Médica brasileira encara guerra civil líbia e trabalha em Misrata

Natural de Niterói (RJ) esteve na cidade com os Médicos Sem Fronteiras.

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Carolina Batista (quarta da esquerda para a direita) com estudantes de medicina líbias que ajudou a treinar. | Arquivo Pessoal
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Enquanto os estrangeiros residentes na Líbia deixam o país em massa por causa da guerra civil, a médica Carolina Batista, de Niterói (RJ), ofereceu-se para viajar a Misrata, uma das cidades mais atingidas pelo conflito, para tentar ajudar suas vítimas. Integrante dos Médicos Sem Fronteiras (MSF), ela coordenou, entre meados de junho e meados de julho, o trabalho de sua organização na localidade portuária, que está em poder dos rebeldes que lutam contra o regime de Muammar Kadhafi.

Carolina conta que encontrou na Líbia um quadro bem diferente do que costuma ver nos países para os quais viajam os MSF. Geralmente são nações extremamente pobres e com infraestrutura muito precária. A Líbia, contudo, tinha um Índice de Desenvolvimento Humano maior que o do Brasil antes do início da guerra e um sistema de saúde relativamente bem estruturado.

?Havia médicos líbios muito qualificados, com residência no exterior. Eles tinham hospitais muito equipados, com material de muita qualidade?, conta. No entanto, os trabalhadores auxiliares, em muitos casos, eram estrangeiros e saíram do país. ?Técnicos, paramédicos, fisioterapeutas - as pessoas foram embora para seus países, como Bangladesh, Filipinas?. Os médicos locais, como relata a brasileira, ?subitamente se viram num deserto, sem acesso a nada?.

Assim, os MSF se concentraram em treinar mão-de-obra local para ajudar os médicos em três diferentes hospitais. ?Desde o começo, os alunos de medicina, em alguns casos até se mudaram para os hospitais para ajudar?.

Isolamento

A logística para receber suprimentos também é problemática em Misrata. Com a zona de exclusão aérea determinada pela ONUI, tudo precisa chegar por navio. Os MSF em si tiveram de voar até Malta para então navegar 30 horas pelo Mediterrâneo em direção à cidade.

Carolina conta que viu pouco da vida cotidiana em Misrata. Ela e seus colegas seguiam regras de segurança estritas, deslocando-se apenas entre os hospitais que atendiam e uma casa alugada ? e protegida por sacos de areia ?, onde dormiam.

Evitar as ruas não era excesso de zelo. ?Uma vez a gente estava indo para o hospital e uma bomba caiu muito perto do carro. Mais de uma vez estávamos trabalhando e ouvíamos tiros e bombas. No começo você fica com medo, depois você se acostuma. A gente acaba confiando na reação das pessoas no local ?, explica.

Ela conta que, com o acirramento do conflito, os pacientes com doenças não relacionadas com a violência acabavam sendo deixados de lado para que houvesse prioridade aos feridos. Uma das ações dos MSF em Misrata foi reforçar o atendimento a esses negligenciados. ?Tivemos mais de 500 partos em um mês. Era bom ver que estávamos conseguindo atender esse tipo de problema?, lembra Carolina.

Mas o conflito armado acaba fazendo muitas vítimas entre as pessoas que não estão engajadas em combate. ?Tinhamos pessoas que vinham diretamente do campo de batalha, mas vi muitas vezes crianças que perdiam braço, perdiam olho. É muito triste ver isso. Você acha que a guerra vai afetar só os soldados, mas vê que todos são afetados?, lamenta.

Carolina foi substituída por outro brasileiro, Sérgio Cabral, na liderança da missão dos MSF em Misrata.



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