Cientistas produzem primeiro hambúrguer de laboratório

Produto será degustado pelo público pela primeira vez nesta nesta segunda-feira (5), em feira científica de Londres.

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O primeiro hambúrguer feito em laboratório será apresentado e degustado nesta segunda-feira (5), em uma conferência científica de Londres. Pesquisadores holandeses usaram células retiradas de uma vaca para reconstituir os músculos da carne bovina, que foram combinados a outros ingredientes para fazer o hambúrguer.

Os cientistas dizem que a tecnologia poderia ser uma forma sustentável para suprir a crescente demanda por carne. Mas críticos da ideia dizem que comer menos carne seria o jeito mais fácil de compensar a já prevista falta de comida no mundo.

Segurança alimentar

A BBC obteve acesso exclusivo ao laboratório em que o projeto para produzir a carne foi implementado, ao custo de cerca de R$ 750 mil. Na Universidade de Maastricht, na Holanda, a pouco mais de 200 km da capital Amsterdã, o cientista à frente do experimento destaca a preocupação ambiental do estudo.

"Vamos apresentar ao mundo o primeiro hambúrguer feito em laboratório a partir de células. Estamos fazendo isso porque a criação de animais para abate não é boa para o meio ambiente, não vai suprir a demanda mundial (por comida) e também não é boa para os próprios animais", ressalta o professor Mark Post.

Para Tara Garnett, chefe da Food Policy Research Network (centro de pesquisas na área de alimentos), da Universidade de Oxford, na Inglaterra, os tomadores de decisão precisam olhar além das soluções técnicas para segurança alimentar.

"Temos uma situação onde 1,4 bilhão de pessoas no mundo ficam obesas da noite para o dia e, ao mesmo tempo, 1 bilhão de pessoas no mundo todo vão para a cama com fome", ressalta.

"Isso é simplesmente estranho e inaceitável. As soluções não se estabelecem na produção, mas na mudança dos sistemas de suprimento e acesso, com barateamento. E mais e melhores alimentos para pessoas que precisam deles", critica.

A receita

As células-tronco são as "mestres" do corpo humano, que podem se desenvolver em tecidos em diversas formas, como nervos e pele. A maioria dos centros de pesquisa nessa área tenta reproduzir tecidos humanos que possam ser usados para transplantes, reparando danos em músculos, nervos e cartilagens.

Os cientistas holandeses querem utilizar técnicas similares para produzir músculo e gordura dos alimentos. O professor Mark Post começou extraindo células do músculo de uma vaca. No laboratório, as células são colocadas numa cultura (solução) com nutrientes para promover o crescimento e a multiplicação das células.

Três semanas depois, as mais de 1 milhão de células-tronco geradas são divididas e colocadas em recipientes menores, onde se tornam pequenas tiras de músculo de aproximadamente 1 cm de comprimento e alguns milímetros de espessura.

As pequenas tiras são, então, coletadas e unidas em pequenos montes, que então são congelados. Quando alcançam uma quantidade suficiente, são descongeladas e compactadas na forma de um hambúrguer, antes de ser cozido.

Tem gosto bom?

Os cientistas tentaram recriar a carne ? que inicialmente tinha cor branca ? da maneira mais autêntica possível. A professora Helen Breewood, que atua com Post no estudo, vem tentando fazer com que o músculo criado em laboratório fique vermelho, adicionando um composto existente na carne bovina, chamado mioglobina.

"Se não se parece com uma carne normal, se não tem gosto de uma carne normal, não se tornará viável", afirma Helen.

No momento, porém, esse ainda é um trabalho em progresso. O hambúrguer a ser apresentado nesta segunda foi colorido com suco de beterraba. Os pesquisadores também adicionaram farinha de rosca, caramelo e açafrão, que ajudam no sabor.

Até o momento, os cientistas podem apenas produzir pequenos pedaços de carne por vez. Quantidades maiores demandariam um sistema circulatório para distribuir nutrientes e oxigênio. Os primeiros resultados sugerem que o hambúrguer não terá um gosto tão bom, mas Helen espera que ele tenha um sabor "bom o bastante".

Sofrimento animal

Apesar de atuar no projeto para produzir carne em laboratório, a pesquisadora da Universidade de Maastricht é vegetariana e acredita que a produção de carne gasta muitas fontes de energia. Ela afirma que, se comesse carne, preferiria a de laboratório.

"Muita gente considera carne feita em laboratório repulsiva num primeiro momento. Mas, se as pessoas soubessem o que acontece nos abatedouros para a produção de carne normal, também achariam repulsivo", ressalta Helen.

Em nota, representantes do grupo Pessoas pela Ética do Tratamento aos Animais (People for the Ethical Treatment of Animals ? Peta) ressaltaram os benefícios da carne de laboratório.

"(Carne de laboratório) irá favorecer o fim de caminhões cheios de vacas, frangos, abatedouros e fazendas de produção. Irá reduzir a emissão de gases de carbono, economizar água e tornar a rede de suprimento de alimentos mais segura", destacou a nota.

Mas a escritora especializada em alimentos Sybil Kappor diz que sentiria dificuldades para comer a carne de laboratório.

"Quanto mais longe você vai do normal, de uma dieta natural, mais corre riscos de saúde e outras questões", ressalta.

O último levantamento da Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO) sobre o futuro da produção dos alimentos mostra crescimento da demanda por carne na China e Brasil ? e o consumo só não cresce mais porque muitos indianos mantêm uma dieta amplamente vegetariana, por costume cultural.

Ainda assim, há o risco de que a carne produzida em laboratório seja uma aparente solução, cheia de problemas.



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