Conflitos podem chegar à Arábia Saudita, diz analista

As consequências de uma troca de poder na Arábia Saudita, onde a mesma dinastia governa

|
FACEBOOK WHATSAPP TWITTER TELEGRAM MESSENGER

É tão crítica a situação no norte da África e partes do Oriente Médio que nem mesmo os especialistas na geopolítica da região arriscam palpites sobre os desdobramentos dos conflitos. Para os analistas, apesar de a Líbia ser a "bola da vez", é forte a tendência de que os conflitos se estendam por outros países. E a preocupação é de que eles possam chegar à Arábia Saudita, principal produtor mundial de petróleo.

"Do norte da África ao Paquistão, ninguém está a salvo" resume o professor André Reis da Silva, coordenador do curso de Relações Internacionais da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). "Se os conflitos chegarem à Arábia Saudita (para onde já foi marcado um "dia de fúria" em 11 de março), a sineta que está tocando vai se transformar em um alarme", completa a professora de História Contemporânea da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS), Cláudia Musa Fay.

As consequências de uma troca de poder na Arábia Saudita, onde a mesma dinastia governa o país desde a sua fundação, em 1930, são "incalculáveis" na opinião dos especialistas. Não apenas pela questão do petróleo, já que hoje o país é governado por uma ditadura amiga do Ocidente. Derrubar o regime teria sobre os vizinhos um efeito bem mais intenso do que o fim das ditaduras na Tunísia e no Egito porque na Arábia existe uma monarquia, e acabar com um sistema inteiro costuma ser mais complexo do que interromper um governo. E, por isso, uma vitória daria aos que clamam por mudanças na região ainda mais força.

O fato de existir uma monarquia no país e as dificuldades de substituição do sistema, por outro lado, podem também ajudar a frear os distúrbios. Além disso, na tentativa de acalmar os ânimos, o idoso rei Abdullah (87 anos, e que retornou ao país na semana que passou após três meses fora em tratamento médico) anunciou um pacote de ações que beneficiam a classe média e o funcionalismo público.

"Mesmo com o maior grau de dificuldade, sempre se pode lembrar o exemplo da revolução inglesa no século XVIII. A instituição monarquia ficou garantida, só que com muito menos poder, e as mudanças foram feitas via gabinete dos ministros", alerta Reis da Silva.

Por enquanto, as atenções continuam a recair sobre a Líbia. Mas, para além dos domínios do ditador Muammar Kadafi, a situação é considerada crítica em pelo menos 10 países, com diferentes graus de tensão. Como, desde o princípio, os conflitos atingem tanto ditaduras aliadas aos Estados Unidos como adversárias, um Ocidente cauteloso se pergunta o que esses países têm em comum além do baixo grau de democracia e da religião, e como os protestos se espalharam de forma tão rápida.

Fatores conjunturais e estruturais explicam a expansão dos distúrbios Além das questões históricas, como o fato de os países terem sido alvo do imperialismo durante um extenso período. A professora Musa Fay destaca o fato de, atualmente, eles sofrerem com os fatores econômicos, como a baixa qualidade de vida e o desemprego que atinge em grande medida inclusive a população jovem. "Falamos de países com desemprego na faixa dos 30% e com uma desigualdade social não apenas grande, mas que perdura há muito tempo. Além disso, não podemos esquecer o fator século XXI, marcado pela velocidade na circulação das informações e na facilidade de comunicação", enumera ela.

A população ocidental que não acompanha de perto a situação daquela região do planeta pode pensar, por exemplo, que Kadafi blefa ao acusar o chefe da rede Al-Qaeda, Osama bin Laden, de alimentar os protestos na Líbia. O professor Reis da Silva explica que o ditador retoma uma disputa histórica na região, onde três grandes correntes de opinião se engalfinham desde o século passado. Elas incluem os nacionalistas, representados em diferentes países pelo partido Baath e por governantes como o próprio Kadafi ou o ex-ditador do Iraque, Saddam Hussein; os fundamentalistas islâmicos (que encontram expressão na Al-Qaeda e no Hezbollah, e que em determinados momentos foram patrocinados pelos Estados Unidos); e os pró-ocidentais (que incluem representantes das elites locais e os governos de alguns dos países).

"Durante a invasão do Iraque, em 2003, muitos governos tiveram que "segurar" suas populações, que se manifestavam contra a intervenção ocidental, e aí estas questões de hoje já apareciam. Da mesma forma como aparecem em relação a cada ação de Israel que, neste momento, não pode fazer nenhum movimento brusco. Desde o século VIII é muito forte esta concepção de solidariedade para com o irmão islâmico que está sofrendo. A concepção de grupo no islamismo é completamente diferente da ocidental", assegura o professor.

Para além dos motivos dos distúrbios, os especialistas se debruçam agora sobre seus desdobramentos em termos de política interna. Reis da Silva chama a atenção para o papel que pode ser desempenhado pelos exércitos, já que são eles que podem aparecer como a força "moderada". "No caso da Líbia, por exemplo, têm chamado a atenção estas dissidências. Para os Estados Unidos, se o exército assumir, o dano é menor do que se a população pegar o poder porque ela é francamente anti-Ocidente." O caso do Egito dá ainda mais força às projeções.



Participe de nossa comunidade no WhatsApp, clicando nesse link

Entre em nosso canal do Telegram, clique neste link

Baixe nosso app no Android, clique neste link

Baixe nosso app no Iphone, clique neste link


Avalie a matéria:
Tópicos
SEÇÕES