Ex-presidente argentino diz como matou e sumiu com 8 mil corpos

Jorge Videla está preso desde 2010 devido aos crimes cometidos no período em que comandava a ditadura militar no país

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Jorge Videla foi presidente da Argentina entre 1976 e 1981. Ex-ditador, está preso desde dezembro de 2010 por crimes cometidos durante o período em que esteve à frente da ditadura militar.

Há um ano, o jornalista argentino Ceferino Reato conseguiu entrevistar o general. ?Eu estava na prisão, onde está Videla, e entrevistava outros militares presos também por crimes contra os direitos humanos, já que eu estava escrevendo um livro sobre os anos 70. E na saída, quando acabou o horário de visitas, eu vi Videla se despedindo da mulher dele. Eu me apresentei, e, para minha surpresa, ele me deu uma entrevista. Eu pensava que, no máximo, ele poderia me responder algumas perguntas por escrito. Mas percebia que ele tinha vontade de falar. E nesse momento, faz um ano, ele tinha 86 anos e tudo indicava que ia passar o resto da vida na prisão. Suponho que, por isso, foi uma grande casualidade?, conta Reato.

A vontade do ex-presidente de falar era imensa. O jornalista voltou outras vezes à prisão para dar continuidade à entrevista. ?A primeira entrevista durou três horas e meia. Não podia gravar, porque não se podia entrar com gravador na prisão. Então, eu tomava notas. E depois, em casa, as passava a limpo. E na outra sessão, digamos, eu entregava-lhes as notas, porque queria escrever somente ?entre aspas? o que ele queria dizer. Que não fossem declarações aleatórias, mas pensadas, motivadas. Só depois ele me devolvia seus escritos, até assinados, com algumas questões e correções?, diz o jornalista.

A declaração sobre a quantidade de mortos no período da ditadura foi dada na primeira entrevista. Videla admitiu que o regime matou entre sete mil e oito mil pessoas e desapareceu com os corpos para não causar uma comoção interna e internacional. ?Ele tem um estilo muito frio de contar as coisas. Creio que vive no próprio passado, como um chefe militar que liderou o que considera uma guerra vitoriosa contra as guerrilhas, contra a subversão, como ele disse. Ele se acha um vitorioso porque era isso que teria que fazer?.

Videla revelou que o país se dividia em províncias, que estavam a cargo de um chefe militar que tinha autonomia para escolher como matar e como eliminar os corpos. ?Havia vários métodos para desaparecer com os corpos. Por exemplo, atirar os corpos no mar ou em rios. Arremessá-los de avião ou de helicópteros. Enterrá-los em lugares clandestinos, em fossas comuns ou individuais. Às vezes, em cemitérios, mas às vezes na província de Córdoba, em lugares descampados, fora das cidades. Outros eram queimados em fornos, ou eram eliminados por fogo: se utilizavam pneus velhos de veículos e dentro se metia o corpo e se incendiava tudo?.

Tais declarações fazem parte do livro ?Disposição Final - uma analogia à solução final?, escrito por Ceferino Reato. No Brasil para o lançamento, o Jornalista concedeu a entrevista à Miriam Leitão na Livraria da Travessa. Veja no vídeo, a íntegra do programa.



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