Clima deixa alimentos mais caros e preocupa pobres

Seca na Rússia e cheias em Índia, China e Paquistão diminuem oferta de alimentos

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Homem observa incêndio florestal na Rússia. | AP
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Incêndios na Rússia e enchentes na Índia, na China, no Paquistão e no México. Além de deixar milhares de mortos e desabrigados, as catástrofes naturais de 2010 colocam em risco a chamada segurança alimentar, principalmente de países pobres, que dependem da produção agrícola de regiões devastadas pelo clima.

O índice de preços da ONU (Organização das Nações Unidas) - que monitora 55 matérias-primas de alimentos - refletiu a subida e atingiu em setembro sua maior alta nos últimos dois anos.

Em setembro, uma leva furiosa de manifestantes tomou a cidade de Maputo, capital de Moçambique, e enfrentou a polícia. Mais de dez pessoas morreram nos protestos. A causa foi a alta de até 30% no preço do pão. A origem da crise, no entanto, pode estar nas planícies da Rússia, devastadas por incêndios durante um verão especialmente quente.

De acordo com Ministério da Agricultura da Rússia, o fogo acabou com 25% das plantações de cereais do país, o que levou o governo a restringir a exportação desses produtos, em uma tentativa de proteger o consumo interno.

Para Asma Lateef, diretora do instituto Bread for the World (Pão para o Mundo, em inglês), baseado nos Estados Unidos, a atual crise de alimentos ainda é menos dramática que a de 2007/2008, mas também é preocupante.

- Os incêndios na Rússia deixaram a situação muito instável, sobretudo em regiões como o Leste Europeu, mais suscetíveis à falta de alimento. Isso mostra o quanto o aquecimento global se tornou um elemento desestabilizador.

A Ucrânia, também afetada pelo calor e pela seca, adotou medida semelhante à Rússia e reduziu as exportações de grãos a 3,5 milhões de toneladas até o final de ano. O país, primeiro abastecedor mundial de cevada e sexto de trigo, exportou mais de 21 milhões de toneladas de cereais entre junho de 2009 e junho de 2010.

De acordo com a entidade da ONU para a agricultura e alimentação, a FAO, a situação é mais preocupante porque acontece em um momento que, para os países pobres, ainda era de recuperação da alta nos preços dos alimentos nos anos anteriores.

Nos primeiros quatro meses de 2008, os preços das matérias-primas dos alimentos subiram 53% em relação ao mesmo período de 2007, afetando os países mais pobres e provocando revoltas na África, Caribe e Ásia.

Banco Mundial condena barreiras às exportações

Em agosto, o Banco Mundial já havia pedido aos países que evitassem a imposição de barreiras à exportação de alimentos, alegando que isso poderia provocar uma nova crise de preços.

Para a diretora-gerente do organismo, Ngozi Okonjo-Iweala, as consequências de enchentes na Índia, no Paquistão e na China também podem perturbar a distribuição.

- Não vemos uma crise ainda, e esperamos evitá-la pedindo aos países que não adotem políticas que precipitem uma crise.

O Paquistão teve uma área do tamanho da Inglaterra tomada pelas águas. Ao menos 20 milhões de pessoas foram afetadas, sendo que 12 milhões delas contam com ajuda internacional para receber comida. A ONG Oxfam chegou a dizer que o país se tornou "o maior lago de água doce do mundo".

A médica brasileira Maria Fernanda Oliva Detanico, que estava no país quando as inundações começaram, diz que o preço de alguns alimentos chegou a subir 200%.

- O nosso cozinheiro disse que o preço da carne quase triplicou em questão de cinco dias. Não tinha mais uma grande oferta de legumes. Nas ruas de comércio, isso era visível.

Mais pobres são os que mais sofrem

Segundo o Índice 2010 de Risco de Insegurança Alimentar, o Afeganistão é o país com o maior risco de falta de comida no mundo, seguido por nove países africanos, como a República Democrática do Congo (RDC) e o Zimbábue.

Para diretora do instituto Bread for the World, a solução de crises como a atual está no investimento na agricultura dos países em desenvolvimento. Nesse campo, o Brasil tem um papel importante, já que é um dos líderes na tecnologia de agricultura tropical.

Asma diz que ?em virtude da crise econômica, muitos países ricos cortaram a ajuda aos pobres, o que dificulta a situação?.

Para o economista da FAO Abdolreza Abbassian, a situação atual ainda não é de crise, mas mostra que o mundo precisa mudar a forma de produzir alimentos.

- Isso mostra um grande problema: um enorme país exportador, com grande influência no mercado, pode tomar decisões unilaterais que causam distúrbios no mercado.



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