustres. Certa vez, teve que montar um lustre em uma residência, juntamente com os móveis. Mesmo que precisasse apenas encaixar as peças, achou que não tinha paciência para aquilo.

Ma o jogo virou. Foi uma foiçada — o bandido usou uma foice como arma — no olho esquerdo que o deixou sem visão. Em 2014, Márcio sofreu um acidente de carro e perdeu também a visão do olho direito, ficando completamente cego.

"Foi uma batalha, só por Deus consegui superar", relembra. Além da adaptação, o desespero para sobreviver assombrava. "Fiquei sem nada, sem renda, sem amigos para ajudar." Foi aí que a depressão chegou com tudo.

Na tentativa de se readaptar, começou a frequentar a Apadevi (Associação de Pais e Amigos dos Deficientes Visuais) de Guarapuava. Lá, aproveitou as oficinas oferecidas. Aprendeu braile, fez musicoterapia e participou de diversas ações, até ingressar nas aulas de artesanato. Dedicou-se à criação de chaveiros, colares e pulseiras de miçangas e, assim, foi aprimorando o tato. Sua mãe, também artesã, começou a levar as peças produzidas por ele para vender.

Com a percepção do tato aprimorada devido à cegueira, tudo começa na mente do artesão. Em seguida, tem início o estudo da base ou estrutura. O próximo passo já é a execução da peça.

A cada projeto, a ansiedade toma conta, pois não há nada como concluir um trabalho e desfrutar daquela sensação de dever cumprido. "Nunca vi um lustre meu", diz, com um ar de esperança, pois acredita que parte da cegueira possa ser revertida futuramente com cirurgia.



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